segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A vida como ela é

por João Luiz Mauad em 04 de fevereiro de 2008

Resumo: O velho adágio socialista: "de cada um conforme as suas possibilidades, para cada um conforme as suas necessidades", pode ser muito bonito no papel, mas não funciona na vida real. Todas as experiências baseadas no socialismo provam isso.

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Os seres humanos são diferentes uns dos outros em vários aspectos – e é bom que seja assim, pois do contrário não teríamos esse maravilhoso processo de especialização e divisão do trabalho, grande responsável pelo progresso humano.

Como a desigualdade é inexorável, devemos dar atenção à pobreza, principalmente em como combatê-la duradoura e eficientemente, ao invés de jogar fora tempo e energia com questões econômicas e, acima de tudo, morais, sem cabimento, como concentração da renda. Afinal, sentir-se tocado pelo sofrimento alheio é algo bem diferente de torcer o nariz para o luxo alheio. Uma coisa é solidariedade – e outra, bem diferente, é inveja.

Mais do que de engenhosos planos econômicos, se quisermos ter alguma chance de nos juntar ao círculo das nações prósperas, precisaremos alterar a famigerada cultura socialista que corre solta por estas plagas brasileiras, começando por desmistificar a arraigada crença segundo a qual a pobreza de uns é resultado da riqueza de outros. É preciso mostrar, de uma vez por todas, que não faz qualquer sentido lógico essa cantilena marxista de mais-valia, luta de classes, exploradores x explorados, etc.

O homem começou a sua epopéia terrestre pobre e assim prosseguiu durante um longo período. A pobreza, portanto, é o estado natural do ser humano, nada mais do que a ausência de riqueza, tanto quanto o preto é a ausência de cor ou a escuridão é a falta de luz. A humanidade partiu praticamente do zero até chegar a tudo que construiu sobre a terra. Através do trabalho e da engenhosidade racionais, transformamos recursos naturais em incontáveis riquezas.

Principalmente após o advento do capitalismo, as riquezas produzidas pelo homem têm crescido e se multiplicado de forma constante e consistente. A cada dia que passa há mais moradias, mais máquinas, mais veículos, mais remédios, mais hospitais, mais escolas, mais indústrias, mais roupas, mais alimentos... Tudo isso em benefício de uma quantidade cada vez maior de pessoas. Tudo isso, sem falar de outro aspecto pouco comentado, porém não menos importante: o fato insofismável de que, sob o capitalismo, a possibilidade de ascensão social tornou-se concreta, o que era impensável anteriormente, quando quase tudo na vida era decorrência do sangue ou do berço.

Não obstante tantas evidências, infelizmente, em pleno século XXI, ainda há aqueles que enxergam a produção de riquezas como um “jogo de soma zero”, em que a fortuna de uns implica, necessariamente, a miséria de outros.

A visão obtusa da riqueza como algo estático e imutável é herança do mercantilismo, época em que ela era medida pela quantidade de ouro e prata disponível. Porém, os engenhosos ingleses e sua Revolução Industrial mostraram que a prosperidade é algo muito mais complexo. Mostraram, por exemplo, que a propriedade de um tear mecânico era muito mais valiosa do que o seu preço em ouro ou em prata, já que aquele era capaz de multiplicar a riqueza, enquanto estes serviam apenas para trocá-las.

Produzida de forma honesta e dentro de um sistema de trocas voluntárias, portanto, a riqueza de uns jamais será resultado da miséria alheia. Há aqueles que trabalham muito, muito mesmo, para garantir doses de conforto cada vez maiores. Mas há também um bando de gente que prefere viver a vida com menos conforto, porém também com menos trabalho. Não podemos querer que uns e outros trabalhem com a mesma intensidade ou tenham a mesma renda. Isso sim seria injusto.

