19/02/2009
Farol da Democracia Representativa
Nivaldo Cordeiro
18 de fevereiro de 2009
A precipitação da crise econômica na velocidade em que se encontra, à escala mundial, pode ser considerada a falência completa da ciência econômica como é pesquisada, ensinada nas universidades e usada pelos formuladores de políticas por todos os quadrantes. Essa falência não é mais rotunda porque um pequeno grupo de praticantes ainda persiste no núcleo duro de seu saber, que é o mesmo desde Adam Smith: a verdade de que o problema econômico da humanidade é o Estado mercantilista, sempre foi. A humanidade não poderia ter permitido que a Besta estatal tivesse crescido na proporção que cresceu.
É patético ouvir “especialistas” econômicos receitarem o caminho mais curto da a superação da crise. Quase todos eles advogam por mais crescimento do Estado, mais regulação, mais emissão de moeda, mais estatização. Ora, foi precisamente por terem feito “mais” isso tudo que a crise se instalou. Por mera decorrência lógica aquilo que constitui a etiologia da crise não poderia servir para a sua superação. É preciso reconhecer essa verdade elementar se os governantes tiverem algum compromisso com os destinos coletivos e não apenas com os poderosos lobbies estabelecidos. A crise veio determinar que os insanos planos de aposentadoria, a gigantesca dívida pública e os múltiplos clientes parasitas do Estado terão que se virar como todo vivente: ganhando o pão de cada dia com o suor de seu rosto.
Obviamente que algo assim só poderá ocorrer mediante uma catástrofe e a crise que chegou não merece outro adjetivo. Trata-se de uma crise catastrófica cujas ondas estão a se esparramar progressivamente por todo o Globo. Seu epicentro sem dúvida é os Estado Unidos, mas suas conseqüências mais dramáticas serão sentidas naqueles países cuja prosperidade depende das exportações para lá. A crise pode ser resumida numa frase: empobrecimento rápido dos norte-americanos, que estão a perder empregos, rendas e riquezas. Esse processo está apenas no início. A superação da crise requer primeiro uma forte redução do Estado, inclusive no que se refere ao aparato militar. Isso não será feito com sorriso nos lábios.
O caminho dos bailouts só leva ao desastre ampliado. O defunto morto pode até ser mumificado, mas não ressuscitado. Empresas como a General Motors Corporation terão que enfrentar o desaparecimento. Será inexorável. Da mesma forma, seus pródigos fundos de pensão. Essa gente que virou parasita terá que descobrir novamente o caminho do trabalho. Emissão primária de moeda para manter privilégios é não apenas imoral, é irracional. O ônus da própria sobrevivência é de cada um. Trata-se do maior engodo do Estado vender a idéia de que ele mesmo tinha a fórmula mágica de driblar a lei da escassez. A crise mostrou que não tinha.
Essa crise vai se manifestar em três fases ou lâminas cortantes, como digo metaforicamente. A primeira lâmina, a inicial, alcançou os empregos. Todas as empresas que tinham alguma folga de recursos humanos fizeram demissões instantâneas. A queda de demanda inicial levou a mais demissões. Fosse um ciclo econômico normal tudo estaria esgotado nesse movimento inicial, mas lamentavelmente estamos diante de uma crise cataclísmica.
A segunda lâmina, já posta em movimento, levará ao corte das unidades deficitária no interior das empresas mais fortes e, conseqüentemente, a mais desemprego. Este processo está em curso mundialmente. As empresas, tirante as mais frágeis que já estão fechando, descartarão tudo aquilo que virou peso morto.
Por fim virá a terceira lâmina, quando as próprias empresas fenecerão em massa, como moscas ao sopro do aerosol venenoso, o bafo da crise. Será sua fase mais dolorosa, mais cruel, pois aí a taxa de desemprego crescerá exponencialmente e conhecimentos e capital serão transformados
O grande perigo é que, ao corte da terceira lâmina, aconteça algum conflito militar de maiores proporções, como um ataque de Israel ao Irã. A tentação de se implantar um regime de guerra nos moldes do que vimos no final dos anos trinta será muito grande, tudo poderá acontecer.
Nada está a salvo, nada é seguro. O mundo de iniqüidades estatais, de privilégios abusivos, de vagabundagem remunerada está acabando. A questão é saber o que será posto no lugar. Só a economia natural, com um ordenamento jurídico baseado na lei natural é que poderá salvaguardar os valores superiores da civilização. O problema é que os homens precisarão fazer uma conversão ao Bem e sabemos que esse gesto é raro. É provável que a decadência se arraste por anos, talvez décadas, antes que uma nova ordem, racional e justa, seja construída.
Quem viver verá
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