quarta-feira, 13 de maio de 2009

Os focolarinos e sua economia de “comunhão” comunista

Mídia Sem Máscara

O socialismo rasteiro de Chiara Lubich não se limita apenas uma visão coletivista de sociedade. Ela mesma prega uma nova ordem mundial, calcada numa “unidade” entre nações e povos. Só que o Focolares delega esse poder de unidade à ONU, acima das autonomias nacionais.

Quando eu estava no Fórum Social Mundial, aqui em Belém, um cidadão me repassou um folhetim de um movimento católico conhecido como Focolares. Não ficaria surpreso, já que uma parte da Igreja Católica é aliada de seus inimigos e prima pela sua ruína doutrinária e institucional, com a Teologia da Libertação. No entanto, o que me chamou a atenção no folhetim foi o projeto “econômico” deles. Eu coloco entre aspas, porque o projeto parece ter saído de algum compêndio de economia soviética. Como é típico da linguagem atual de alguns movimentos da Igreja, as expressões são adocicadas, floreadas, ocas, para camuflar toda sorte de engodos. A pérola do movimento focolarino, como de sua criadora, Chiara Lubich, é a “economia de comunhão”. Mas que diabos seria isso? “Economia de comunhão” tem o mesmo sentido prático de “economia solidária” ou qualquer coisa do mesmo nível, ou seja, absolutamente nada. Ou melhor, é vulgata socialista, só que por outros métodos de retórica e prática.

Leio no panfleto: “a lição parece ser a de que a competição não pode ser a única relação mediadora entre os homens. . .”. Aí me pergunto, desde quando a competição é a única relação existente entre os homens? O resto preconiza a divisão igualitária dos lucros, dos ganhos, dos salários, como se a administração de uma empresa fosse algum milagre de abundância coletivista e não uma realocação individualizada de recursos em vários de seus setores, regulados por uma perspectiva de preços de mercado. O texto ainda diz: “a economia de comunhão está focada na força da cultura de partilha” (grifo meu). Tudo seria simples e belo se as pessoas não poupassem e dividissem tudo aquilo que acumulam. Se a tradição da Igreja Católica não seguisse o raciocínio dos monges beneditinos ou dos escolásticos espanhóis e sim o de Dona Chiara Lubich, literalmente não teríamos desenvolvimento capitalista. Seriamos uma miséria socialista sem acumulação de capital.

Chamou-me mais atenção sobre a visão negativa do lucro. Os focolarinos, tal como os marxistas, acreditam que o lucro é uma forma indireta de apropriação. Daí a dizer que os lucros devem ser “compartilhados”. Dona Lubich solta essa pérola da ignorância econômica: “Aqui deveriam nascer indústrias, empresas cujos lucros seriam colocados livremente em comum com o mesmo objetivo da comunidade cristã: antes de tudo para ajudar aqueles que estão necessitados, oferecer a eles trabalho, fazer com que não exista nenhum indigente. Além disso, os lucros servirão também para desenvolver a empresa e as estruturas da cidadezinha, para que se possa formar homens novos: sem homens novos não se faz uma sociedade nova”. Em outras palavras, o movimento Focolarino é comunista, só que com outro rótulo: comunhão!

Analisemos melhor a frase da fundadora deste movimento católico: ela crê que o lucro não tem utilidade para os pobres. Demonstra ignorar que novos empregos só são criados justamente porque as empresas lucram. Mas Dona Lubich não parece se importar muito com a eficiência de recursos: ela quer formar “homens novos”, dentro de uma gnose revolucionária herética para qualquer católico. É pior, usa expressões que são típicas dos movimentos revolucionários de esquerda, para fazer valer seus projetos. Lubich fala de uma nova teoria econômica e uma nova práxis! Porém, Chiara Lubich nos dá uma dica dessa práxis: o utópico projeto da cidadezinha de Loppiano, na Itália, cidade fundada por ela em que os focolarinos teriam bens comuns entre si, com a abolição da propriedade e mesmo da posse dos próprios salários. Na verdade, a própria Chiara tinha raízes na esquerda, já que sua família estava ligada ao movimento socialista. Uma frase revela a dubiedade de seu pensamento: “os valores que tornaram atraente o marxismo (como a solidariedade, a justiça social e a igualdade) não devem morrer, mas devem ser refundados nas suas origens evangélicas”. Há, por trás de toda uma linguagem pseudo-cristã, uma readaptação de toda a engenharia social marxista, ainda que sob a pecha de “comunhão”. Desde que os Atos dos Apóstolos foram descritos nos Evangelhos, há segmentos que caem na tentação revolucionária de moldar a sociedade dentro de ditatoriais padrões coletivistas. Não é por acaso que a Teologia da Libertação admire todos os regimes totalitários marxistas vigentes. A história não nega: todos os padrões utópicos de coletivismo são, por sua natureza, tirânicos. Em nome de propor uma alternativa ao socialismo e ao capitalismo, o movimento Focolares nos oferece simplesmente um comunismo religioso, bem ao gosto dos gnósticos valdenses da Idade Média ou dos rebeldes protestantes milenaristas da época da Reforma. Chiara Lubich é o novo Pedro Valdo da Itália. A Teologia da Libertação é a virulência fanática e apocalíptica de Thomas Müntzer. Todos eles se acham portadores do reino de Deus na Terra.

