Mídia Sem Máscara
| 19 Maio 2009
Artigos - Governo do PT
De acordo com o critério presidencial, os integrantes das Farc, por exemplo, jamais levantariam boatos contra a Petrobras. É por isso que Lula nunca os classificou de terroristas.
Escrevo com a notícia de que a assim chamada oposição no Senado conseguiu as assinaturas para criar a CPI da Petrobras, envolvida em denúncias de fraudes em licitações e contratos, desvio de royalties e sonegação fiscal. O governo naturalmente tentou evitar a investigação, pois, como todos nós sabemos, o petróleo é patrimônio do povo brasileiro e não deve ser alvo de desconfiança. Apontar irregularidades na Bras preferida de Brasília é um gesto gravíssimo, meio caminho andado para se cometer crime de lesa-pátria.
De vez em quando aparecem pessoas levianas querendo informações sobre o funcionamento da Petrobras. Para saber se alguém lá dentro está roubando ou fazendo coisa parecida. Bando de petulantes! O presidente Lula sempre indignado com tal comportamento. No fim do ano passado, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) apontou problemas de caixa da Petrobras em decorrência da crise financeira internacional. Em seguida, a Folha de S. Paulo mostrou que os investimentos da estatal seriam atrasados. O presidente Lula foi curto e grosso: disse que a oposição estava “criando factóides”, espalhando o “pânico na sociedade brasileira” e praticando “terrorismo”.
Lula estava certíssimo. É terrorismo mesmo. De acordo com o critério presidencial, os integrantes das Farc, por exemplo, jamais levantariam boatos contra a Petrobras. É por isso que Lula nunca os classificou de terroristas. Os companheiros das Farc podem matar, torturar e seqüestrar, mas eles não seriam capazes de espalhar o pânico na sociedade colombiana ao cobrar informações sobre as finanças de uma empresa estatal.
Mas o povo brasileiro tem sorte. Podemos contar com a proteção de senadores como João Pedro (PT-AM), que declarou da tribuna:
“Não podemos desconhecer o componente político nesse debate. Isto aqui é uma casa política, estamos a um ano das eleições gerais e fica difícil separar a dinâmica e o emocional da agenda da eleição nesse debate. O jogo jogado na CPI é conhecido de todos e, quem está a favor da CPI, está contra a Petrobras”.
Aí está. Deixando a velha chantagem petista de lado, o que deve ser destacado na declaração de João Pedro é a confissão singela de uma prática antiga. Quem ainda não sabia fica sabendo agora: a estatal é dos políticos e está a serviço deles. O jogo jogado é o da politicagem, como está sendo demonstrado mais uma vez com o alvoroço que cerca a CPI. A indignação dos governistas não tem nada a ver com lisura, eficiência ou transparência: é só uma questão de poder político ameaçado. Estão preocupados é com os efeitos de tal ameaça no grande mercado das verbas, comissões, negociatas, barganhas e disputas partidárias. E os pagadores de impostos e consumidores que se lasquem.
Fica a sugestão para os brasileiros de bem revoltados com esse circo. Pensem pelo lado positivo: pelo menos o petróleo é nosso, o monopólio é do povo brasileiro e nosso patrimônio nunca será vendido a preço de banana para os imperialistas. Além disso, não somos terroristas para ficar desconfiando das intenções dos nossos parlamentares. Repitam esses slogans estatais e sejam patriotas. Os mensaleiros agradecem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário