Mídia Sem Máscara
Eduardo Mackenzie | 18 Setembro 2010
Notícias Faltantes - Foro de São Paulo
A tal "irmandade" que fortalece a capacidade bélica do ELN e das FARC, pode ter sido pactuada na Venezuela, onde essa gente goza da proteção das autoridades. Não é casual que a maioria dos 39 policiais e militares colombianos abatidos nas últimas semanas pelas FARC e o ELN, o tenham sido em zonas fronteiriças.
Chama a atenção o fato de que Rodrigo Rivera, o ministro colombiano da Defesa, em sua longa entrevista à revista Semana em 11 de setembro passado, não tenha mencionado nem uma só vez o papel que desempenham Cuba, Venezuela e Equador na súbita ofensiva terrorista lançada nestas últimas semanas pelas FARC e o ELN.
É evidente que a reconciliação, mesmo que seja provisória, dessas organizações, é o resultado de pressões dessas direções revolucionárias. Após a sangrenta saga de agressões mútuas, só a alta dose de influência exterior podia conseguir a nova "irmandade plena" que anunciaram ontem dois organismos desses grupos, após uma reunião "em Arauca".
A tal "irmandade" que fortalece a capacidade bélica do ELN e das FARC, pode ter sido pactuada na Venezuela, onde essa gente goza da proteção das autoridades.
Não é casual que a maioria dos 39 policiais e militares colombianos abatidos nas últimas semanas pelas FARC e o ELN, o tenham sido em zonas fronteiriças. A última emboscada, em uma zona rural entre Tibú e Tres Bocas, Norte de Santander, onde três agentes da Polícia perderam a vida, foi montada a pouca distância da fronteira. William Villamizar, governador desse estado, disse que os atacantes bateram em retirada para a Venezuela e que já são"cerca de treze os uniformizados que perderam a vida nas mãos de organizações criminosas nas últimas semanas nessa região".
Os ataques mais recentes em Putumayo e Nariño ocorreram não longe do Equador. O ataque a San Miguel, onde pereceram dez policiais, ocorreu a poucos metros da ponte internacional que une o Putumayo com esse país. Entretanto, as autoridades colombianas continuam desdenhando o papel que o fator fronteiras vem desempenhando na ofensiva que se traduziu em um aumento de 600% do número de homicídios contra membros da força pública, entre 22 de agosto e 4 de setembro, segundo um informe da DIJIN (Direção Central de Polícia Judicial e Inteligência).
Se fosse certo que o governo prepara um "revolução militar" para responder à ofensiva, como assegurou El País, de Cali, em 12 de setembro, fariam mal os autores desse reajuste em ignorar os dados básicos do problema. Pelas fronteiras, ademais, continuam entrando explosivos, fuzis chineses e outras armas sofisticadas para os terroristas. Bogotá pediu a Quito para reativar o COMBIFRON (Comissão Binacional de Fronteira), porém Quito se apressou em descartar que as Frentes 15 e 48 das FARC, com grande quantidade de homens em Putumayo, tenham gente no Equador. Com tal atitude, Quito deixa ver que está longe de querer assumir seus compromissos.
É preciso aceitar um fato: os diálogos de Santa Marta entre os presidentes Santos e Chávez, onde se exigiu de Bogotá uma atitude de esquecimento ao apoio que a Venezuela dá às guerrilhas, foi inútil. De fato, esse foi o prelúdio da ofensiva das FARC e do ELN.
O governo diz estar preparando uma nova "versão" da Política de Segurança Democrática. O texto não foi publicado, porém, já se anuncia que a nova estratégia será "mais urbana" e que a respeito da pressão contra os grupos armados ilegais "será dada mais ênfase na segurança das cidades" (El País, 10 de setembro de 2010).
Esse seria outro erro. O problema, neste momento, desde o ponto de vista da empresa subversiva, não é o que ocorre nas cidades. A subversão armada que aspira a destruição do Estado (não confundi-la com a dinâmica dos bandos criminosos ordinários, embora estes, pontualmente, façam negócios com as FARC e o ELN) planeja, prepara e projeta suas ações desde e na periferia. É lá onde as Forças do Estado devem ir procurá-las. Na guerra assimétrica que a Colômbia encara, a projeção de força deve ser integral, ir das cidades para os pontos mais recônditos e difíceis da geografia, sem descuidar das regiões afastadas, pois é lá onde estão os chefes e os centros nervosos das FARC. É o que provaram os êxitos militares do governo do presidente Álvaro Uribe. O trabalho de coordenação que Raúl Reyes fazia, o fazia desde a selva equatoriana, não desde Bogotá. Inverter essa ordem de coisas poderia ser fatal para a Colômbia.
Não se deve cometer o erro dos soviéticos no Afeganistão: procurar um certo controle nos centros urbanos e abandonar o resto, as estradas, as cidades, as montanhas.
O resultado disso todo mundo conhece.
A busca dos cabeças das FARC deve continuar, e eles não estão nas cidades. O esforço da subversão para se apoderar dos recursos petroleiros e mineiros do país tem como cenário zonas rurais distantes. Isso o ministro Rodrigo Rivera admite. Por que, então, se fechar nas cidades?
Nenhum plano para aperfeiçoar a segurança democrática poderia esquecer a Justiça Penal Militar. É preciso reativar essa instituição prevista pela Constituição Nacional.
Enquanto os militares e policiais que combatem o narco-terrorismo continuem sendo suscetíveis de ser julgados por tribunais civis ineptos ou infiltrados, enquanto não tenham garantias de que serão respaldados juridicamente contra montagens obscuras, falsas acusações e juízes corruptos, eles não irão ao combate nas melhores condições. É necessário aprender com o Exército israelense. Enquanto os melhores defensores do país estão a mercê de duvidosos coletivos de rábulas, financiados para persegui-los e destruí-los moralmente, a luta contra o narco-terrorismo e a delinqüência organizada não conhecerá fim.
O outro ponto, o da vigilância das redes das FARC no estrangeiro, deve ser melhorado e reforçado com um plano de combate ideológico, político e midiático conseqüente e sem complexos contra as operações de desinformação, e contra as intrigas dos grupelhos extremistas que os ajudam.
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