Se você entra numa loja e compra uma mercadoria qualquer, é porque valoriza mais o produto do que o dinheiro que traz no bolso. Por outro lado, o comerciante valoriza mais o dinheiro do que o bem que sai do estoque. No final da operação, portanto, as duas partes sairão ganhando. Com o trabalho ocorre rigorosamente o mesmo. O simples fato de a maioria de nós considerar baixo o próprio salário não é um motivo bastante para dizer que os patrões são exploradores. Eles não nos obrigam a trabalhar para suas empresas e, se o fazemos, é porque o dinheiro que nos pagam é mais valioso para nós do que o ócio (é importante salientar que o trabalho é um meio e não um fim em si mesmo – trabalhamos para poder adquirir as riquezas que nos farão viver melhor).

Olhando pela óptica deles (patrões), estou certo de que só continuam nos pagando um salário porque a nossa produtividade compensa e eles lucram com isso (sem esquecer que o lucro é a remuneração do capital investido, bem como o salário do empreendedor). Como no caso da compra e venda de uma mercadoria qualquer, o contrato de trabalho também é um ato voluntário, em que os dois lados ganham, pois de outro modo ele simplesmente não existiria. Por isso, acho deveras engraçado quando ouço uns e outros reclamando de que determinada empresa paga salários baixos e explora os empregados (afirmação comum em relação à rede Wal Mart, por exemplo). Minha primeira pergunta, nesses casos, é sempre: os empregados são obrigados a trabalhar lá? E se não trabalhassem, qual seria a alternativa? Não seria, por acaso, o desemprego? Não concebo a hipótese de que alguém se sujeite a trabalhar por um salário x, se tiver uma proposta de emprego para ganhar x+y.

Portanto, por maiores que sejam as divagações, se as trocas são voluntárias e realizadas dentro da lei, não há que se falar em exploração ou enriquecimento por conta da penúria alheia. Aliás, numa economia de mercado, a única coisa que não é voluntária e, de todo modo, injusta, é a cobrança de impostos, mas aí já é outro papo.

Seja por necessidade, por conforto ou por prazer, o fato é que, se você adquire um jornal, um sapato, um carro, uma casa ou qualquer outro bem, você está fazendo uma troca voluntária. Ninguém o obrigou a isso. Você simplesmente poderia continuar andando em seu sapato velho ou mesmo descalço, como faziam os nossos ancestrais.

Além disso, Economia é a ciência da escassez e, assim sendo, sempre que você faz uma escolha, essa escolha implica que você está abrindo mão de outra coisa. Chamamos a isso de custo de oportunidade. Seus desejos e necessidades são, em tese, ilimitados, enquanto os recursos de que você dispõe são escassos (limitados).

Assim como você é dono do dinheiro que trocou pelo sapato – e não por uma camisa – também é dono da força de trabalho que troca pelo salário. Ninguém trabalha sem a expectativa de receber algo em troca. Quem trabalha, só o faz porque vale a pena. Eu não troco o meu ócio por qualquer dinheiro e acredito que o leitor tampouco. Depois do Bolsa-Família, por exemplo, está cada vez mais difícil conseguir mão-de-obra para serviços pesados no nordeste, apesar do aumento dos salários. Isso é fato e comprova que o trabalho não é um fim em si mesmo, mas somente um meio para alcançarmos outros fins, inclusive o próprio ócio.

Volto a enfatizar: o mundo seria maravilhoso se todos nós pudéssemos ter tudo aquilo que gostaríamos, trabalhando também o mínimo possível, como querem alguns lunáticos e tantos outros espertalhões. Infelizmente, as coisas não funcionam assim. Sempre teremos que fazer escolhas – que implicam abrir mão de algo.

Para encerrar, eu diria que o velho adágio socialista: "de cada um conforme as suas possibilidades, para cada um conforme as suas necessidades", pode ser muito bonito no papel, mas não funciona na vida real. Todas as experiências baseadas no socialismo provam isso. Já o tão maldito capitalismo está aí há séculos, não porque o capeta o inventou, mas porque ele é o resultado espontâneo da interação entre os indivíduos. Mudar isso já foi tentado antes e os resultados foram desastrosos.

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