Papéis avulsos – Heitor de Paola
MP X SEM-TERRA
Como o MST tramou a reação
Não houve festa. Mas a direção gaúcha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está apontando a desistência do promotor Gilberto Thums de enfrentar politicamente a organização como a primeira vitória do Abril Vermelho – mês usado para demonstrações públicas contra a política agrária do governo federal. A desistência será exibida como um trunfo na reunião que deverá ocorrer na próxima semana em Palmeira das Missões, no norte do Estado, entre o MST e seus aliados políticos.
Toda a estratégia dos sem-terra foi montada para provar que, ao conseguir proibir, em fevereiro, o funcionamento das escolas itinerantes nos acampamentos, o promotor agiu levado por motivos políticos, e não técnicos. Foram abertas duas frentes de batalha: uma na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa – que, na época, era presidida pelo deputada Marisa Formolo (PT) – e a outra na articulação política com organizações de direitos humanos e defesa dos pobres ao redor do planeta – que tem como uma das coordenadoras Ivonete Tonin, a Nina, um das mais experientes líderes do MST.
Marisa ligou-se a Adão Pretto (PT), deputado federal falecido em fevereiro, um dos mais influentes políticos nacionais gestados pelo MST. O papel de Pretto era a conexão com o Ministério da Educação, um dos setores governamentais onde se aloja uma boa quantidade de simpatizantes do movimento.
Comissão Pastoral montou rede internacional de pressão
Ontem, a deputada lembrou que o maior argumento usado pelo promotor – de que alunos poderiam ter acesso a um ensino de melhor qualidade nas escolas municipais – foi desmontado com afirmação de vários prefeitos de que não teriam condições de atender às crianças dos acampamentos.
Enquanto os deputados lutavam nos meandros da burocracia oficial, Nina andava com as crianças pela mão nas salas do Ministério Público do Estadual, mostrando o outro lado desse questão: os alunos que iriam ficar sem aula. Ela teve um auxílio fundamental da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que encarregou-se de montar uma rede ao redor do mundo que inundou a caixa eletrônica do promotor de e-mails. No meio da luta, ficou de lado uma questão importante: o debate do conteúdo do que é ensinado nas escolas itinerantes.
Publicado em ZERO HORA
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