domingo, 5 de setembro de 2010

La Macarena pode ocultar um Katyn

Mídia Sem Máscara

Durante décadas as FARC impuseram seu reinado de terror na zona de La Macarena. É possível que ali essa organização tenha enterrado muitas de suas vítimas.


Inventar uma história falsa acerca de fossas comuns não é difícil para quem conhece a técnica que se requer para fazer isso com algo de realismo. Os melhores artífices desse tipo de impostura diabólica são os comunistas. O massacre de massa de Katyn, onde 15.131 oficiais poloneses, prisioneiros de guerra dos soviéticos, foram massacrados e enterrados em fossas clandestinas em 1940, é o exemplo mais claro da habilidade perversa desenvolvida por esse repugnante sistema político. A URSS e os partidos comunistas fizeram o mundo acreditar durante 50 anos que o massacre de Katyn havia sido obra da Alemanha nazista. Essa horrível matança foi obra da NKVD, a polícia política de Stalin.

Entretanto, Moscou conseguiu impor sua "verdade" durante a Guerra Fria, até 13 de abril de 1990, quando Mikhail Gorbachev admitiu publicamente que esse havia sido um dos crimes mais graves do comunismo, depois de entregar ao general Jaruzelski, durante uma visita deste o Kremlin, os documentos reunidos por um grupo de historiadores que provavam a responsabilidade de Stalin, Beria, Molotov, Voroshilov e Merkulov nisso.

A URSS invadiu a Polônia em 17 de setembro de 1939, após a assinatura do pacto Hitler-Stalin (Ribentropp-Molotov) que permitiu aos dois ditadores repartir esse país e desatar a segunda guerra mundial. Os oficiais do exército vencido, porém também milhares de juristas, engenheiros, médicos e acadêmicos, quer dizer, os cérebros mais brilhantes da Polônia, foram presos pelas tropas soviéticas. Estimulado pelo ódio que a Polônia sempre lhe havia inspirado, Stalin ordena, em 5 de março de 1940, exterminar esses prisioneiros. Dias depois, em Katyn, ao lado do Dniéper, 4.421 deles são abatidos a sangue frio. Os demais são ultimados em outros acampamentos secretos em um lapso de dois meses.

O massacre de Katyn foi maquiado desde o começo para desorientar os historiadores.

Os soviéticos assassinaram uma parte de suas vítimas com uma bala na nuca ou na cabeça com pistolas Walter e munição alemã. Os oficiais foram levados em trens de carga e ônibus ao bosque de Katyn, a alguns quilômetros de Smolensk. Antes de dispara-lhes, amarraram-lhes as mãos e roubaram seus pertences: anéis, relógios, etc. Algumas vítimas estavam feridas mas vivas no momento de serem jogadas nos buracos. Alertados por um camponês russo, os alemães descobrem as fossas em vários locais do bosque, em 17 de abril de 1943. De 20 metros de largura, estas haviam sido cobertas de terra onde foram plantados pinheiros para dissimular os ossuários. Centenas de corpos foram identificados graças aos papéis e fotografias que os mortos portavam. Como Hitler já estava em guerra com seu ex-aliado soviético, desde 22 de junho de 1941, data do começo da Operação Barbarrossa, os nazistas aproveitaram o macabro descobrimento para fazer um filme de propaganda contra a "barbárie bolchevique", o qual foi difundido na Europa ocupada pelos nazistas.

Ante a batida em retirada das tropas alemães, o Exército Vermelho regressa a Katyn em setembro de 1943. Para desvirtuar a acusação de que esse massacre havia sido cometido pelos soviéticos, Stalin envia uma "comissão de investigação" presidida pelo acadêmico Burdenko e um grupo de observadores estrangeiros. O filme de desinformação que sai dessa jogada, impacta, mas tem defeitos. Para que a versão encaixe com os movimentos das tropas alemães, a data do massacre foi falseada ("durante o outono de 1941"), e deixa ver que a exumação dos cadáveres é fingida.

Um mês depois da matança, os serviços secretos do governo polonês no exílio, em Londres, que buscavam o paradeiro de seus oficiais detidos, recebe uma primeira reportagem sobre Katyn. Em fevereiro de 1942, os governos norte-americano e britânico são informados por aquele. Porém, o presidente Roosevelt exige silêncio para não pôr em perigo a aliança com Stalin. Um informe secreto para o rei George VI dirá que deve-se ocultar o ocorrido em Katyn, pois a opinião pública poderia pensar que estão aliados a uma potência que comete atrocidades idênticas aos do nazistas.

