terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

MASSACRE DE INDÍGENAS AWÁ, DIH E MONTAGEM DE NOVO ACORDO HUMANITÁRIO

Papéis avulsos – Heitor de Paola


Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido

O massacre da - até o momento - indeterminada quantidade de indígenas Awá perpetrada pelas FARC em uníssono com a manipulada libertação de seis seqüestrados em poder do grupo terrorista, ao mesmo tempo em que os meios de comunicação voltaram a tocar no tema do Plano Renascer, e que Piedad e seu grupelho de “intelectuais” anunciaram que iriam continuar empenhados em buscar a paz da Colômbia, resulta não só sintomático como referenda uma vez mais a dupla moral das FARC, cujas ações não deixaram de gravitar em torno do seu Plano Estratégico, tão audacioso para os comandos guerrilheiros como desconhecido pelos que devem desenhar a política e a estratégia integral do Estado para combatê-los.

Um dia depois de acabada a comédia, a Telesur e seus seguidores publicaram pela Internet um vídeo singular. Piedad Córdoba e Daniel Samper estavam com semblante transtornado e se sentiam profundamente decepcionados pela conduta do Estado colombiano ao qual, por obrigação moral, deviam respaldar.

Essa atitude de suposto desgosto dos dois personagens mencionados obedecia aos conteúdos de umas gravações que um terrorista pôs a rodar, enquanto tramavam comendo uma comida mal feita e sob um discurso de universitário neófito nas lides marxistas. Inclusive Piedad anunciou com veemência que ao fim do show publicitário montado para lavar a imagem dos seqüestradores, que daria uma entrevista coletiva a imprensa para denunciar a irregularidade, ao mesmo tempo em que movia a cabeça com afetações de desgosto, complementados pelos gestos de dignidade de cristaleira de Daniel Samper.

Porém, o curioso é que no dia seguinte o governador de Nariño pôs a descoberto que esses mesmos terroristas que, com cara de anjinhos falavam de seriedade e de humanizar a guerra, não só haviam massacrado mais de 15 indígenas, senão que com o maior desembaraço reconheciam o aberrante etoncídio, e ao mesmo tempo confessavam a autoria de um carro-bomba explodido contra a sede da DIJIN em Cali.

Ambas as ações terroristas derivam-se de uma ordem emitida por Cano ao Bloco Ocidental, que consistia em cometer diversas ações delitivas para demonstrar poderio armado e para desprestigiar a Política de Segurança Democrática do governo nacional.

E é curioso porque, nem Piedad Córdoba nem Daniel Samper, nem Jorge Botero, nem Morris, julgaram o cinismo dos terroristas Jairo Martínez e Mosquera, que durante a farsa da libertação falaram com cara de seminaristas acerca de sua suposta visão pacifista.

Em contraste com a gravidade do crime macabro, os amigos da paz ou “Colombianos pela Paz”, como se autodenominam, limitaram-se a enviar um comunicado aberto aos meios de comunicação, para que as FARC urgissem em esclarecer. Não para condená-los pelo covarde massacre, nem para exigir-lhes que libertem os seqüestrados, ao contrário, para fazer-lhes o jogo e dar-lhes fôlego político com o argumento de que Lula da Silva está muito interessado em continuar na busca da paz na Colômbia. De remate os idiotas úteis, donos de uma eterna idiotice colombiana, lhes complementaram a jogada.

A síndrome que a mãe de Ingrid Betancourt edificou parece haver-se enraizado na consciência de muitos estultos. Em lugar de assediar as FARC para que libertem os seqüestrados sem nenhuma contraprestação, e de exigir à comunidade internacional não só para que os qualifique como terroristas como para que os persiga nos países onde passeiam como Pedro em sua casa, os “intelectuais” e duvidosos amigos da Colômbia, caíram na mesma estupidez crônica do pai do cabo Moncayo [1].

