Mídia Sem Máscara
Nivaldo Cordeiro | 24 Setembro 2010
Artigos - Eleições 2010
Lula reafirma os intentos do Foro de São Paulo e a vontade de controlar a imprensa, dentre outros absurdos, com a soberba e o cinismo já conhecidos.
"Então, nós temos que se (sic) apoderar desta riqueza a bem do povo brasileiro, é um patrimônio do povo, não é um patrimônio da Petrobrás".
Lula, presidente do Brasil, ao Portal Terra.
Na entrevista concedida ao Portal Terral o presidente Lula destilou toda sua raiva contra o noticiário desfavorável ao PT e a sua candidata Dilma:
"O que acontece muitas vezes é que uma crítica que você recebe é tida como democrática e uma crítica que você faz é tida como antidemocrática. Ou seja, como se determinados setores da imprensa estivessem acima de Deus e ninguém pudesse ser criticado. Escreveu está dito, acabou e é sagrado, como se fosse a Bíblia sagrada. Não é verdade. A posição de um presidente é tomada como ser humano, jornalista escreve como ser humano, juiz julga como ser humano. Ou seja, temos um padrão de comportamento e julgamento e, portanto, todos nós estamos à mercê da crítica. No Brasil - , e foi o Cláudio Lembo que disse para o Portal Terra -, a imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem um partido, que falasse. Seria mais simples, seria mais fácil".
Na verdade, quem se colocou acima de Deus e de todas as críticas é Lula. Ele está convencido de que fez o melhor governo de todos os tempos e que isso lhe deu o direito de reinar sobre a política e as instituições brasileira. O presidente não percebe que, enquanto no cargo que ocupa, ele é o maior magistrado do país. A posição do presidente não é a de um simples ser humano, ela é o próprio símbolo do poder nacional e precisa estar por sobre todas as facções políticas. Ao fazer da presidência um púlpito para propaganda eleitoral da sua candidata ele subverte o poder estabelecido na democracia, colocando-se como senhor de todas as forças políticas. Isso é ímpeto totalitário, é o narcisismo elevado é posição do poder de Estado. Um grande perigo para as instituições. A imprensa tem um partido, sim, que são os fatos. Ela não pode ignorar as falcatruas e os malfeitos dos poderosos. Se faltar com o compromisso com os fatos ela perde o sentido de sua existência. O que Lula deseja é que a imprensa funcione como claque para seus discursos e suas ações, tidas por ele como as mais santas do mundo. Lula não esconde seu desejo de amordaçar a imprensa.
Mais à frente:
"Quando nós tomamos a decisão de fazer a Conferência da Comunicação - nós já fizemos conferências de tudo que você possa imaginar, até de segurança pública -, quando fizemos a Conferência de Comunicação, alguns setores das comunicações participaram, algumas tevês participaram, algumas empresas telefônicas participaram e muitos jornais participaram. Ela foi feita a nível municipal, a nível estadual e nível nacional. Determinados setores da imprensa não quiseram participar e começaram a achar que aquilo era antidemocrático, que aquilo era não sei das contas. Eu não sei qual é a preocupação que as pessoas têm de a sociedade discutir comunicação".
Lula oculta o fato óbvio de que o ordenamento das instituições não prevê a existência de tais conferências, que se pretendem substituir o próprio Poder Legislativo e virar linha legitimadora para as arbitrariedades do Poder Executivo. O chamamento das tais conferência é um embrião de golpismo, um exercício de sovietização do poder de Estado, um aparelhamento das instâncias de governo pelos militantes petistas que manipulam os tais movimentos sociais. Essa gente são os aloprados miúdos do PT, todos em busca de uma boquinha no Estado. Nas entrelinhas, o ávido anseio para controlar a internet:
"Então, o que nós achamos é que o Brasil, independentemente de quem esteja na Presidência da República, vai ter que estabelecer o novo marco regulatório de telecomunicações desse País. Redefinir o papel da telecomunicação. E as pessoas, ao invés de ficarem contra, deveriam participar, ajudar a construir, porque será inexorável. Ninguém tinha a dimensão há 15 anos atrás do que seria a internet hoje".
