por João Luiz Mauad em 25 de julho de 2008
Resumo: Ao invés de apelar para sofismo baratos e argumentos econômicos absurdos, o Prêmio Nobel Joseph Stiglitz deveria assumir, sem rodeios, que é um fã do socialismo e enfrentar as críticas decorrentes de tal postura.
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Na última quarta-feira, 16 de julho, o economista e ganhador do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz publicou no jornal O Globo um artigo panfletário, intitulado “O Fim do Neoliberalismo?”. Nele, acusa essa quimera chamada “neoliberalismo” – que classifica como um “apanhado de idéias baseado na noção fundamentalista de que os mercados são autocorrigíveis, alocam recursos de forma eficiente e atendem bem ao interesse público” – por todos os males econômicos e sociais que assolam o mundo atualmente.
A primeira coisa que chamou minha atenção foi o fato de um economista renomado chamar de “fundamentalista” a um conjunto de idéias e princípios absolutamente lógicos e coerentes, formulados por gente – que ele, pela formação acadêmica, deveria ter lido – da extirpe de Jean-Baptiste Say, Adam Smith, David Ricardo, Frederic Bastiat, Eugene Bohn-Bwerk, Frederic Von Hayek, Ludwig Von Mises, Joseph Schumpeter, Ronald Coase, Douglass North, James Buchanan, Milton friedman, entre outros que, no momento, me fogem da memória. Pode-se não concordar com todas as teorias formuladas e desenvolvidas por essa gente ao longo do tempo, mas tachá-las simplesmente de “fundamentalistas” é o cúmulo do absurdo e não condiz com o prestígio do autor.
O texto todo é uma montanha de bobagens e clichês, através dos quais o senhor Stiglitz demonstra sua total e absoluta desonestidade intelectual. Vejam como funciona a sua estratégia de desinformação; a horas tantas, escreve ele: “Durante um quarto de século, houve uma competição entre os países em desenvolvimento e os perdedores foram claramente os que adotaram políticas neoliberais. Mesmo quando cresceram, os benefícios se acumularam de forma desproporcional em relação aos vencedores”.
Repararam? Que países, afinal, foram esses que venceram e perderam? Estaria ele, por acaso, referindo-se ao Chile, à Irlanda ou à Nova Zelândia quando fala de perdedores que adotaram políticas liberalizantes? Entre os vencedores estariam Venezuela e Zimbábue? Ele afirma que houve ganhadores e perdedores, mas não nos deixa saber quem foram eles exatamente. É muito fácil especular em termos gerais – afinal, como contestar um argumento se não temos os seus termos perfeitamente definidos, não é mesmo?
Seguindo adiante em seu cipoal de baboseiras, o senhor Stiglitz nos informa que “os mercados também não nos prepararam para os custos ascendentes do petróleo e dos alimentos”. Nesse ponto, cheguei a cair na gargalhada. Desde quando é função dos mercados “nos preparar para custos ascendentes”, seja lá de que produto for? Ademais, falar em preços de petróleo e alimentos para tentar provar supostas falhas do sistema de livre mercado, é de morrer de rir.
Tamanha é a desfaçatez do argumento que, no momento exato em que escrevia tal idiotice, o nosso sofista deve ter-se sentido envergonhado. Como ele certamente sabe que boa parte da oferta mundial de petróleo está nas mãos de um poderoso cartel, formado por empresas controladas por governos – a maioria deles totalitários – bem como está perfeitamente ciente das políticas de subsídios generosos que os governos mundo afora concedem aos seus agricultores, tentou consertar a bobagem e emendou uma saída pela tangente, ainda no mesmo parágrafo: “É claro que nenhum dos dois setores serve de exemplo de livre mercado, mas este é, em parte, o ponto: a retórica do livre mercado tem sido usada seletivamente – abraçada quando serve a interesses especiais, descartada quando não o faz”.
Como se pode ver, caro leitor, saiu pior a emenda do que o soneto. Então, se entendi bem, primeiro ele usa dois exemplos de setores onde, inegavelmente, não se pratica nem de longe o livre mercado, para criticar a ineficiência dos mercados. Depois, meio envergonhado da asneira que disse, imputa a culpa pelo fato da existência de cartéis e subsídios nesses setores a certos “interesses especiais”, cuja ganância obrigaria os governos do mundo a agir contrariamente à sua vocação intrínseca para a retidão e a justiça social. A maldade e a ganância humana seriam, portanto, vícios inerentes somente à iniciativa privada, cuja má índole acabaria contaminando a pureza e a nobreza de políticos e burocratas. Ora, faça-me o favor, senhor Stiglitz: não nos chame de idiotas.
Na parte restante do texto, o sofista atém-se aos problemas internos norte-americanos, além de desfiar aquele velho rosário de queixas contra as desigualdades, concluindo que todas as crises, passadas e presentes, desde a presidência de Ronald Reagan, são resultado da “errada alocação de recursos” pelo mercado. Convenientemente, esquece de dizer que essa mesma alocação de recursos é determinada pelos preços e expectativas de lucro, que há muito vêm sendo subvertidos pela ação daninha dos governos e, especialmente, dos Bancos Centrais.
Se a boa teoria econômica liberal realmente defende que mercados livres alocam os recursos de forma eficiente e são auto-reguláveis, ela também nos diz que é o intervencionismo, em todas as suas formas – planificação, regulamentação, etc. – que desvirtua este processo e alimenta as famigeradas bolhas, rupturas e que tais.
De todos os tipos de intervencionismo, talvez o pior de todos seja o que se opera hoje nos
mercados financeiros, onde os bancos centrais arbitrariamente determinam as taxas de juros praticamente por decreto. Isso não é livre mercado. Ao contrário, é a completa subversão dos mecanismos básicos de determinação do preço do dinheiro.
Portanto, se o senhor Stiglitz procura um culpado pela bolha das hipotecas ou a inflação dos alimentos, ele deve voltar a vista não para o setor bancário ou a iniciativa privada, cuja atividade foi pautada durante, pelo menos, a última década, por sinais de preço e juros absolutamente irreais e distorcidos.
Se os mercados falharam na alocação dos recursos, fizeram-no por indução dos governos. Foi o governo norte-americano, por exemplo, que levou o nível de preço das residências naquele país a patamares insustentáveis, através de incentivos fiscais e taxas de juros artificiais, que não têm nada a ver com os princípios econômicos que norteiam o livre mercado.
Todo o artigo do senhor Stiglitz é, portanto, uma tentativa de falsear a realidade, acusando o mercado pelos erros e intervenções dos governos. Que houve falhas, não resta dúvida. Só que as falhas não foram determinadas pelo livre jogo do mercado. Elas resultaram de uma profusa sabotagem operada pelos governos mundo afora, operada através de políticas populistas e demagógicas de curto prazo, sem qualquer atenção às suas conseqüências secundárias.
Em resumo, o senhor Stiglitz poderia ter poupado suas energias, floreios retóricos e despautérios econômicos, e escrito simplesmente aquilo que tinha em mente quando olhou a folha de papel em branco à sua frente, ou seja: o liberalismo é intrinsecamente ruim e a planificação econômica socialista é boa. O resto é pura fantasia para engabelar os incautos e trazer novos prosélitos para a sua religião socialista.
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