segunda-feira, 16 de março de 2009

Você tem uma filha de 9 anos???

Segunda-feira, 16 de Março de 2009

Blog do Clausewitz

Minha posição quanto ao caso da menina pernambucana estuprada e submetida a um aborto na semana passada foi com certeza contrário ao que muita gente boa esperava de mim, mas penso que as ações da mãe em autorizar o aborto e por conseguinte, a ação dos profissionais de saúde foram as mais acertadas, por mais que presumivelmente a gravidez não viesse a acarretar danos à saúde da criança, o que eu duvido... já escrevi dezenas de vezes que não sou favorável ao instituto do aborto, sendo moralmente desfavorável, mas este caso em tela era especial e só quem tem lastro para falar alguma coisa - que sim ou que não - é quem é pai e mãe...

Não estou discriminando quem não foi bafejado por Deus com a maternidade e com a paternidade, mas é que quem não é poderá ter formulações a este respeito baseadas em achismos, jamais em realidades... da totalidade dos seres humanos que vêm com esta missão divina de criar filhos, passando por todos os processos, por todas as fases, desde a concepção que presume-se ser algo baseado no amor, raros são os brutos de coração que querem o mal aos seus rebentos, que justificam em última análise a continuidade de suas vidas aqui na terra...

Dito isto, raciocinemos e confirmaremos que dificilmente veremos um pai e / ou uma mãe quererem o pior para sua prole, não confundindo esta minha linha de raciocínio com o mau tratamento, que muitos responsáveis utilizam deste expediente ultrapassando a lógica e os limites da rigidez da educação... mas dificilmente veremos um pai e / ou uma mãe querer ver um filho morto ou praticar o ato extremo... portanto, neste caso da menina de Pernambuco, os não pais e as não mães guardem para si as suas noções de sacrário e seus radicalismos dogmáticos que os levaram a apoiar o aborto sem bases sentimentais ou apoiar o bispo com bases puramente religiosas...

Você já teve uma filha de 9 anos??? esta pergunta reduzirá o universo de quem poderá opinar sobre o caso da menina pernambucana a um percentual bastante reduzido, pois a lógica determinará que mesmo as mulheres sendo maioria no Brasil, nem todo casal com filhas já chegou na fase etária que esta criança está... reduzido o universo de quem poderá dar pitaco, pergunto eu para este pessoal: você, visitante pai ou mãe de uma mulher com 9 anos de idade (digamos que é sua filha casada que um dia você a viu nesta idade), que teria sido estuprada por um maníaco, você teria coragem de manter nela esta gravidez em nome de um princípio moral de respeito à vida ou a vida de sua menina seria mais importante???

Ponha no caldeirão de suas reflexões que você, neste caso hipotético - não tão hipotético para a ignorante mãe de Pernambuco - foi também responsável pelo assédio que sua filhinha foi vítima, porque de algum modo você facilitou a possibilidade do criminoso apressar de uma forma brutal e assassina a cronologia daquele ser que você amamentou, acordou noites a fio para limpar o cocô, ensinou o bêabá, acalentou nas noites escuras da insegurança, cuidou com amor nos momentos de enfermidade, etc... enfim, sem entrar na lamentável participação do bispo Cardoso, li coisas absurdas nestes dias pela pena de todo tipo de gente, algumas defendendo o aborto por serem abortistas e outras defendendo a continuidade da gestação por serem anti-abortistas...

Algumas defendendo o aborto por serem cegamente contrárias aos dogmas católicos, enquanto outros defendiam cegamente a atuação do bispo por entenderem que ele é o representante de Deus e por isso teria a pretensa autoridade da excomunhão... e a menina de 9 anos, algum advogado, promotor ou juiz intelectual do caso pensou nela??? algum desses que se aventuraram a apoiar ou reprovar ambas as partes tem uma filha de 9 anos??? alguém desses "pitaqueiros" sabe o mistério divino que envolve uma mulher no final da infância e início da adolescência??? você tem ou teve uma filha de 9 anos??? se não, amigo, lhe resta ler o brilhante artigo de Antonio Ribeiro para a revista Veja, em especial o último parágrafo e procure entender, na sua cegueira justificável que a vida é inegociável, principalmente quando a amamos e quando ela já está próxima de completar 10 anos...

“São outros que merecem a excomunhão”

"Em artigo no Osservatore Romano, jornal do Vaticano, o presidente da Academia Pontifícia para a Vida, o cardeal Rino Fisichella, um dos mais próximos conselheiros do papa Bento XVI, escreve sobre o anúncio de excomunhão da equipe médica que praticou o aborto na menina pernambucana de 9 anos e 35 quilos, grávida de gêmeos, depois de ser estuprada pelo padrasto. “São outros que merecem a excomunhão e nosso perdão, não os que lhe permitiram viver e a ajudarão a recuperar a esperança e a confiança, apesar da presença do mal e da maldade de muitos", diz ele.

O cardeal Fisichela maior autoridade eclesiástica em bioética diz que o Arcebispo Metropolitano de Recife e Olinda, dom Jose Cardoso Sobrinho (entrevistado da jornalista Juliana Linhares na edição de VEJA esta semana), colocou em risco a credibilidade da Igreja. “Era mais urgente salvaguardar a vida inocente e trazê-la para um nível de humanidade, coisa em que nós, homens de igreja, devemos ser mestres. Assim não foi e infelizmente a credibilidade de nosso ensinamento está em risco, pois parece insensível e sem misericórdia."

Segundo o cardeal, a equipe médica merece respeito por agir de forma profissional em uma situação delicada: “É uma decisão difícil para os médicos e para a própria lei moral. Não é possível dar parecer negativo sem considerar que a escolha de salvar uma vida, sabendo que se coloca em risco uma outra, nunca é fácil. Ninguém chega a uma decisão dessas facilmente, é injusto e ofensivo somente pensar nisso."

Nos escrevemos aqui que a questão médica precedia o debate sobre o aborto. Uma sociedade que caminha na precipitação de uma indignação à outra sem dar o devido tempo para reflexão corre o risco de se enganar com frequência. Foi o caso da advogada Paula Oliveira, seguiu a excomunhão da equipe médica. A bola da vez é da história triste do menino Sean Ribeiro Goldman."

Fonte: Veja

Clausewitz

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