Se depender de Lula e seus asseclas gente como eu não poderá ter liberdade de opinião.
Lula insistiu nas conferências:
"É, por causa disso, ou seja, eles confundem populismo com popular. Eles não sabem o que é popular porque eles nunca tiveram perto do povo. Essa gente, essa gente que não gosta de mim, na época das eleições até sorri pros pobres, até fazem promessa pros pobres, mas depois das eleições... o pobre passa perto deles um quilômetro. Então, sabe, isso é uma confusão maluca entre o populismo e o popular. O que é o populismo? É um cara, sabe, que não tem nada a ver com ninguém e aparece fazendo promessas, aparece fazendo política demagógica. Não é o nosso caso. Todas as políticas minhas são decididas, Bob... Já foram 72 conferências nacionais, conferências que começam lá no município, vai para o Estado e vem pra cá. Algumas conferências participaram 300 mil pessoas até chegar na conferência nacional. E aí nos decidimos as políticas públicas. Então eles...obviamente eu acho que tem muita gente incomodada e eu não tenho culpa, eu não tenho culpa".
A má fé de Lula é óbvia em esconder que tais conferências são uma perigosa inovação comunista, é a cópia do modelo soviético aplicado ao Brasil sem nenhuma discussão com o Congresso Nacional. As conferências são uma forma de golpismo.
Quando ele se refere à reforma política parece claro que quer acabar com os pequenos partidos, recriando alguma forma de bipartidarismo, no qual a oposição consentida seria uma variação esquerdista do próprio PT, que poderia governar como em regime de partido único. Lula prega a ditadura quando fala em reforma política. Ele prega o "centralismo democrático" nos partidos que permanecerem. Nas suas palavras:
"Então, veja, eu mandei duas propostas de reforma, de coisas que precisariam mudar para poder melhorar a política brasileira e que não foi votado. Nós mandamos, por exemplo, a regulamentação do financiamento de campanha, para acabar com o financiamento privado e ficar com financiamento público, que na minha opinião é a forma mais honesta de se fazer campanha neste País, a fidelidade partidária... porque o que é o ideal? É você ter partido forte para você negociar com partido. Isso faz parte da democracia. Quando você faz coalizão com partido político você estabelece regras nesta coalizão, você partilha um poder com essa coalizão. Agora, do jeito que está é quase que impossível, porque a direção dos partidos não representa mais os partidos".
Sem nenhum pudor Lula confessa sua ingerência institucional na campanha eleitoral:
"Deveria ser, deveria ser cobrado quem perdeu.Quem não conseguiu fazer o sucessor, porque o sucessor é uma das prioridades de qualquer governo para dar continuidade a um programa que você acredita que vai acontecer. Imagina se entra no Brasil para governar alguém que resolve querer voltar e privatizar a Petrobrás? (pausa) Onde vai o pré-sal? Ou alguém que resolva não mudar a lei e permitir que a lei do petróleo continue a mesma? A gente sabendo... o contrato de risco é quando a gente corre riscos. Mas quando a gente sabe onde tá bichinho do ouro preto, por que a gente vai fazer contrato de risco? Então, nós temos que se apoderar desta riqueza a bem do povo brasileiro, é um patrimônio do povo, não é um patrimônio da Petrobrás. Então, nós temos medo de que este País sofra um retrocesso. Por isso que eu tenho candidato. Seria inexplicável para a sociedade se eu entrasse numa redoma de vidro e falasse: olha, aconteça o que acontecer nas eleições, o presidente da República não pode dar palpite". É um cara de pau. Na verdade, quer impor a sucessora.
