segunda-feira, 21 de julho de 2008

Lula no Vietnã

por Ipojuca Pontes em 21 de julho de 2008

Resumo: Em sua visita ao Vietnã Lula da Silva prosseguiu com sua carreira de caixeiro viajante de ocasião e historiador amador que se esquece de obviedades.

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Na segunda quinzena deste mês, sob o pretexto de diversificar parcerias comerciais com países do Terceiro Mundo (na África, América Latina e Ásia), Lula da Silva terminou no Vietnã. De fato, os “nossos” negócios com o país asiático são mais que inexpressivos, mas o Vietnã, como se sabe, representa um voto na rota traçada pelo Itamaraty Vermelho para o Brasil ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Daí, o giro internacional que custou milhões de reais aos cofres da Viúva, cada vez mais saqueados.

De certo modo, a viagem de Lula não deixou de ter um toque sentimental (como diz a canção vulgar, “sentimental demais”). Conta o repórter Chico de Gois, enviado de O Globo para cobrir a viagem, que o vosso presidente quebrou o protocolo durante a visita à Hanói, capital vietnamita, para fazer um pedido especial ao General Giap, considerado o estrategista militar que derrotou o “exército imperialista” na guerra que é tida como a maior vergonha militar dos Estados Unidos.

- Queria pedir um favor – começou um Lula, tímido, dirigindo-se a Vo Nguyen Giap enquanto apontava para a dona da Casa Civil, Dilma Roussef. - Aquela moça é minha ministra no Brasil, foi na juventude militante de esquerda, ficou três anos e meio na cadeia e ela tem pelo senhor uma verdadeira adoração. Seria importante que o senhor permitisse que ela tirasse uma foto ao seu lado.

(Quem sabe por lapso de memória, o presidente Lula esqueceu de informar ao provecto general, de 97 anos, que a ministra ali presente, até então incógnita, deixara o Brasil depois de verdadeiro bombardeio promovido pela mídia, devido a ocorrência de escândalos os mais diversos, entre eles o da divulgação – ilegal - de um dossiê contra um ex-presidente socialista (FHC) e sua digníssima esposa.

E provavelmente também esqueceu de mencionar ao glorioso general que a ministra Roussef, sob o codinome “Estela”, integrando o grupo armado VAR-Palmares, em 1969, foi uma das cabeças planejadoras do roubo do cofre de Ana Capriglione Benchimol – a bem da verdade, um roubo que rendeu mais de dois milhões e oitocentos mil dólares, no que é considerado, até hoje, o maior assalto da subversão organizada no país – dólares cujo destino permanece uma incógnita).

Segundo o enviado especial de O Globo, a companheira de armas Dilma Roussef, “que até então se mostrava séria, esboçou um leve sorriso, entre feliz e encabulada. Levantou-se, dirigiu-se ao velho líder e deu-lhe dois beijos nas faces”. Bonito!

O presidente Lula, por sua vez, “já à vontade na função de mestre de cerimônias”, pediu para tirar um foto com o velho general vietnamita para mandá-la como lembrança ao “coma andante” cubano Fidel Castro. A partir daí, assumindo loquacidade incontrolada, o ex-sindicalista não se conteve e revelou-se um historiador da fuzarca: - “Encontrar aquele homem minúsculo, com 97 anos e saber que por detrás daquela aparência minúscula tem um homem que derrotou o grande poder militar francês e o grande poder militar americano é, no mínimo, estar diante de uma figura superior”.

Aqui, para não entrar na canoa furada de Lula, convém aprofundar algumas observações pertinentes: o Vietnã do Norte jamais derrotou o exército dos Estados Unidos. Quem determinou a retirada das forças americanas do conflituoso sudeste asiático foi o que o próprio Giap chamou de “frente interna” da guerra, agindo dentro do território norte-americano com a incessante pressão da mídia local (a TV, em primeiro lugar) de parceria com “ativistas e pacifistas” infiltrados nas instituições do governo, além de intelectuais radicais e movimentos “libertários” tipo Woodstock (“faça amor, não faça a guerra”), composto por militantes universitários, roqueiros, drogados e o exército (rumoroso) das minorias vociferantes.

De fato, o que os norte-vietnamitas consideraram o seu mais poderoso ataque às forças americanas e sul-vietnamitas, a Ofensiva Tet, ocorrida em 1968, não passou de uma fragorosa derrota dos vietcongs e das forças comunistas, que perderam 79 mil homens entre mortos, feridos e aprisionados – contra as baixas de 1.100 soldados americanos e cerca de 2.900 combatentes sul-vietnamitas. O quadro das baixas, no entanto, associado ao ataque vietcong à embaixada americana em Saigon (onde todos os guerrilheiros foram mortos e nenhum soldado americano perdeu a vida), acentuaram, na “frente interna”, a oposição antiguerra nos EUA – o que fez, mais tarde, o presidente Richard Nixon acelerar a retirada das tropas do Vietnã.

A tragédia bélica, no entanto, não ficou por aí. Com a retirada americana e a ocupação de todo Vietnã pelos vietcongs e pelas tropas de Giap, o governo comunista coletivizou a agricultura, massacrou os opositores e enviou centenas de milhares de sul-vietnamitas para campos de trabalhos forçados. Em 1978, já em conflito com os interesses da China na região, o Vietnã invadiu o Camboja e nele instalou um poder dissidente, decorrendo daí novos massacres e a fuga em massa dos cambojanos acossados entre duas forças comunistas.

A partir de 1986, enfrentando forte crise de abastecimento, a miséria da economia comunista obrigou o Vietnã a abrir-se aos investimentos do capital externo. Em 1994, Bill Clinton suspendeu o embargo comercial dos Estados Unidos, que passou a conceder empréstimos e incentivar a presença de empresas americanas no país asiático. Com o ingresso do capital estrangeiro e a instalação da Bolsa de Valores (típico instrumento da economia de mercado), o nível de pobreza do Vietnã caiu de 58% para menos de 14%.

Lula da Silva, coitado, não se interessa por tais obviedades. Em vez disso, prefere hostilizar os Estados Unidos, nosso maior parceiro comercial, e sonegar o valor de uma democracia que ainda é, apesar dos pesares, um exemplo para o mundo.

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