segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Collor à Presidência?

por Ipojuca Pontes em 25 de fevereiro de 2008

Resumo: O fato concreto é que Collor, no último ano de governo, estonteado pela furiosa união esquerdista disposta a arrancar-lhe o poder, e impotente diante da saraivada de acusações, terminou – segundo Rosane, sua ex-esposa - nos terreiros de macumba implorando em rituais macabros a proteção dos babalorixás.

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Numa dessas revistas semanais de São Paulo (todas as revistas semanais, no Brasil, são paulistas), ganhou pouco destaque a matéria anunciando que Fernando Collor está montando equipe de assessores para disputar as eleições presidências de 2010. O repórter Rudolfo Lago (Isto É, 28/02/2008), tratando o ex-presidente com acentuada dose de descrédito (que ele bem merece, de resto), informa que desta vez Collor vai deixar os “marajás” de lado e se candidatar à Presidência da República empunhando a bandeira (opaca) do parlamentarismo como o novo sistema de governo capaz de redimir politicamente a nação.

Neste sentido, o senador Collor de Mello, depois de estratégica licença de quatro meses, viajou por todos os Estados e manteve reuniões com políticos locais para pedir apoio à emenda de sua autoria, ora em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, que estabelece o regime parlamentarista na vida política brasileira. Nos encontros, para vender seu peixe, o ex-presidente repassou aos políticos regionais cópias de cartilha ressaltando as maravilhas do parlamentarismo, bem como de programa de rádio, objetivando divulgar as vantagens do regime parlamentar em contraposição ao presidencialismo, que, diz Collor, “é, no Brasil, sinônimo de crise”.

Para avançar em tão redentora tarefa, segundo a revista, o ex-presidente conta com uma equipe de dois auxiliares: o diplomata aposentado Marcio Coimbra, seu cunhado e ex-chefe da Casa Civil do governo impedido, e ainda o general da reserva Sávio Costa, oficial da área de inteligência que organizava, a cada final de semana, o espetáculo burlesco da “descida da rampa”, presságio (simbólico) do que viria ocorrer mais tarde.

Na foto da revista semanal Collor aparece mais gordo, vestido com esmero, caprichosamente penteado e com o pendão nacional às costas. Em suma: o homem posa de político maduro e responsável, quem sabe predestinado a recolocar o país nos eixos. Só que a sua nova bandeira, o parlamentarismo, não comove ninguém, salvo os formalistas de praxe. Por dois motivos elementares: primeiro, porque a utópica “constituição cidadã” do Dr. Ulysses já enterrou o país numa estranha espécie de parlamentarismo sem primeiro-ministro, onde o Congresso, por força de conchavos (mensalões), concede suas imensas responsabilidades ao arbítrio presidencial; segundo porque, na prática, o exercício do sistema parlamentarista nunca evitou crise política em qualquer lugar onde se instalou.

O apelo do parlamentarismo é, no Brasil, um mito repudiado em dois plebiscitos. Mas, por conta da luta travada pelo poder político, os profissionais do ramo vez por outra retornam com a panacéia de puro teor formalista, visto que neste terreno (minado) o problema não é de forma, mas, sim, de conteúdo. Para assumir o poder, por exemplo, o notório Jango aceitou o regime parlamentarista e, no outro dia, já estava tramando contra ele.

No histórico, sai parlamentarismo, entra presidencialismo, sai presidencialismo, entra parlamentarismo - mas o cerco sobre a democracia e a soberania política do indivíduo se faz cada vez maior. Pois o imbróglio é que, com ou sem governo constituído por um gabinete e ministros de Estado, a nação vive sempre subordinada aos interesses de grupos ideológicos afeitos à crença da supremacia do governo sobre a sociedade.

Outra meizinha cultivada para os males da vida política nacional é o federalismo, forma de governo pela qual vários estados se reúnem numa só nação, sem perderem sua autonomia fora dos negócios do interesse comum. Mas, bem examinada a questão, parlamentarismo e federalismo não passam de formas de governo que, se idealmente podem diminuir aqui e ali as imperfeições do sistema presidencialista, na prática não alteram o predomínio ideológico e partidário dos grupos que se apossam do poder.

Voltando à vaca fria: bom moço, diante do iminente processo de cassação do então presidente do Senado, o alagoano Renan Calheiros, o ex-presidente achou oportuno arrumar as trouxas e licenciar-se. “Isso é assunto que não me interessa” - teria dito Collor que, mesmo não se interessando pela questão, ordenou que o suplente Euclides Mello (um primo) votasse contra a cassação do antigo presidente do Senado, considerado pela generalidade da opinião pública como um político corrupto. Mais que isso, o ex-presidente determinou que o suplente Euclides votasse pela cobrança da famigerada CPMF, um imposto que atingia de modo perverso o bolso da população mais pobre.

O que teria ocorrido com Collor de Mello? No final da década de 1980, com a queda do muro de Berlim, a derrocada da União Soviética e, no Brasil, o fracasso do pusilânime governo Sarney (que emplacou uma inflação de 3% ao dia), ele representou sem sombra de dúvida uma fulgurante esperança política para milhões de brasileiros que o elegeram. Num espaço conturbado pela corrupção e pelos conchavos políticos, Collor representava sangue novo, estava amparado no bem-sucedido programa conservador de Margareth Teatcher e vendia, para os seus eleitores, coragem, audácia e disposição.

O fato concreto é que Collor, no último ano de governo, estonteado pela furiosa união esquerdista disposta a arrancar-lhe o poder, e impotente diante da saraivada de acusações que culminaram com a denúncia da compra ilícita de uma modesta Fiat, terminou – segundo Rosane, sua ex-esposa - nos terreiros de macumba implorando em rituais macabros a proteção dos babalorixás.

Para se manter no cargo, o ex-presidente não precisava chegar a tanto. Bastava ter denunciado ao país a tramóia, na capital paulista, em junho de 1990, do Foro de São Paulo, cujo objetivo era detoná-lo da presidência e, depois, levar a comunalha – sob a batuta de Lula e Fidel Castro – ao poder. Mas Collor, coitado, arrogante, além de fechar o SNI pensava que o comunismo fora derrotado.

Hoje, virou assecla de Lula.

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