quarta-feira, 13 de maio de 2009

João Camilo de Oliveira Torres: (mais um) gigante esquecido

Mídia Sem Máscara

João Camilo foi uma espécie de Mário Ferreira da historiografia nacional. Um legítimo herdeiro da melhor tradição neoescolástica: a escuela de Salamanca. Autor de pouco prestígio no Brasil, mas de grande percepção da realidade brasileira, como fica claro em sua obra Interpretação da Realidade Brasileira.

O Brasil é um país em que parte da sociedade universitária odeia seu passado e seus gênios. Inúmeros intelectuais brasileiros restaram ilustres desconhecidos no país do estabilishment mane molente, como diz o gremista Peninha. Para ser intelectual no Brasil, só se o sujeito professar a fé comunista, ou então ser um sujeito de vida e pensamento marcadamente relativistas. Cristãos e todos aqueles que partem de uma fundamentação transcendente para a constituição de seus pensamentos são esquecidos como loucos. Assim, grandes pensadores nacionais foram abandonados: Gilberto Freire, José Pedro Galvão de Sousa, Mario Ferreira dos Santos, Guerreiro Ramos, Gustavo Corção, etc.

Nesse artigo gostaria de prestar públicas homenagens ao ilustre historiador mineiro João Camilo de Oliveira Tôrres. Conheci a obra de João Camilo no início de meus estudos na faculdade de Direito, por influência direta do professor e mestre Cezar Saldanha Souza Junior.

O professor Cezar Saldanha sempre deixou claro que João Camilo tratava-se de gênio de proporções inacreditáveis, o que sempre acreditei com absoluta convicção. Porém, minha leitura naquela época era a de um leitor mirim, sedento por conhecimento tanto de nossas instituições quanto por nossa maravilhosa cultura nacional. O jeito simples, mas complexo, o jeito mineiro pão de queijo, mas de um erudito, o estilo do funcionário público da previdência, mas de um autêntico scholar, mostram apenas um pouco do estilo paradoxal de nosso ilustre pensador.

É triste perceber as academias jurídicas nacionais lotadas de obras dos cientistas políticos da USP, acostumados no elegante e artificial estilo francês de exposição. Há uma sofística instaurada em nossas universidades, que desconhece completamente seu passado, mas que levanta o dedo com veemência para criticar e falar mal do Brasil. São marxistas de luxo como diria meu avô.

João Camilo foi uma espécie de Mário Ferreira da historiografia nacional. Um legítimo herdeiro da melhor tradição neoescolástica: a escuela de Salamanca. Autor de pouco prestígio no Brasil, mas de grande percepção da realidade brasileira, como fica claro em sua obra Interpretação da Realidade Brasileira.

Um homem que conheceu o império com o mesmo detalhismo de um Pimenta Bueno. Em sua monumental Democracia Coroada, expõe a natureza do Poder Moderador entre nós, bem como sua necessária permanência como símbolo de nossa nação, que à época ainda encontrava-se em plena formação.

O conhecido historiador era antes um filósofo da história, como deixa claro em sua Teoria Geral da História, obra de extraordinária relevância. Sua recuperação dos clássicos é de espantar: uma história tratada como palco de acidentalidades que dependem, em última instância, de uma substância permanente no seio de sua vitalidade: o Senhor Deus.

Dentre as inúmeras obras de João Camilo, uma em especial me tocou profundamente desde os tempos de faculdade: Natureza e Fins da sociedade política, em que o autor mostra que a associação política é um corpo político constituído por seu fim: o bem comum. A influência da Doutrina Social da Igreja, bem como das Encíclicas Papais na composição das obras de João Camilo é notável. Seu pensamento, me parece, foi e ainda é um renascimento do tomismo político brasileiro, abandonado há muito na área da politologia.

Assim, convoco os leitores à leitura das obras de João Camilo: essa exortação não é minha, mas do professor Cezar Saldanha, a quem sempre lembro como sendo o maior discípulo do pensamento camilista entre nós.

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