16/07 - Lula tieta herói do Vietnã
A verdade sufocada
Presidente pede a general Giap para tirar foto com Dilma, fala de Niemeyer e de Fidel
Por Chico de Gois
HANÓI, Vietnã. O saudosismo de esquerda tomou conta ontem do presidente Lula e sua comitiva, especialmente a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, durante visita à capital vietnamita. Lula deixou o protocolo de lado para fazer um pedido especial ao general Vo Nguyen Giap, herói nacional e principal estrategista do Vietnã nas guerras pela independência da França e contra os Estados Unidos: que ele aceitasse tirar uma foto ao lado da ministra, que Lula descreveu como uma das "adoradoras do líder", de 97 anos. Os comunistas Oscar Niemeyer e Fidel Castro, ex-ditador cubano, também foram citados por Lula na conversa com o general.
"Desde muito cedo acompanhei a Guerra do Vietnã e posso lhe dizer que fiquei tão orgulhoso da vitória do Vietnã quanto um vietnamita. A vitória de vocês foi a vitória do oprimido e nós nos sentimos co-participantes e muito orgulhosos do significado da vitória de vocês para a Humanidade."
Declaração Presidente Luiz Inácio - Hanói - Vietnã 10 Julho 2008
- Queria pedir um favor - começou Lula, ainda tímido, dirigindo-se a Vo Nguyen Giap. - Aquela moça (apontando Dilma) é minha ministra no Brasil, foi na sua juventude militante de esquerda, ficou três anos e meio na cadeia e ela tem pelo senhor uma verdadeira adoração.
Diante da dificuldade do tradutor em entender a palavra adoração, Lula mudou para admiração:
- Seria importante que o senhor permitisse que ela tirasse uma foto ao seu lado.
Dilma, que até então se mostrava séria, e cuja presença no Vietnã ainda era uma incógnita, esboçou um leve sorriso, entre feliz e encabulada. Levantou-se, dirigiu-se ao velho líder e deu-lhe dois beijos na face. Dilma chegou a Hanói domingo e participou do encontro com empresários brasileiros e vietnamitas.
Já à vontade na função de mestre de cerimônias, Lula lembrou de outro esquerdista famoso do Brasil, o arquiteto Oscar Niemeyer, de 100 anos. Perguntou a idade do general e, diante da resposta, disse que o brasileiro é o mais velho comunista do mundo.
- Mande meu abraço para o velho comunista - saudou Nguyen Giap.
Lula ainda pediu para tirar uma foto ao lado do general para enviá-la a Fidel Castro.
- Tem um amigo nosso que está doente, que é o Fidel Castro, e quero levar esta foto para mandar para ele.
O general Giap é uma lenda viva em seu país e entre militantes esquerdistas mundo afora, sobretudo os da geração que ingressou na luta armada na década de 60, caso de Dilma. Embora debilitado, ainda é lúcido. Na luta pela independência do país, foi exilado e, enquanto estava no exterior, sua mulher, irmã, pai e cunhada foram presos, torturados e mortos.
O general elogiou a liderança brasileira na América Latina e a cooperação com o Vietnã e disse que a principal força no momento é a juventude. Lula recebeu de presente um livro, "Años y meses inovidables".
- Encontrar aquele homem minúsculo, com 97 anos e saber que por detrás daquela aparência minúscula tem um homem que derrotou o grande poder militar francês e o grande poder militar americano é, no mínimo, estar diante de uma figura superior.
E fez elogios aos vietnamitas:
- A minha geração é a geração da Guerra do Vietnã. Aprendi a gostar dos fracos, e como o Vietnã se apresentava diante dos Estados Unidos com soldados pequenos, pessoas magrinhas, para enfrentar aqueles homens de 1,90m dos EUA, bem alimentados, com hambúrguer, automaticamente a gente passava a torcer para os considerados mais fracos.
A Guerra do Vietnã ocorreu entre 1959 e 1975, entre o Vietnã do Norte, apoiado pelos países comunistas, e o Vietnã do Sul, apoiado pelos Estados Unidos. Em 1965, os EUA enviaram tropas para evitar a unificação do país sob regime comunista, mas foram obrigados a se retirar em 1973.
Mais cedo, diante do busto do herói nacional Ho Chi MIn, no Palácio Presidencial, o presidente já havia celebrado as vitórias do Vietnã:
- O que vocês fizeram aqui foi muito mais que vencer uma guerra, foi uma lição de vida.
O presidente do Vietnã, Nguyen Minh Triet, devolveu os elogios: disse que os vietnamitas amam o futebol e o samba do Brasil.
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