segunda-feira, 7 de julho de 2008

Eleições no Rio aflito

por Ipojuca Pontes em 07 de julho de 2008

Resumo: A maioria dos candidatos à prefeitura do Rio tem um traço em comum: são socialistas, em geral, procurando inocular na cabeça do eleitor que só o governo e seus acólitos – e nunca os seus habitantes - podem solucionar os problemas do município.

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Começou no dia 1º de julho a campanha eleitoral para a eleição de prefeitos e vereadores em 5.500 municípios do Brasil. Os chamados analistas políticos afirmam que tais eleições vão determinar quem vai substituir Lula na presidência da República, caso o atual mandatário, estabelecido um plebiscito e superados os impasses constitucionais, não mais deseje permanecer à frente do Executivo. Como se sabe, no último pleito o governo do PT e partidos da base aliadas não mediram esforços – legais e ilegais – para ampliar os quadros do poder em âmbito municipal. É fato: o domínio político de um país começa pelas prefeituras.

Só na capital do Rio de Janeiro já foram proclamados os nomes de pelo menos dez candidatos, todos ansiosos por desfrutar o “sacrificado” posto ocupado por César Maia, um prefeito que chega ao fim do mandato com alto índice de rejeição, justificada em boa parte pela forma desleixada de como vem administrando a cidade nos últimos quatro anos. Maia é um veterano na administração do Rio, mas, no terceiro mandato, talvez por aquilo que os ingleses chamam de “annoyance”, dedicou-se mais ao ofício de blogueiro (bem informado, por sinal) do que propriamente ao trabalho (bem remunerado) de cuidar da cidade para o qual foi eleito.

Há de tudo, no entrevero que se promete selvagem pela administração da outrora considerada “Cidade maravilhosa”. O “ex-bispo” da Igreja Universal de Deus, Marcelo Crivella (PRP-RJ), amigo de Lula e responsável pelo projeto eleitoreiro das obras de “cimento social” no ensangüentado morro da Providência, parte na dianteira com percentual acima dos 30% das intenções de voto. Em seguida, vem a representante do PCdoB, Jandira Feghali (derrotada no último pleito por ser tida como candidata favorável ao polêmico crime do aborto), que reclama da parcialidade de Lula.

O PMDB do sempre ausente Sérgio Cabral, o governador das promessas impossíveis, elegeu como candidato à Prefeitura o deputado Eduardo Paes, anteriormente preterido em favor do meteórico Alessandro Molon (PT-RJ), de cujo nome a cidade nunca antes ouvira falar.

A candidatura de Eduardo Paes, no entanto, já nasceu impugnada pelo partido Democrático (DEM) que a considera “ilegítima”, devido ao fato do político não ter se desincompatibilizado em tempo do cargo de Secretário de Turismo, Esportes e Lazer que exercia no governo estadual. O que não representa problema algum para o candidato, que confia cegamente na conivência do Tribunal Regional Eleitoral. Como prova do enunciado, ele já se diz, para convencer o aturdido eleitor, “conhecedor profundo da cidade e de seus problemas”, prometendo solenemente - uma característica do governador Cabral - que sua meta administrativa será manter “os postos de saúde abertos 24 horas e de lutar pela qualidade dos serviços públicos”.

A convenção do DEM, por sua vez, ratificou a candidatura da deputada Solange Amaral (DEM-RJ) numa festa cujo apelo populista foi armado na quadra da escola de samba Arrastão de Cascadura, tendo como mestre de cerimônia o próprio César Maia. A candidata Solange, que é psicóloga e carrega a vantagem de não ter “ficha suja” - uma marca pouco usual na vida política do Estado -, assegura, como de resto a generalidade dos candidatos da cidade tomada pelo mosquito da dengue, que vai “olhar de forma ampla para as questões de saúde, educação e transportes” – áreas, ao que se deduz, pouco contempladas pelo atual prefeito, seu patrocinador.

Outro candidato à prefeitura do Rio é o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), cujo passado guerrilheiro, associado à luta parlamentar pela descriminalização da maconha e regularização do trabalho das prostitutas, parece comover núcleo bem-posto de eleitores (festivos) da Zona Sul carioca. Para chegar ao Palácio da Cidade, Gabeira não mede desafios. Desde logo, na férrea vontade de assumir o cargo de prefeito, o político de vanguarda resolveu se aliar ao populista Zito (PSDB-RJ), cujo feudo político, Duque de Caxias, recebeu do temido Tenório Cavalcanti a alcunha de “Cidade Luz”, quem sabe pelos modos inusitados com que ali se exerce o poder.

(Mas a luta cruenta pela posse de prefeitura não se limita à capital do Rio de Janeiro. Em Campos, uma das principais cidades do Estado, Rosinha Matheus, acusada pela Procuradoria Regional de receber propinas e doações do crime organizado, quando governadora, já se tem como a nova dirigente da cidade. E em Nova Iguaçu, o mais populoso município da Baixada Fluminense, o cara-pintada Lindberg Farias (PT-RJ), apontado pelo Ministério Público como responsável por crime de fraude e improbidade administrativa, corre célere atrás da reeleição, tendo em vista a recente decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de não mais excluir da disputa eleitoral os candidatos envolvidos em cabeludos processos criminais).

A maioria dos candidatos à prefeitura do Rio tem um traço em comum: são socialistas, em geral, procurando inocular na cabeça do eleitor que só o governo e seus acólitos – e nunca os seus habitantes - podem solucionar os problemas do município. Para eles, combater as “desigualdades sociais” é mais importante do que zelar pela própria vida humana. E assim, em vez de limpar as praças, cuidar da iluminação, coletar o lixo, manter as ruas sem buracos e com segurança, em suma, administrar as contas da cidade sem elevar periodicamente os impostos, eles pretendem construir a história, oferecer pão e circo e, quase sempre, “fazer o sucessor” – pouco importando se o sucessor tem ou não “ficha suja”.

Se, hoje, a cidade do Rio de Janeiro pudesse ser considerada uma vitrine, as principais mercadorias nela expostas seriam a sujeira, a insegurança das ruas, o caos do trânsito, a corrupção, a violência do narcotráfico e a incompetência associada à desídia reinantes nos seus quadros político-administrativos. O que gera na população, por conseqüência, um estado permanente de medo, pavor, abandono e perplexidade - tudo isso marcado por uma sensação de aflitiva impotência.

O que fazer?

Bem, de minha parte rezo e apelo para a proteção Divina.

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