quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Esquerda marxista do PT

por Carlos I.S. Azambuja em 14 de fevereiro de 2008

Resumo: Em 2006 uma nova cisão ocorreu na corrente O Trabalho, dando origem a dois grupos, em princípio denominados Corrente O Trabalho do PT (Maioria) e Corrente O Trabalho do PT (Minoria).

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O Trabalho na Luta pelo Socialismo (OT-LPS) deve suas origens no grupo trotskista francês Organização Comunista Internacionalista (OCI) que, em 1972, dirigido por Pierre Lambert (recentemente falecido), produziu um documento assinalando a necessidade da constituição de um Comitê de Reorganização da Quarta Internacional (CORQI). Logo aderiram a essa idéia, na América Latina, o Partido Operário Revolucionário (POR) boliviano e o Política Obrera (PO) da Argentina. Em seguida, em 1975, no Brasil, ocorreu a unificação da Fração Bolchevique Trotskista (FBT) com os também trotskistas Grupo Outubro (GO) e Organização de Mobilização Operária (OMO) – esta, uma dissidência da Organização de Combate 1º de Maio (OC-1º de Maio) -, constituindo a Organização Marxista Brasileira (OMB). No ano seguinte, 1976, unificaram-se a OMB e a OC-1º de Maio, surgindo a Organização Socialista Internacionalista (OSI), vinculada à Quarta Internacional/Comitê Internacional (QI/CI).

Esse novo grupo trotskista, face à sua grande influência no Movimento Estudantil, ficou mais conhecido como LIBELU, acrônimo de Liberdade e Luta. Em 1979, quando do seu 2º Congresso, a OSI, por divergências internas quanto à linha sindical a ser implementada pela Organização, sofreu uma cisão e os militantes que saíram criaram a Organização Quarta Internacional (OQI), posteriormente Partido da Causa Operária, hoje registrado perante a Justiça Eleitoral. Em maio de 1984, quando do seu 7º Congresso, a OSI passou a denominar-se Fração Quarta Internacional (FQI), vinculando-se internacionalmente à Quarta Internacional/Centro Internacional de Reconstrução (QI/CIR), entidade constituída em 1981 em uma reunião da maioria das seções que anteriormente haviam formado a QI/CI. A QI/CIR passou a editar a revista “La Verité”, intitulando-a de “revista teórica da Quarta Internacional”, distribuída às seções nacionais em inglês, alemão, espanhol, português, russo, servo-croata, grego, árabe, chinês e bengali. Mais adiante, em agosto de 1997, a OT-LPS também sofreu uma cisão, atribuída “à degenerescência política da OT-LPS a partir do momento em que o Partido dos Trabalhadores elegeu os seus primeiros parlamentares e da capitulação do partido (PT) frente ao Estado-burguês”, daí surgindo um grupo denominado Fórum Marxista-Trotskista Internacional, o qual, aparentemente, já se dissolveu.

A QI/CIR atualmente denomina-se Corrente Comunista Internacionalista (CCI).

Em 2006 uma nova cisão ocorreu na corrente O Trabalho, dando origem a dois grupos, em princípio denominados Corrente O Trabalho do PT (Maioria) e Corrente O Trabalho do PT (Minoria). O motivo: a atitude do Secretariado Internacional (SI) da CCI em relação à revolução venezuelana e ao governo Lula e o PT, que causou uma cisão entre os dirigentes de O Trabalho.

O Trabalho do PT (Maioria) assinala que o SI da CCI tem uma posição sectária frente a Hugo Chávez: “Chávez que, pela sua entrada no Mercosul, vira as costas à defesa da soberania da Venezuela e se orienta em direção a uma submissão ao imperialismo (...) e chama à ruptura política com Kerenski-Chávez e a não a sustentar esses bonapartes“ (Resolução do Conselho Geral da CCI, março de 2006).

O Trabalho do PT (Maioria) considera que igualar Chávez a Kerenski é uma posição sectária, pois Kerenski era “um contra-revolucionário”; apoiou a reeleição e Chávez, defendendo uma plataforma antiimperialista e operária, e criticou a entrada da Venezuela no Mercosul, “que é o maior perigo, hoje, para a revolução venezuelana”.

Por outro lado, a política do SI e seus apoiadores continua sendo “a defesa do PT”. Por isso, “ressuscitaram a defesa do PT através de Markus Sokol e Misa Boito”, ambos membros da direção de O Trabalho do PT (Minoria) e da Direção Nacional do PT. A tese apresentada por ambos, inscrita no Diretório Nacional quando do Encontro Nacional do PT, afirma: “Conclamamos ao combate pela defesa de um Partido dos Trabalhadores sem patrões, tal como o PT foi constituído, tal como ele deve continuar a existir (...)”.

Esse é considerado pela Maioria e Minoria de O Trabalho, o fundo da questão: lutar para construir um partido operário independente – como prega a Maioria - ou ser a asa esquerda do aparato de Lula? A posição de O Trabalho do PT (Maioria) é “ajudar a classe trabalhadora a construir um partido operário independente, por dentro e através da crise do PT, preparando a ruptura que a política de Lula e da maioria do Diretório Nacional tornou inevitável. Porque não abandonamos o programa é que reafirmamos que se Lula quer apoio para sua reeleição deve romper com o imperialismo e atender imediatamente as reivindicações mais sentidas do povo trabalhador do campo e da cidade”.

