Colômbia na cúspide da liberdade na América
Farol da Democracia Representativa
Consultor do FDR
Próximo de cumprir-se o quinquagésimo aniversário do regime mais criminoso que olhos humanos viram neste continente, desde que os espanhóis em cem anos enviaram ao “céu” os cem mil índios que encontraram em Cuba, sinto uma angústia profunda do cinismo imperante da esquerda. E não me refiro tão somente à continental mas a essa luz que agoniza desde a amante de Zeus, através do aplaudido Iluminismo que obscureceu as mentes européias, criando os totalitarismos do século XX, e que hoje ainda perduram no terrorismo racional deste continente.
Não obstante esta realidade na qual afloram as figuras desconjuntadas de Castro, Chávez, Morales, Correa, produziu-se um fato que abre uma luz de esperança para a liberdade na América Latina. Esse fato inusitado levado a cabo pelo presidente Uribe de resgatar Ingrid Betancourt e outros quatorze reféns das FARC, pode ser o marco que mude a geopolítica latino-americana infestada pelo cinismo coletivo, enraizado na suposta distribuição da riqueza e da solidariedade.
Este fato de características singulares produziu uma verdadeira comoção no mundo, porém é de se esperar que depois da emoção do reencontro se tome consciência das verdadeiras causas ideológicas que geram a necessidade de levar a cabo ações desta natureza. Ações indubitavelmente meritórias, mas que em si não parecem poder acabar com a percepção pseudo-ética da natureza do terrorismo, supostamente sustentada na redistribuição da riqueza, porém na realidade com um objetivo claro: a busca do poder político absoluto.
Insisto: a emoção causada pela recuperação dos reféns que como a Srª Betancourt pareciam condenados a uma morte segura, como conseqüência da intransigência e criminalidade terrorista, não implica que possamos esquecer os mais de mil reféns ainda em mãos destes criminosos que ainda sofrem a dor e a desesperança do cativeiro. Não deveríamos esquecer tampouco, ou melhor, desconhecer, como pretende a União Européia, que a maior parte dos reféns deste continente se encontra em Cuba e são os cidadãos cubanos, sujeitos por quase cinqüenta anos a viver entre as grades do pensamento e na pobreza gerada pela distribuição da riqueza em favor da Nova Classe, no dizer de Milovan Jdilas. Desafortunadamente ninguém parece tomar consciência de que as FARC representam o projeto político criminoso que se aposentou em Cuba em 1º de janeiro de 1959, e que hoje aparece representado e emulado pelo Sr. Chávez da Venezuela.
Em virtude dessa cegueira política, ou melhor, ética, a União Européia acaba de levantar as sanções que impuseram a Cuba há uns cinco anos, quando o regime como em outras oportunidades impediu a saída da ilha de uns 75 cubanos e ao mesmo tempo mataram a três deles. Não é que eu creia que tais sanções poderiam transformar o regime tirânico que hoje é representado por Raúl Castro sob a sombra de seu irmão. Porém, este ato representa um novo desconhecimento da realidade cubana e que não é outra que a que as FARC pretendem instaurar na Colômbia. Castro é as FARC no poder e tampouco podemos ignorar que a exaltação da figura de Che Guevara não é mais que um alinhamento com o terrorismo, quer seja revolucionário (Colômbia) ou no poder (Cuba).
Em outras palavras, as diferenças de riqueza em nosso continente ao Sul do Rio Grande não são o resultado dos empreendedores que as criam senão dos governos que as repartem. Ou seja, nessa pretendida ética da igualdade se justifica a violação dos direitos individuais, com o qual desaparece a criação de riqueza e se cria um poder político absoluto, hoje aparentemente legitimado pela democracia eletiva. Poderia dizer que os que supostamente querem criar uma sociedade na qual o justo “não” peque sete vezes criam os governos que pecam setenta vezes sete E nesse sentido queria recordar as sábias palavras de Leão XIII em sua encíclica Rerum Novarum de 1809, onde disse: “...na sociedade civil não podem ser todos iguais, os altos e os baixos. Afanam-se por ela, na verdade, os socialistas; porém esse afã é vão e contra a natureza mesma das coisas. Porque a natureza mesma pôs nos homens gradíssimas e muitíssimas desigualdades. Não são iguais os talentos de todos, nem igual o engenho e a saúde, tampouco as forças. E a necessária desigualdade dessas coisas segue espontaneamente a desigualdade na fortuna, a qual é por certo conveniente à utilidade, quer seja dos particulares quer da comunidade”.