Conscientes do estratagema alguns, e idiotas úteis outros, parecem não se dar conta de que, quanto mais assediam o governo nacional para que ceda à palhaçada do acordo humanitário nas condições que desejam Chávez, Correa, as FARC e Piedad Córdoba, mais as FARC serão duras, não cederão e manterão esses seqüestrados em suas guaridas como jóias da coroa que lhes permita sua ressurreição política.

Estes personagens são tão mesquinhos, que por estarem empenhados em derrubar o presidente Uribe ignoram o grave dano que causam à institucionalidade, ao Estado de Direito e ao futuro da liberdade na Colômbia.

E o que é pior: continuam obcecados em ter Cuba como paradigma, o empobrecido e oprimido país que depois de meio século de ditadura comunista sobrevive graças aos dólares que enviam diariamente à ilha os chamados “gusanos”, inimigos da ditadura castrista, os dinheiros quentes que as jineteras arrecadam por prostituir seus corpos com os turistas europeus e norte-americanos, e a ingente ajuda do regime chavista.

O certo é que as FARC massacraram uma etnia com a circunstância agravante de que seus líderes naturais dizem condenar as FARC, porém de maneira simultânea se lhes ocorre outra imbecilidade. Crêem que para eles as leis colombianas não são válidas, nem que o Exército Nacional possa entrar em seus vilarejos. Eis aí o tragicômico drama da Colômbia. Enquanto cada um espiche a corda para seu lado, a anarquia será superior à prudência e à ordem sócio-política.

E enquanto este drama açoita a etnia Awá, perto do lugar do execrável crime o ex-vice-ministro de Segurança equatoriana, Ignacio Chauvín, pôs o dedo na ferida. Reconheceu que o governo de Correa se reunia com Raúl Reyes, que alguns setores do regime de Correa estão corrompidos pelo narcotráfico até a medula, e que tal como aparece escrito nos computadores do terrorista abatido, a Associação Latino-Americana de Direitos Humanos – ALDHU – oferece identidade aos equatorianos que se vincularam aos círculos e milícias bolivarianas das FARC incrustados no país vizinho, com a permissão das autoridades acumpliciadas com os terroristas colombianos e que, além disso, a agressão contra a Colômbia descoberta nos arquivos de Reyes está vivinha e ainda não acabou.

E aí ganha força a segunda curiosidade. Nem Piedad Córdoba, nem Daniel Samper, nem nenhum dos “intelectuais” se manifestaram a respeito. É como se estas revelações não fossem transcendentais para a paz no país.

Porém, há outros cúmplices: são os meios de comunicação, dados a viver da denúncia, da oportunidade momentânea e de publicar notícias sem profundidade analítica. Tudo isso em nome da liberdade de imprensa, situação da qual as FARC sacam dividendos publicitários importantes.

Em síntese, as FARC massacraram uma porção de uma etnia que se rebelou a incorporar jovens nas guerrilhas comunistas, enquanto ficou a descoberto a atividade narco-terrorista de Rafael Correa, um de seus mais importantes cúmplices.

Entretanto, os promotores da “paz”, os “difusores do acordo humanitário com cavalo de Tróia incorporado” e os sobressaltados idiotas úteis do estratagema, guardaram silêncio cúmplice a respeito... Por algum motivo será!

Nota da Tradutora: Quando começaram as libertações dos seqüestrados das FARC, com Clara Rojas e Consuelo Perdomo em janeiro do ano passado, o professor Moncayo, pai do cabo seqüestrado pelas FARC há vários anos, iniciou uma peregrinação pela Colômbia e depois Venezuela com um cartaz que trazia pendurado ao pescoço pedindo a libertação do seu filho. Lamentavelmente, ele é mais um das vítimas que acreditam no embuste do “acordo humanitário”, só que não avisaram para ele que seu filho não tem “valor de troca” por ser um simples cabo e que por isso mesmo não vão apelar por sua vida.

Tradução: Graça Salgueiro


O autor é Analista de assuntos estratégicos - www.luisvillamarin.co.nr

http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=695

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