terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O EXÉRCITO CONSTROI

Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2009

Resistência militar

Gen Ex José Carlos Leite Filho

linsleite@supercabo.com.br

Em qualquer parte do Brasil a presença do Exército faz valer o lema “Braço Forte e Mão Amiga”, quer pela instrução e adestramento de jovens que prestam o serviço militar obrigatório, quer pela contribuição ao crescimento e desenvolvimento do País ou pelas ações sociais que empreende. Quando se costuma ver a força do marketing oficial, abundantemente utilizado e ricamente remunerado, tornando realidade, aqui e alhures, obras virtuais e engrandecendo, além dos verdadeiros méritos, alguns governantes, torna-se oportuno exaltar o trabalho de uma Instituição que apenas faz e cumpre, sem alarde, a sua missão.
Recentemente, o informativo castrense Noticiário do Exército transcreveu um artigo publicado na Gazeta Mercantil, de 01/12/08, da autoria de Raphael Bruno, onde constam dados a meu ver merecedores da mais ampla difusão uma vez que, certamente, ajudam a um melhor conhecimento da Força Terrestre.
Diz o autor que “por meio de uma série de acordos entre o Governo Federal e as Forças Armadas, diversas obras do PAC têm sido tocadas pela Diretoria de Obras de Cooperação ((DOC) do Exército. Em todo o País, já são 80 projetos executados pelos Batalhões de Engenharia. Entre estas obras, estão o projeto de integração do Rio São Francisco, a restauração da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, e da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém (PA), além das reconstruções (sic) do aeroporto de Natal (a meu ver se refere às obras do aeroporto de São Gonçalo) e do porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. o Exército abocanha, hoje, o equivalente a 5% dos recursos para obras do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT). Um repasse anual próximo de R$200 milhões.
A DOC assumiu três de um total de oito trechos da rodovia que liga Natal a Recife, em obras de restauração e duplicação, inicialmente licitadas para a iniciativa privada, totalizando 140 km. Os lotes, como são chamados os trechos, foram entregues aos militares após uma série de impugnações dos processos de licitação.
Os interesses acirrados em torno das obras da BR-101 se justificam pelos valores elevados envolvidos no projeto. Só a parte do Exército está estimada em R$ 500 milhões. A mão-de-obra militar empregada na BR-101 supera mil homens fora os efetivos das empresas privadas terceirizadas. O trabalho na rodovia consiste na restauração do asfalto da via já existente e, no caso da duplicação da BR, não com asfalto, mas com concreto, a chamada pista rígida. Enquanto o asfalto dura no máximo 10 anos e precisa de manutenção constante, o concreto, em condições adequadas, pode ter uma durabilidade de até 50 anos com muito menos trabalho de manutenção. A diferença é suficiente para que, mesmo custando R$ 2 milhões o quilômetro, a pista rígida ainda leva vantagem sobre a flexível, cujo custo do quilômetro não costuma passar dos R$ 800 mil.
Embora o governo aposte cada vez mais no Exército como solução eficiente para driblar não só os custos das obras do PAC, mas também dificuldades envolvendo licitações de projetos do programa, os militares não estão livres de muitos dos problemas que afligem as empresas privadas. Na BR-101, a DOC tem redobrado os esforços para conseguir cumprir o cronograma. Ao longo dos trechos percorridos pela reportagem, mesmo que fosse possível encontrar locais em fases avançadas das obras, parte ainda passava pelos estágios iniciais da duplicação.
Entre as dificuldades que tiram o sono da engenharia do Exército estão o volume excessivo de chuvas no ano, a lentidão dos processos de obtenção de licença ambiental e a desapropriação de residências localizadas na margem da rodovia – mais de mil famílias já foram realocadas -, além do solo mole encontrado em alguns dos trechos.”
Apesar das dificuldades, missão é para ser cumprida, e o prazo final para o Exército concluir as obras vai até abril de 2010.
É ainda o repórter Raphael Bruno quem comenta que “a atuação dos militares na região não fica devendo à de gigantes da construção civil presentes em outros lotes da BR-101 como a Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht. Pelo contrário, a pavimentadora de concreto utilizada pelo Exército na obra, importada da Alemanha em 2005 por R$ 4,5 milhões, é equipamento de ponta em tecnologia de construção de rodovias e o número de máquinas semelhantes nas mãos da iniciativa privada brasileira não passa de três.
A usina de asfalto utilizada pelo Exército na BR-101 já foi sondada por empreiteiras em obras como a construção de novos setores do Rodoanel, em São Paulo. “Engenheiros militares, qualificados nas Forças Armadas, são constantemente assediados pelas construtoras e trocam a farda pelo traje civil de olho em salários até quatro vezes maiores.”
Cumpre, finalmente, registrar que a execução das obras pelo Exército costuma sair de 10% a 15% mais em conta do que quando a iniciativa privada entra em cena.


(Publicado no “O Jornal de Hoje”, de 07/08 Fev 09-Natal// RN)

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