Perdoem-me a extensão da citação anterior, porém creio sumamente relevante neste momento em que a suposta globalização parece haver globalizado o critério contrário. Era evidente que Leão XIII estava a favor da divisão do trabalho e influenciado por Adam Smith, mas não Pio XI, que quarenta anos depois escreveu a Quadragesimus Anus em franca oposição a seu antecessor e decididamente influenciado por Hegel - como parece estar também o atual Papa -, chegou ao acordo com Mussolini com o fascismo corporativo no qual o Estado era tudo e o indivíduo nada.
Entretanto, o que podemos esperar da Europa – como ja havia previsto Sarmiento – que, depois de criar os sistemas políticos mais criminosos que a História conhecera, como o assinala François Revel, insiste na ética da distribuição e da desqualificação do único sistema que permitiu a criação de riqueza neste mundo e que fora o capitalismo? Em um artigo de Stephen Theil, publicado pela revista Newsweek com o título “Filosofia Européia do Fracasso”, diz: “Tanto nas escolas da França como nas da Alemanha, por exemplo, têm colaborado para arraigar uma séria aversão ao capitalismo... O capitalismo mesmo é descrito em vários pontos do texto como brutal, selvagem, neoliberal e americano”. E ainda cremos que existe uma civilização ocidental e se ignora a diferença sideral entre a filosofia política franco-germana que produziu os totalitarismos do comunismo e do nazismo, e a anglo-americana que deu ao mundo, pela primeira vez na História, a oportunidade da liberdade.
Ante esta hipotética realidade que já havia sido percebida por Von Mises em 1922, quando observara que o problema com o socialismo é que ainda os que se lhe opõem aceitam suas premissas éticas fundamentais (sic), não pode estranhar que a Europa apareça hoje preocupada com a democracia no Zimbabwe e pretenda ignorar a tirania cubana que está para cumprir suas bodas de ouro com Satanás. Então me pergunto: qual é a diferença entre Mugabe e Castro? Devo dizer que sempre me opus ao embargo americano a Cuba, que veio aparecer como a causa do desastre produzido pela revolução comunista. Porém, isso não quer dizer que possa justificar que se entregasse Cuba à órbita soviética pela Nova Fronteira, e que determinasse o processo de subversão na América Latina dos anos setenta, hoje aparentemente revalorizado em nome dos direitos humanos e do terrorismo de Estado que ainda pretende ignorar o das FARC.
A euforia causada pela brilhante operação que deu como resultado a libertação de Ingrid Betancourt e de outros reféns das FARC não pode levar ao esquecimento o caráter delitivo dos terroristas mais antigos do continente. Porém, mais importante ainda é que se pretenda ignorar que a exaltação e admiração por Che Guevara constitui um aval implícito e explícito ao terrorismo das FARC, além de ligadas com o narco-tráfico das quais Cuba é seu representante por antonomásia. É uma falácia ignorar a ideologia que sustenta a suposta ética do que denominei o terrorismo racional, que se iniciou com os jacobinos, seguiu com os bolcheviques e subseqüentemente com os nazis. Porém hoje parece que a suposta solidariedade da esquerda conseguiu confundir o capitalismo, como a direita nazi. Enquanto se ignoram os crimes cometidos pela subversão na América Latina financiados pela União Soviética e treinadas em Cuba.
É possível que a brilhante atuação do exército colombiano possa resgatar em alguma medida a realidade da verdadeira alternativa que o continente enfrentou na década de setenta: ou os militares ou os comunistas. E esta realidade não pretende ignorar nem os erros nem os excessos cometidos pelos governos militares da época. O que é sim um crime maiúsculo, é ignorar os crimes cometidos pelos idealistas subversivos, dos quais dão conta Nicolás Marques em seu livro “A Mentira Oficial”, bem como a obra maior de Carlos Manuel Acuña a respeito: “Por Amor ao Ódio”, que começaram na Argentina durante o governo democrático de Isabel Perón.
Porém sou otimista e espero que este fato inusitado ponha de manifesto as aberrações existentes no continente. Em primeiro lugar, ponha mais uma vez em evidência a criminalidade em potencial de Chávez e de suas relações mais que demonstradas com as FARC, que certamente compartilham sua ideologia. Do mesmo modo, que se compreenda a posição cínica do Sr. Inzulza em seu papel de diretor da OEA no julgamento que fizera sobre a violação da soberania equatoriana por parte do exército colombiano. Parece que a ideologia determina o caráter da soberania e quando se ataca a Colômbia desde o território equatoriano não existe violação da mesma. Creio que este evento poderia mudar a geopolítica latino-americana e fazer-nos compreender que a democracia só tem razão de ser quando se respeitam os direitos individuais e se limita o poder político. Pois como bem disse Alberdi: “O país é livre quando não depende do estrangeiro, porém os indivíduos não são livres, quando dependem total e absolutamente do Estado”.
Tradução: Graça Salgueiro
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