A imprensa noticiou que Erenice Guerra saiu do governo porque se calculou que o estrago eleitoral seria grande, contra a opinião de Franklin Martins. Lula na verdade jogou Erenice aos cães:
"Veja, a Erenice saiu porque se ela cometeu um erro, que ainda vai ser investigado... porque, veja, as pessoas, todos nós seres humanos precisamos aprender o seguinte: nós nascemos, crescemos e morremos. Neste período de tempo, a gente tem oportunidade, a gente aproveita ou não aproveita.Tem gente que poderia ser um baita jogador de futebol, eu conheci trezentos que eram "o novo Pelé", nenhum foi. Eu conheci trezentos que iam ser grandes políticos, nenhum foi. Então, as pessoas, na medida em que têm uma oportunidade, as pessoas estão aqui para prestar serviço à sociedade. Se alguém acha que pode chegar aqui e se servir, sabe, cai do cavalo. Porque a pessoa pode me enganar um dia, pode me enganar, sabe, mas a pessoa não engana todo mundo ao mesmo tempo. E quando acontece, a pessoa perde. O que aconteceu com a Erenice é que ela jogou fora uma chance extraordinária de ser uma grande funcionária pública deste País".
Mas Lula insiste que as notícias sobre o caso Erenice foram manipuladas. Ora, ou houve motivo para ela sair ou não houve. O sonho de Lula e de seus asseclas é que os atos sujos de seu governo não cheguem à opinião pública.
Um dos grandes momentos da entrevista é quando Lula reconheceu que fundou o Foro de São Paulo, a malfadada organização das esquerdas que quer restaurar na América Latina o terreno perdido no Leste europeu, como o naufrágio da ex-URSS. Nas suas palavras:
"Em 1990, eu tinha perdido as eleições para o (Fernando) Collor, mas eu tinha me convencido que nós tínhamos criado uma força política importante no Brasil. E resolvi propor a convocação de uma reunião de toda a esquerda na América Latina. Tinha regiões em que se discutia muito que a única saída era pela via armada, tinha lugares que começavam a discutir mais fortemente a democracia... O dado concreto é que nós fizemos uma reunião em junho de 1990, no Hotel Danúbio, em São Paulo, eu lembro que era Copa do Mundo, era um sucesso, lembro que a única coisa que unia os argentinos era o Maradona. E lembro de países pequenos que tinham 18 organizações de esquerda, que foram para a reunião. Treze, doze, quatorze. E essas pessoas não conversavam entre si. Ali nós começamos a estabelecer um debate sobre a necessidade das pessoas acreditarem que pela via democrática era possível chegar ao poder. Eu era a prova de que era possível chegar ao poder pelas eleições diretas. Nós criamos o Foro de São Paulo. De lá para cá, todos os países da América Latina e América Central, com exceção de Cuba que já tinha seu regime anterior, chegaram ao poder pela via eleitoral. Todos. O mais recente foi El Salvador, que o Mauricio Funes chegou ao poder. O Evo Morales... você quer bem maior para a Bolívia do que um índio ser presidente da República? Antes era eleita gente que nem sequer falava a língua deles! Eram loiros de olhos azuis. De repente, você elege um companheiro como o Evo Morales, que crescem as reservas, cresce o PIB, cresce a distribuição de renda... Por quê? Porque ele tem vínculo com aquele povo e sabe que tem que cuidar da parte mais pobre. Então, eu acho que houve um avanço excepcional na América Latina. Também acho que a rotatividade no poder é importante. Defendo isso porque acho importante a prática democrática. Se vai ser dois mandatos, três mandatos, quatro mandatos, cinco mandatos... Nenhum americano hoje se queixa do (Franklin) Roosevelt ter sido presidente quatro vezes. Ninguém".
Lula por ele mesmo é digno de ser lido. Cândido e orgulhoso, um pavão em desfile. Nada esconde de suas más intenções revolucionárias.
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