Em 1945, um oficial polonês redige um informe para Roosevelt porém o texto perde-se. Em 1950 faz outro idêntico e, por fim, após a morte de Roosevelt, o presidente Truman pede ao Congresso que realize uma investigação. Meses mais tarde, este produz um informe de 2.360 páginas no qual acusa a NKVD de haver cometido o massacre de Katyn. A Guerra Fria havia começado em 1948.

Por um momento Roosevelt acreditou que o autor desse massacre havia sido a Alemanha nazista, pois Moscou havia conseguido que o embaixador norte-americano Averell Harriman enviasse sua filha Kathleen para presenciar a ópera bufa de Burdenko. Ela engoliu a pílula e durante meses Washington acredita o mesmo. Porém, na conferência de Londres, a qual redige as atas de acusação pelos crimes da Alemanha para o Tribunal de Nuremberg, a parte soviética tenta introduzir sua versão de Katyn mas o Tribunal a rechaça. Os altos círculos ocidentais sabiam quem havia cometido a matança e, embora não gritassem dos telhados, não queriam fazer o ridículo até esse ponto.

Hoje em dia o público pode ver os documentários de propaganda, o alemão e o russo e, sobretudo, o excelente filme Katyn, realizado em 2007, pelo cineasta polonês Andrzej Wajda.

Uma bibliografia sobre Katyn existe. Uma parte dos documentos soviéticos foram desclassificados em setembro de 1992 pelo presidente Boris Yeltsin. Em 28 de abril de 2010, o presidente russo Dmitri Medvedev pôs em Rusarchives as cópias de alguns documentos originais sobre esse assunto, após a morte, em acidente aéreo em Smolensk, do presidente da Polônia Lech Kaczynski.

É necessário evocar estas coisas pois um grupelho comunista colombiano, integrado por ativistas que ainda vivem no clima psicológico da Guerra Fria, pretende usar o tema das "fossas comuns" como arma de calúnia e desinformação. Esse propósito desperta um legítimo temor na opinião pública colombiana, pois a manobra atual, que pretende assinalar não a um Estado nazi-fascista, mas a um governo democrático como autor de massacres na zona de La Macarena, Meta, lembra muito a cínica campanha de intoxicação do comunismo sob Stalin.

A ofensiva midiática de Piedad Córdoba e seus comprometidos Carlos Lozano, Iván Cepeda, Javier Giraldo e Gloria Inés Ramírez, sobre a suposta "crise humanitária" nessa zona, conta com o apoio público de altos chefes chavistas, como o vice-presidente da Venezuela Elías Jagua, o ministro Nicolás Maduro e o embaixador Roy Chaderton, e até de alguns euro-deputados de esquerda.

Durante décadas as FARC impuseram seu reinado de terror na zona de La Macarena. É possível que ali essa organização tenha enterrado muitas de suas vítimas, pessoas seqüestradas e assassinadas, civis que não colaboravam com eles, traficantes de drogas, paramilitares e até guerrilheiros abatidos por seus próprios chefes.

O afã da campanha para mostrar essa zona como lugar de "fossas comuns do Exército", poderia esconder a intenção de camuflar as matanças das FARC e até dos outros grupos paramilitares, seguindo as técnicas empregadas em Katyn.

A Procuradoria Geral e a Fiscalização Geral colombiana, depois de realizar investigações em La Macarena, rechaçaram a acusação extremista. Não obstante, a agitação continua. Piedad Córdoba diz que "ex-paramilitares desmobilizados" lhe disseram que há "mil cemitérios clandestinos na Colômbia", e que o Estado colombiano e o governo norte-americano são os criadores disso. Para a citada senadora, o papel das FARC no assunto das "fossas comuns" é impensável. É urgente que a opinião pública e as ONGs exijam seriedade às autoridades, ante o transbordamento dessa nova campanha de agit-prop para impedir que as falsas acusações, os testemunhos e outras provas fabricadas se convertam, uma vez mais, na única fonte de informação dos meios de comunicação e dos juízes, e que uma sentença posterior manipulada resulte em um novo golpe deslegitimador do Estado colombiano.

Tradução: Graça Salgueiro

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