E conclui o documento de O Trabalho do PT (Maioria), assinado por Serge Goulart, do Diretório Nacional da corrente OT (Maioria), membro do Diretório Nacional do PT e Coordenador dos Conselhos das Fábricas Ocupadas e em Luta: “Nosso caminho é o da ação. (...) O SI não tem autoridade estatutária para expulsar uma seção. Essa é uma prerrogativa do Conselho Geral ou do Congresso Mundial. O SI e uma minoria não têm o direito de declarar que ‘a maioria se colocou fora do quadro e rompeu com a Quarta Internacional’. Ainda mais que o Estatuto Internacional diz que as seções nacionais são soberanas. É absurdo. Por isso, como Direção Nacional, legitimamente eleita no XXV Encontro Nacional de O Trabalho (Congresso de O Trabalho), vamos recorrer ao Congresso Mundial (da Quarta Internacional) e levar uma batalha internacional contra tamanho crime político. As seções trotskistas vão reagir (...)”.

Em abril de 2007, na Conferência Nacional da Corrente O Trabalho (Maioria) foi dado a conhecer a nova denominação da Organização: Esquerda Marxista do PT, e assinalado que a cisão perpetrada pelo SI e a minoria da Corrente OT “foi a expressão de uma seqüência de erros políticos que conduziram os militantes agrupados no SI (4ª Internacional) a um impasse em todo o mundo. As razões da cisão são razões políticas e diferenças profundas que se acumularam no decorrer da luta de classes. A cisão da fração minoritária dirigida pelo SI (Lambert/Gluckstein) e Sokol está baseada em uma cortina de fumaça. O fundo da questão é a atitude em relação à revolução venezuelana e ao governo Lula e o PT, ou seja, sobre a questão da construção da 4ª Internacional”.

Na Resolução Política da Conferência Nacional da Maioria de O Trabalho, foi definido que a Corrente luta pelos seguintes pontos:

  • Lutamos contra o Governo de Coalizão entre o PT e os partidos burgueses.
  • Impulsionamos o Movimento Negro Socialista (MNS), lutando contra o racismo e pela universalização dos direitos.
  • Organizamos a Juventude Revolução (JR) em defesa das reivindicações e do socialismo.
  • Nossos camaradas ferroviários ocuparam um papel dirigente no combate de resistência contra a extinção da RFFSA (Rede Ferroviária Federal) e em defesa dos direitos e reivindicações dos ferroviários.
  • Dirigimos, desde 2002, o Movimento das Fábricas Ocupadas (Cipla, Interfibra, Flaskô e outras) reivindicando a estatização sob controle operário.
  • Ocupamos latifúndios junto com o MST e agimos junto com o movimento por moradia.
  • No Congresso Nacional do PT impulsionamos uma Tese (Um Programa Socialista para o Brasil) que defende a abolição da propriedade privada dos grandes meios de produção, a ruptura da coalizão do PT com a burguesia, o fim do pagamento da dívida externa/interna.
  • Defendemos a revolução venezuelana com a campanha Tirem as mãos da Venezuela”.

Com relação à referência ao Coordenador dos Conselhos das Fábricas Ocupadas e em Luta, que em 8, 9 e 10 de dezembro de 2006, em Joinville, SC, foi realizado o Encontro Panamericano em Defesa do Emprego, dos Direitos, da Reforma Agrária e do Parque Fabril, o jornal O Estado de São Paulo publicou um texto, em 18 de junho de 2006, sob o título “Socialismo Chavista chega ao País”, segundo o qual o governo venezuelano financia empresas brasileiras que quebraram e foram assumidas por seus trabalhadores.

Diz a matéria que seguindo à risca o projeto de “Socialismo do Século XXI”, Hugo Chávez vem financiando empresas brasileiras que, à beira da falência, foram ocupadas e hoje são dirigidas por trabalhadores. As três empresas beneficiadas são administradas por funcionários ligados a um movimento de orientação socialista que prega a ocupação das fábricas para tentar manter os postos de trabalho”.

O “movimento de orientação socialista” a que se refere a matéria é a Esquerda Marxista do PT, e o Coordenador dos Conselhos das Fábricas Ocupadas em Luta é o militante trotskista Serge Goulart, membr do Diretório Nacional da Esquerda Marxista e do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores.

As três empresas são a Cipla e Interfibra, ambas com fábricas em Joinville, SC, e a Flaksô, de Sumaré, SP, todas atuantes no setor de plásticos, com 1.300 empregados e pertencentes ao grupo HB, formado por Anselmo Batschauer e Luis Batscheauer, ocupadas pelos trabalhadores em outubro de 2002.

O governo venezuelano vem fornecendo a essas empresas resinas de PVC, polietileno e polipropileno, entre outras matérias produzidas pela estatal Petroquímica da Venezuela. Em 2005, receberam 600 toneladas de matéria-prima, o equivalente a 2,5 milhões.

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