por Percival Puggina em 07 de abril de 2008
Resumo: Nossos códigos, em vez de expressar a vontade social, refletem os devaneios utópicos de pessoas que contemplam a realidade através de uma luneta, sentados à borda de uma cratera lunar.
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Lá é assim: dura lex sed lex. Tivesse o fato ocorrido aqui no Brasil, tenho certeza de que não faltariam, no dia seguinte, fotos do episódio, acompanhadas de comentários a respeito da brutalidade do policial e de seu aparente desinteresse sobre o estado de saúde do infrator. O péssimo resultado de toda essa benevolência e dos muitos jeitinhos legais, policiais e processuais é o que vemos por toda parte em nosso país. Papagaio foi preso novamente, mas não faltará quem o devolva ao semi-aberto.
Essa história de querer policiais de perfil suíço para lidar com a selvageria característica de certos grupos sociais e de determinados bairros das nossas cidades, é devaneio de intelectual. É um disparate semelhante ao que vivemos no Rio Grande do Sul ao tempo do governo petista, quando as autoridades da Segurança Pública reservavam seus piores adjetivos para a polícia e sequer sussurravam aos bandidos algo que ficasse parecido com uma advertência.
Na Suíça, os atenciosos policiais orientam o trânsito, prestam informações turísticas em pelo menos dois idiomas e sua necessidade de recorrer à violência é semelhante à de um bispo da Basiléia. Penso que os dois exemplos - o relatado por Carrion Júnior e o que se observa na terra dos cucos - servem para demonstrar que determinados critérios não são aproveitáveis por realidades diferentes. A cortesia da autoridade policial suíça seria considerada frescura no morro do Vidigal e o delegado que resolvesse entrar numa favela brasileira, sem portar armas e sorrindo para todo mundo, acabaria seviciado.
Isso que estou escrevendo é senso comum. Poucos brasileiros discordam do que afirmo. No entanto, por uma dessas coisas que ninguém explica, nossos códigos, em vez de expressar a vontade social, refletem os devaneios utópicos de pessoas que contemplam a realidade através de uma luneta, sentados à borda de uma cratera lunar. Para eles, quem quer que tenha jogado aquela infeliz menina do sexto andar merece ser admoestado. Mas quem o faça deve medir as palavras para não criar traumas.
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