quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Marketagem do crime organizado: filme que romantiza a criação do Comando Vermelho começa a ser produzido

Quarta-feira, Fevereiro 04, 2009

Alerta Total

Por Jorge Serrão

A marketagem em favor do crime organizado, mostrando o lado romântico e até revolucionário de facções criminosas, ganha mais um produto de divulgação, desta vez cinematográfico. Breve, nos cinemas, "400 contra 1 - Uma história do Comando Vermelho". Dirigido por Caco Souza, o filme, que começou a ser rodado em Curitiba, é baseado no livro autobiográfico de William da Silva Lima, mais conhecido como “Professor”, um dos principais articuladores intelectuais da organização.

A Falange Vermelha nasceu em 1974, dentro da galeria B do Instituto Penal Cândido Mendes, mais conhecido como Presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro – hoje em ruínas, pois fora desativado anos atrás. Surgiu da união entre presos políticos e comuns que foram “ideologizados”. O grupo logo rivalizou com outra facção mais violenta, a Falange Jacaré, acusada de estuprar, roubar e intimidar presos.

Na década de 80, mais organizada como facção criminosa, a Falange virou “Comando Vermelho”. A confusão entre ideais revolucionários e criminosos nunca se diluiu no CV, que é parceiro das FARC colombianas – principal fornecedora de drogas aos “comerciantes ilegais” brasileiros. O Cv e as Farc têm simpatizantes no Foro de São Paulo, balaio de gato que reúne as ditas esquerdas na América do Sul e Caribe.

O CV que sucedeu a Falange Vermelha virou gestor do tráfico de drogas e armas, assaltos a bancos e roubo de carros no Rio de Janeiro. Ainda na década de 80 sofreu divisões que produziram novas facções criminosas, como o Terceiro Comando. O modelo administrativo do CV, cujo lema é “Paz, Justiça e Liberdade”, serviu de inspiração a outra facção criminosa que ganha força nacional: o PCC – Primeiro Comando da Capital, que age a partir de São Paulo.

Os produtores do filme garantem que não farão qualquer apologia ao crime na obra em produção. No entanto, os reais poderes políticos e econômicos por trás das facções criminosas vão adorar o enredo do filme. Afinal, a obra produzirá o efeito psicossocial de romantizar e justificar as supostas “razões” da “vida bandida”, emprestando-lhe ares revolucionários e bem intencionados.

Revolucionário Professor

Na década de 80, William era conhecido pelo apelido de “Professor”.
Destacava completamente dos demais presos na cadeia, e referia-se à Falange como “uma Fundação”.

No Governo Moreira Franco, o Departamento do Sistema Penitenciário permitia que ele se vestisse com uma calça militarizada, coturno marrom e uma boina que lembrava o ícone cubano Che Guevara.

Era leitor voraz de toda literatura de esquerda, e debatia tais questões com repórteres que o entrevistassem na prisão.

O filme

O filme tem roteiro de Victor Navas (co-roteirista de "Carandiru", "Cazuza - O tempo não para" e "Cabra cega), fotografia de Rodolfo Sanchez (o mesmo de "Pixote", "O beijo da mulher aranha" e "Boleiros 2") e produção da Destiny International, Edu Felistoque e Toni Domingues. A distribuição será da PlayArte.

Começou a ser rodado no fim de janeiro em Curitiba, mais precisamente no Presídio do Ahú, desativado desde 2006.

O ator Daniel de Oliveira viverá William, o narrador da história.

O elenco ainda inclui Daniela Escobar, Fabrício Boliveira, Branca Messina, Negra Li, Anderson Jader e Fabrício Boliveira, entre outros.

O blog

Caco Souza é um cineasta com larga experiência em filmes publicitários, documentários e curtas-metragens em todo o país e também no exterior, incluindo Estados Unidos, Canadá, Indonésia, África do Sul e Portugal.

O filme já tem um blog oficial e lá está escrito:

“O filme "400 contra 1 - uma história do Comando Vermelho" é uma ficção, livremente inspirada no livro homônimo de William da Silva Lima que esteve detido no Instituto Penal Cândido Mendes em Ilha Grande (RJ). Durante os anos 1970, assaltantes de bancos (presos comuns) e guerrilheiros (presos políticos) eram enquadrados na Lei de Segurança Nacional, o que resultou numa controversa convivência. Neste mesmo período, presos comuns passaram a se organizar em prol de seus direitos, algo que culminaria com a facção criminosa "Comando Vermelho". O livro de William nos permite acompanhar sua visão desta convivência e igualmente do cerco que confere nome ao livro, quando (em 1981) cerca de quatrocentos policiais, numa operação que durou onze horas, assassinou Zé Bigode um dos lideres da Falange Vermelha, como era então conhecida a quadrilha”.

http://400contra1.blogspot.com/2009/01/livremente-inspirado.html

O Livro

No blog oficial do filme, está citado o livro que o inspirou:

Resta pouco: explicar como e porque vivi até hoje, na maior parte do tempo, sem nome, sem profissão e sem ver minha família, tendo na violência a maneira de sobreviver entre os homens

LIMA, William da Silva. "Quatrocentos contra um: uma história do Comando Vermelho", Editora Labortexto, SP, 2001, p. 25

Postado por Alerta Total de Jorge Serrão às 06:14

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