sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Entrevista com Marcos Cavalcante

Mídia Sem Máscara

O que causa muita estranheza é o fato de esta investigação estar sendo conduzida esse tempo todo dentro de uma delegacia onde a Magda tem dois amigos delegados lá, entendeu?

Entrevista com Marcos Cavalcante, realizada em 24 de dezembro de 2009 por Nivaldo Cordeiro.

Pergunta: Fale um pouco do suposto suicídio de seu irmão, Marcelo Cavalcante.

Marcos: Eu vejo da seguinte maneira: eu e a minha família, a gente vê que todos os indícios da morte do Marcelo não apontam para um suicídio, apontam para um homicídio. Nós vemos que não está apresentando nenhum quadro de suicídio para ninguém, nem para a família e nem para os amigos, inclusive na data ele foi visto por um amigo dele, num bar chamado Só Drinks, na Asa Norte aqui em Brasília, confidenciando o plano dele de carnaval, que seria na semana seguinte e que a gente estaria indo para o camarote da prefeitura do Rio de Janeiro. Depois ele foi visto por um amigo dele na ponte, entendeu? Um tempo depois o amigo dele não viu mais, não avistou mais. Depois desse horário o amigo dele não teria visto mais ele. Apareceram duas ligações do aparelho dele, às 14:23 e 14:29 na caixa postal. E isso não seria possível já que estaria morto no lago.

Pergunta: Seu último contato pessoal com ele foi quando?

Marcos: Conversei com ele ao telefone no dia 05 de fevereiro, dez dias antes.

Pergunta: Seu irmão fazia confidências para você?

Marcos: Antigamente sim, depois que ele passou a ter relacionamento com a Sra. Magda ele se distanciou. Ia a todos os encontros com a família e depois que ficou muito ocupado com o trabalho no governo ele deixou de ser mais confidente.

Pergunta: Como é que você vê o trabalho policial na investigação e na conclusão desse processo?

Marcos: Muito estranho, muito estranho mesmo. Tentei prestar depoimento na 10ª Delegacia de Polícia, onde o caso está e em mais de dez meses não consegui ser ouvido uma única vez. Depois que tive acesso a algumas coisas. Há várias contradições da viúva, da Magda. Eu tentei prestar meus esclarecimentos lá e eu não consegui mais prestar. Estão aguardando o laudo da morte do meu irmão. O primeiro laudo foi inconclusivo, não apontou a causa da morte. Tinha hematomas no rosto. Há várias contradições e a polícia infelizmente não investiga a Magda, não sei porque motivo.

Pergunta: Você atribui esse comportamento da polícia a que?

Marcos: Não sei. Só acho estranho. Não sei, não posso falar a que posso atribuir. Eu acho uma coisa muito estranha, a Magda não está sendo investigada. Todo mundo naquela suspeita, naquela suspeita... Por causa das contradições dela o tempo inteiro e não se investiga ela, não ouvindo a nossa família. A imprensa, desde que nossa família passou a suspeitar da Magda, parou de dar ouvidos para a gente. Muito estranho.

Pergunta: Existe alguma relação partidária com a morte do seu irmão, da governadora do Rio Grande do Sul ou da oposição a ela?

Marcos: Quanto ao envolvimento partidário do governo do Rio Grande do Sul eu não acredito. A oposição aí é que a gente tem dúvida, porque tudo que estão falando, de delação premiada, de proteção a testemunha... Marcelo nunca falou sobre isso e se tivesse acontecido isso a primeira pessoa que ele teria falado seria com meu pai. Ele nunca falou isso. Tem alguma coisa muito estranha aí.

Pergunta: Você não acredita que o Marcelo tenha procurado o recurso da delação premiada?

Marcos: Com certeza não, com certeza não (enfático).

Pergunta: E de onde surgiu essa história? Quem é que confirmou isso?

Marcos: A oposição que começou a falar depois da morte do Marcelo, não sei se a Luciana Genro, a deputada, o pessoal do Psol lá do Rio Grande do Sul, o pessoal da oposição. Acho que foi esse pessoal, eu não sei.

Pergunta: Que tipo de envolvimento poderia ter a Luciana Genro com esse episódio?

Marcos: Não sei que tipo de envolvimento, agora eu vi ela falando, em entrevistas dela, que o Marcelo iria fazer delação premiada. Uma pessoa que vai fazer delação premiada ela pensa em estender a vida e não abreviar a vida. Um caso de suicídio, igual que foi falado, é incoerente com a informação de que no dia 04 ou 05 de março haveria depoimento. Isso nunca foi confirmado pelo Ministério Público esse negócio de delação premiada. É muito estranho ter saído isso na mídia só depois da morte dele. Ele nunca falou essa palavra para mim.

