por Percival Puggina em 06 de fevereiro de 2008
Resumo: Como vítima, contribuinte e jurisdicionada, a sociedade se sente ofendida, esbofeteada, a cada notícia sobre a liberalidade que caracteriza as penas e o cumprimento das penas em nosso país.
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Fiquei pensando naquela afirmação. Ainda que meu primeiro emprego, quase meio século atrás, tenha sido no Presídio Central de Porto Alegre, como auxiliar administrativo, não cheguei a ter contato com as galerias onde ficavam os apenados. A idéia que hoje faço de uma prisão está vinculada ao que se informa nos meios de comunicação social. E não me recuso, sequer, a acrescentar algumas pitadas medievais àquilo que tais imagens revelam. Uma semana num presídio deve ser “uma barra”. Principalmente pelas más companhias.
Nesse sentido, portanto, meu amigo tinha razão: a penitenciária é um dos piores lugares do mundo para se passar uma temporada. Pessoalmente, ainda que minha imagem daquela realidade seja apenas isto - uma imagem - eu faria qualquer coisa para não ser trancafiado lá dentro. Inclusive me comportar direitinho, se é que me faço entender.
Aí começa o erro do meu amigo. Sua opinião em relação às penas desconsidera o fato de que os criminosos sabem muito melhor do que nós o que seja ir parar dentro de um estabelecimento penitenciário. Têm eles, portanto, razões ainda mais robustas para não se exporem aos riscos a que a vida criminosa sujeita quem por ela envereda. Pode dar cadeia, cara, e aquilo é um inferno! Portanto, se para os presos, os horrores de uma penitenciária não dão motivo suficiente à reabilitação, não serei eu, na
condição de vítima potencial de suas iniciativas, que haverei de me preocupar com o abrandamento de suas penas. Bem ao contrário.
Está na ordem do dia o caso do assaltante Papagaio, aquele que resolveu tirar sarro da nossa Justiça. No entanto, ele não é o único. Para cada facilidade concedida a Papagaio, dezenas de outros presos recebem franquias iguais, longe dos holofotes e das manchetes. Papagaio solto talvez não faça currupaco nas nossas orelhas porque não somos banqueiros nem transportadores de valores. Mas a mesma liberalidade, as mesmas insensatas progressões de pena, as mesmas displicências em relação à periculosidade dos criminosos se concedem em favor de uma multidão deles que matam para roubar, roubam para comprar droga e se drogam para continuar matando, bem como a ladrões de carro e seus receptadores, estupradores, seqüestradores, traficantes e assemelhados.
A sociedade se percebe insegura, principalmente, devido a esse tipo de agressor. Por outro lado, como vítima, contribuinte e jurisdicionada, ela se sente ofendida, esbofeteada, a cada notícia sobre a liberalidade que caracteriza as penas e o cumprimento das penas em nosso país.
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