A doutrina católica é clara em reconhecer a esfera plural da sociedade, que compreende tanto os indivíduos como as instituições. O individuo é um ser autônomo, ainda que ligado por vínculos de necessidade e voluntariedade a outros indivíduos, no sentido do bem comum. Porém, essa busca do “bem comum” não nega a natureza particular do homem, que por sua essência, não é comum. Seus direitos naturais elementares estão acima de qualquer estrutura ou organização social. O bem comum não compreende a comunhão de bens e sim a comunhão de valores orientadores do convívio social. A propriedade privada é direito natural e nenhuma sociedade pode modificá-la. A destinação universal dos bens apregoada pela Igreja diz respeito ao direito dos homens de se apropriarem dos recursos da natureza, para seu uso particular, justamente porque eles não pertencem a ninguém. Se entendermos de forma definitiva o “bem comum”, dentro da perspectiva católica, é basicamente o Direito Divino e o Direito Natural. O primeiro, como princípio ordenador do universo e o segundo, como elemento ordenador das coisas, tais como elas são. O comunismo como modelo político não somente dilui o individuo na tirania da coletividade, como destrói as instituições e hierarquias valorativas necessárias que coordenam a sociedade.

O socialismo rasteiro de Chiara Lubich não se limita apenas uma visão coletivista de sociedade. Ela mesma prega uma nova ordem mundial, calcada numa “unidade” entre nações e povos. Só que o Focolares delega esse poder de unidade à ONU, acima das autonomias nacionais. Um documento focolarino, extraído de um congresso chamado “Dialogando pela paz – experiências de liberdade, igualdade, fraternidade”, de 2004, assim o relata:

“Urge reforçar a ONU e relançar o espírito da sua Carta, fundamentada na cooperação e não na competição entre os Estados. Essa alimenta a vontade construtiva, a confiança no outro, a fidelidade aos compromissos assumidos, colaboração entre partes iguais e reciprocamente responsáveis. Tal reforço deverá ser produzido através da concessão à ONU, por parte dos Estados-membros, de porções de sua soberania, com o devido e necessário suporte financeiro.

O ONU poderá, assim, tornar-se uma autoridade mundial, com poderes em relação aos países que dela fazem parte, reforçada pelo fato de ser a única entidade que pode falar em nome de todos e representar toda a humanidade. Só uma ONU assim poderá, por exemplo, curar a eterna ferida do conflito entre Israel e Palestina, garantindo a integridade do Estado de Israel e conferindo ao povo palestino a dignidade de Estado, protegendo ao mesmo tempo sua independência em nível internacional.

A existência de atribuições centralizadas na ONU em nível mundial, com efetiva autoridade sobre os vários âmbitos relacionados à vida dos povos e dos Estados, será equilibrada pelo princípio de subsidiariedade e pelo primado do direito. A subsidiariedade valorizará, por sua vez, o papel de todas as comunidades políticas, de todas as autonomias regionais ou étnicas e organismos da sociedade civil. O direito será a garantia da convivência entre todos”.

Em outras palavras, o movimento Focolares prega, nada mais, nada menos, do que a diluição das soberanias nacionais para a sujeição a uma burocracia mundial. Ou seja, a corrupta, desmoralizada e totalitária ONU. O impressionante, contudo, é o nome do congresso: destacam-se os três slogans da famigerada revolução francesa, que tanto perseguiu a Igreja Católica. O problema é que nas tais “experiências” de liberdade, igualdade e fraternidade, ninguém se lembrou de católicos guilhotinados. Tampouco dos padres e bispos, obrigados a renunciar à fé católica pela autoridade da república francesa, sob pena de perderem suas cabeças.

Um dos sintomas da crise atual da Igreja Católica é refletido em sua linguagem. Quando o clero faz concessões ao mundo em questões que são caras a autoridade da Igreja, isso mostra sinais de decadência. O catolicismo, pela sua própria história, não pode renunciar a verdade eterna de que é depositária, em favor dos desvarios e clamores do momento. No entanto, o clero atual nos oferece a fé católica como se fosse um gosto como outro qualquer, um livro de auto-ajuda, um horóscopo de jornal, uma página de bobagens do I Ching.

Até porque o “ecumenismo” pregado dentro da Igreja rebaixou sua autoridade moral, gerou dúvidas quanto às verdades que prega e diluiu a fé católica num amálgama com outras religiões. É a típica posição focolarina, que é capaz de se associar a maconheiros socialistas do Fórum Social Mundial, para pregar sua “economia de comunhão” e seu “diálogo” com outras religiões, como se a fé católica estivesse no mesmo nível do que a Igreja Universal ou a seita do Santo Daime. Como se a fé católica pudesse conciliar seus valores com os partidos de esquerda.

A expressividade do clero é tosca, a fala é dúbia, insegura, medrosa e a autoridade é pusilânime. Quem tiver a oportunidade de comparar os textos anteriores ao Concílio Vaticano II, perceberá a falta de rigor lógico e intelectual das declarações atuais da Igreja. Perceberá uma Igreja adjetivosa nas palavras, politicamente correta, cheia de clichês e lugares comuns. Não é nem de perto o rigor lógico, a fala límpida e direta de um Catecismo do Trento ou de um papa tridentino. Até porque estes não temiam desagradar às pessoas ao seu redor. A verdade, para eles, não admitia concessões. Por mais seca, por mais arbitrária que nos possa parecer algumas posições da Igreja do Concílio do Trento, uma coisa não se pode negar: ela tinha personalidade.

Quando acabei de ler o folhetim dos Focolares do Fórum Social Mundial, percebi que, além de católicos de fama duvidosa, eles não entendem nem mesmo de economia: os escolásticos de Salamanca se remexeriam do túmulo lendo as idéias econômicas tolas de Chiara Lubich. Estão muito longe da comunhão católica e muito próximas da economia do Kampuchea. A comunhão mesma deles é com o demônio!

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