Pergunta: Como o caso dos escândalos do Rio Grande do Sul envolveu a Polícia Federal, porque ela não se envolveu na investigação da morte do seu irmão?

Marcos: Isso é uma coisa que chama a atenção, ela deveria ter se envolvido, deveria ter aprofundado as investigações, já que no começo ela mostrou interesse grande de participar dessa investigação e de repente aqui em Brasília ela foi parada, lá no Estado do Rio Grande do Sul está parado, está tudo parado, aguardando negócio de quebra de conta bancária, não sei o que mais, é de se estranhar uma investigação que está sendo conduzida somente pelo lado de suicídio, há dez meses dentro de uma delegacia e não se encerra. Um afogamento é um afogamento, o laudo deu que a causa da morte foi inconclusiva, é de se estranhar que o laudo tenha sido inconclusivo e que ninguém tenha desconfiado de ninguém. Os depoimentos da nossa família, as contradições dessa Sra. Magda, que foi intitulada pela mídia como viúva. Isso tudo é muito estranho.

Pergunta: Seu irmão era um homem que circulava nas esferas de poder. Seu irmão deixou fortuna?

Marcos: Meu irmão nunca teve dinheiro, nunca foi um homem de dinheiro, sempre tinha as contas deles pagas em dia, depois do convívio dele com a Magda foi noticiado, no começo da investigação, pelo delegado, fato noticiado pela mídia impressa, que o Marcelo estava com uma dívida de R$ 300 mil, R$ 100 mil no Banco do Brasil, R$ 100 no Banrisul... e de repente alguém foi lá na delegacia e ninguém nunca mais comentou nada de dívida. Fiquei sabendo que o meu irmão pagava um aluguel da casa que ele morava com a Magda de R$ 3.500,00 e que quando a gente conheceu essa casa, essa casa foi apresentada para a gente como uma herança da Magda, da partilha do ex-casamento dela. Isso é muito estranho, todo mundo em Brasília pensava que a casa era da Magda e a gente descobriu que não era. O carro que a Magda anda, um Ecosport, foi refinanciado no nome do Marcelo, logo no começo do relacionamento deles. Estava com ordem de busca e apreensão este carro. Até hoje ela circula com esse carro, mesmo esse carro estando com ordem de busca e apreensão. Isso tudo é muito estranho.

Pergunta: Então você está dizendo que seu irmão morreu pobre, é isso?

Marcos: Morreu completamente quebrado e endividado e ele não era assim antes de conhecer essa Sra. Magda. Ele não tinha dívidas, pagava suas contas em dia.

Pergunta: Na época da morte dele, qual era a atividade profissional que ele exercia?

Marcos: Ele trabalhava no gabinete do deputado Federal Claudio Diaz, do PSDB do Rio Grande do Sul, aliado da governadora Yeda Crusius.

Pergunta: E qual era a atividade específica dele?

Marcos: Acho que ele fazia os acompanhamentos junto aos ministérios, essa parte de assessoria parlamentar.

Pergunta: Como você vê essas ligações políticas em torno da morte do seu irmão? Como você avalia isso?

Marcos: O que causa muita estranheza é o fato de esta investigação estar sendo conduzida esse tempo todo dentro de uma delegacia onde a Magda tem dois amigos delegados lá, entendeu? Isso gera uma coisa de desconfiança. Essa investigação poderia ter saído de lá da 10ª Delegacia de Polícia e ter ido para uma delegacia especializada. A gente procurou a assessoria do governador e a assessoria do governador pediu para a gente procurar a delegada Sandra, na 10ª DP, uma delegada que é amiga da Magda, que anda com a Magda aqui em Brasília. Isso causa uma estranheza muito grande para a gente.

Pergunta: O caso foi de grande repercussão, envolvendo um grande número de pessoas. Por que até agora não teve uma conclusão?

Marcos: É estranho também, a mídia local aqui não publica nada, o governo aqui do Arruda e do Paulo Octávio é do Democratas, o vice-governador lá do Rio Grande do Sul também é do Democratas. A governadora uma vez veio aqui em Brasília, acho que em 13 maio, conversar com o Arruda, pedindo que ele acelerasse a investigação e nada aconteceu. Isso também causa uma estranheza muito grande, entendeu? Os indícios, todos esses indícios. O fato que a gente coloca é que o Marcelo foi assassinado, o hematoma no rosto dele, o laudo ter sido inconclusivo, não ter se constatado afogamento. Aí depois o promotor querer fazer uma segunda perícia nesse laudo. Laudo é só um. O laudo do IML de Brasília é um dos mais confiáveis do país. Se este laudo deu como morte inconclusiva tem alguma coisa estranha acontecendo. Um afogamento é simples de ser confirmado como afogamento.

Pergunta: Pode falar um pouco desse encontro do seu irmão com a Sra. Magda? Como é que eles se conheceram? Você tem informações sobre isso?

Marcos: Quando o Marcelo conheceu a Magda ele tinha separado da Sueli, estava morando sozinho, eu sei que ela disse que conheceu ele no dia primeiro de dezembro. Quando a gente foi conhecer foi numa festa de família, foi no final de dezembro, não me lembro a data. Segundo os depoimentos dela agora, recentes, que a gente teve acesso, Nos dois depoimentos dela ela disse que conheceu o Marcelo no dia primeiro de dezembro e quatro dias depois já moravam juntos, maritalmente. Um fato também assim meio estranho. Para uma pessoa como Magda, que convivia com três filhos na casa e tal e de repente conhecer uma pessoa e quatro dias depois foram morar juntos.

Pergunta: Seu irmão fez algum comentário sobre isso?

Marcos: Não. Nunca comentou, só apresentou a gente numa festa que teve e já estava com ela, mas não confirmou como foi o relacionamento. Isso aí eu fiquei sabendo através do depoimento da Magda dado à polícia

Pergunta: O que você sabe dessa Sra. Magda? Ela trabalha com o que? Qual a história dela?

Marcos: Ela fala que tem uma revista, chamada Sras. e Srs. Antigamente essa revista estava até na Internet. Ela tinha um patrocínio enorme, um banner da Petrobras, que é ligada ao governo federal e não ao governo do PSDB. Aí depois de algumas informações, esse site foi tirado do ar. A página não está mais na Internet. E não sei de que é que ela vive, diz que é da revista dela, mas ela não circula mais há muitos meses. Ninguém sabe quando é que foi a última edição. É estranho também, eu não sei.

Resposta: No noticiário sobre o episódio circularam informações sobre o comportamento não convencional da Sra. Magda. O que você sabe sobre isso?

Marcos: Quanto a isso aí eu nem posso nem falar, eu estranho ela falar que... Sei que ela viaja muito, vai muito ao Rio de Janeiro, ela diz que vai fechar contrato com o governo, com a Petrobras. A Petrobras não é ligada ao governo do PSDB. Eu não sei qual que é o fundo dessas muitas idas dela ao Rio de Janeiro, para tratar de assuntos relacionados à Petrobras. É muito estranho, eu não sei.

Pergunta: Parece que a Sra. Magda tem uma militância religiosa intensa, com a Igreja Sara Nossa Terra. O que você sabe sobre isso?

Marcos: O que eu sei é que ela não era da Sara Nossa Terra, ela não era dessa igreja, e poucos meses antes, acho que a partir de novembro passou a freqüentar essa Igreja, com meu irmão também. Foi uma coisa bem no final da vida do Marcelo, acho que a partir de novembro, nos últimos três meses de vida dele. Não sei. A questão é meio estranha também.

Pergunta: Qual é a atividade dela nessa igreja?

Marcos: Não sei. Eu sei que ela tem um irmão que é pastor dessa igreja. Tem a cunhada dela que é pastora nessa igreja. Essa igreja é aquela mesma igreja de onde vem o deputado distrital aqui de Brasília, Leonardo Prudente, que foi pego colocando dinheiro nas meias no escândalo do Arruda.

Pergunta: É verdade que essa igreja tem ligação com o vice-governador Paulo Octávio?

Marcos: Parece que o vice-governador Paulo Octávio é um dos cabeças da Igreja Sara Nossa Terra. É um dos donos dela, aqui em Brasília.

Pergunta: Então podemos dizer que há alguma ligação entre a Sra. Magda e o vice-governador?

Marcos: De repente, é, não sei qual o grau de amizade do vice-governador com a família da Magda, já que ela tem um irmão pastor, o cunhado é pastor, aí tem que ser investigado, era bom ter uma investigação, saber alguma coisa a partir disso aí.

Pergunta: Existe mais alguma informação importante que queira dizer?

Marcos: A gente está aguardando, o pessoal não tem coragem de encerrar. Todos nós sabemos que está quase certo que vai encerrar como suicídio e que está tendo várias medidas de protelação, não sei porque, né? Está muito estranho, uma investigação de suicídio não demora dois meses, entendeu? E essa está com esse tempo todo e os indícios que o promotor e a delegada falam é que é de suicídio e a família toda e todo mundo em Brasília vê que os indícios são de homicídio e a gente quer aguardar esse encerramento para poder responder isso aí.

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