sexta-feira, 4 de julho de 2008

O problema do petróleo – Parte II

por Jeffrey Nyquist em 03 de julho de 2008

Resumo: Se o preço do petróleo continuar a subir, se a recessão piorar, se os sinais de alerta indicando calotes nos financiamentos de automóveis, de casas e se os cartões de crédito exaurirem-se, estaremos vivendo num mundo diferente quando janeiro de 2009 chegar.

© 2008 MidiaSemMascara.org


De acordo com matéria publicada no Wall Street Journal “os embarques de produtos petrolíferos pelos maiores exportadores de petróleo caíram dois e meio por cento em 2007, a despeito do aumento de preços ter sido de cinqüenta e sete por cento...”. Somos também informados de que os maiores produtores de petróleo estão usando mais petróleo para consumo próprio. Contudo, pelo menos um especialista acredita que uma campanha coordenada de estrangulamento da oferta esteja em curso. Se você está estrangulando a oferta de petróleo ao país mais poderoso do mundo, é natural que você tenha algum receio em admitir quais são os seus planos.

Os saudistas estão realmente consumindo internamente mais petróleo ou isso é uma desculpa conveniente? Diante das tropas americanas de prontidão no vizinho Iraque, você admitiria estar sonegando petróleo ao mercado mundial? Recentes conferências fechadas entre líderes russos e sauditas ainda exigem uma explicação plausível. O que Moscou tem em comum com a Casa de Saud? Ambos exportam petróleo. Em abril, o Wall Street Journal sugeriu que a alta nos preços dos alimentos e do petróleo era “um fenômeno monetário”. Mas não sejamos enganados pelo velho problema do ovo e da galinha. Uma interpretação permite muitas variações sobre a verdade e muitas leituras com nuances diferentes. Um boom no preço das commodities está em andamento. Poderíamos até dizer que houve uma provocação.

Numa entrevista recente ao jornal inglês The Telegraph, George Soros[1] revelou ao editor de economia que a especulação “está afetando o preço do petróleo de modo crescente”. Ele ressaltou; “[A curva de] preços tem essa forma parabólica, característica de bolhas [especulativas]”. Soros acredita que os preços dos imóveis [nos EUA] cairão ainda mais. A “estagflação” chegou. Os preços do petróleo estão ligados ao valor da moeda, à produtividade e às expectativas econômicas gerais.

É possível argumentar que a política do Federal Reserve seja responsável por uma bolha[2] de commodities, tanto quanto anteriormente diretrizes do Fed deram vez a outras bolhas, no mercado imobiliário e no de ações. Talvez estejamos nos aproximando da hora em que não haverá mais porto seguro para as nossas economias ou investimentos, porque todo porto seguro terá sido, por sua vez, “transformado em bolha”. Estará o mundo civilizado prestes a sofrer a maior e mais completa “correção” de valores de toda a história econômica? Uma vez que nossa civilização perdeu seu senso de realidade, seu gosto pela verdade, o recente crescimento econômico pode ter sido mais ficcional do que real. Achamos que há dinheiro em nossos fundos de pensão. Imaginamos que nossos imóveis (casas, apartamentos, terrenos) valem duas vezes mais do que valiam quando os compramos. Acreditamos que vale a pena manter nossas ações e títulos. Mas pensar, imaginar e acreditar na prosperidade e na riqueza não as torna reais. Talvez estejamos à beira da maior reapreciação de valores econômicos em toda a história. E isso tudo está ligado ao petróleo.

Considere a erosão e o destino do dólar: se este estiver condenado, o que o substituirá? Talvez a nova moeda global venha a ser a bomba de hidrogênio. Enquanto o mundo livre é sacudido, os ditadores se erguem. No mundo deles, o poder não é medido em dólares; é medido em mísseis, bombas e fuzis. Recentemente, alguém sugeriu que dentro de dez anos o Fed não mais existirá. Talvez o Fed não resista nem ao próximo ano. Se o preço do petróleo continuar a subir, se a recessão piorar, se os sinais de alerta indicando calotes nos financiamentos de automóveis, de casas e se os cartões de crédito exaurirem-se, estaremos vivendo num mundo diferente quando janeiro de 2009 chegar.

Assim, não posso deixar de lembrar as audiências da Duma[3] russa nos meses de junho e julho de 2001, quando a economista Tatyana Koryagina alertava que os Estados Unidos estavam prestes a ser atacados por “forças obscuras”. Na ocasião, ela disse que o dólar tornar-se-ia sem valor. Várias semanas mais tarde, terroristas árabes seqüestraram aviões e os arremessaram contra as torres do World Trade Center e contra o Pentágono. Foi difícil calcular o dano financeiro, dadas as enganosas oscilações de nosso sobrevalorizado mercado de ações. Não há dúvida de que o Fed estava inclinado a responder com crédito fácil. Aqui podemos ver o dano causado por nossas próprias medidas de controle de danos: a bolha no mercado imobiliário começou depois do 11 de setembro – presumivelmente, como resposta ao 11 de setembro. O problema então se espalhou por metástase. Para evitar que uma bolha se rompesse [a do mercado de ações], outra foi criada no mercado imobiliário e agora com as commodities. Os preços dos alimentos e do petróleo dispararam. A metástase espalhou-se ainda mais. A OPEP escolheu o seu momento para a vingança.

Considerem o depoimento dado em 22 de maio por Anne Korin[4], diante do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados dos EUA, que começa assim: “Sr. Presidente do Comitê, Membros do Comitê, ...há cerca de dez anos [1998], Osama Bin Laden declarou que sua meta para o preço do petróleo era de US$144/barril...”. Ora, isso não é notável? “Àquela época”, ressaltou Korin, “US$144/barril parecia um preço muito improvável”. Todavia, cá estamos nós, a menos de US$20 do número alvo de bin Laden. Quer seja por nossa própria estupidez ou pelos cálculos apurados do inimigo, estamos à beira da derrota. Korin acrescentou: “Eu gostaria de enfatizar diante deste Comitê que US$144/barril será percebido como uma vitória pelo movimento jihadista e uma reafirmação de que o componente de guerra econômica em sua campanha contra o Ocidente é um sucesso retumbante”.

Também devem ser levadas em consideração nossas relações com o mundo islâmico, que contém “mais de setenta por cento das reservas comprovadas de petróleo do mundo” e é responsável “por mais de um terço da produção...”. Tal como Korin explicou ao Comitê de Relações Exteriores da Câmara: “Enquanto a economia americana sangra, países produtores de petróleo como a Arábia Saudita e o Irã – também simpáticos ao Islã radical, além de diretamente sustentadores deste – estão na ponta recebedora de ganhos súbitos surpreendentes”.

A administração Bush irritou os sauditas ao instalar uma “democracia” xiita no vizinho Iraque. “A OPEP, capitaneada pela Arábia Saudita, está mantendo deliberadamente apertada a oferta de petróleo para levar o seu preço”, diz Korin. “A produção saudita não apenas é menor hoje do que era há dois anos, a despeito do aumento na demanda, mas o cartel efetivamente retirou dois milhões e quatrocentos mil barris/dia do mercado mundial de modo equivalente a uma trapaça contábil”.

É notável quão rapidamente nos esquecemos e quão rapidamente nos congratulamos por sairmos da debacle do mercado de ações em 2000 e do golpe financeiro do 11 de setembro. O que de fato obtivemos, imagino eu, foi um adiamento. Mais recentemente, o Fed gastou meio trilhão de dólares dando sustentação a instituições financeiras periclitantes; e os cidadãos americanos estão perdendo bilhões e bilhões com preços de combustíveis cada vez mais altos. Para evitar a catástrofe, enfraquecemos nossa moeda. E agora estamos quase sem forças, agarrados à ponta da corda.

O vício do crédito fácil traz a ruína, tal como qualquer dependência. No entanto, não houve pânico, nem quebra da bolsa, nenhuma Grande Depressão. Em vez disso, um travesseiro gigantesco foi aplicado ao setor financeiro, sufocando silenciosamente a vítima ofegante. Não podemos deixar que o ar saia da Grande Bolha. Mas esquecemos que é preciso exalar tanto quanto inalar. E assim continuamos a sufocar. O dólar continuará a cair e o petróleo continuará a subir.

© 2008 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM

[1] NT: Seria difícil encontrar alguém mais habilitado para falar de especulação do que o Sr. George Soros.

[2] NT: Uma bolha, bubble, termo usualmente associado à especulação, significa uma expansão muito rápida e exagerada de preço ou demanda, sem lastro ou base real e, portanto, frágil e prestes a estourar.

[3] NT: A principal assembléia legislativa russa, restabelecida em 1993. Hoje é um órgão que meramente referenda as proposições e decretos do executivo russo, i.e., do ex-presidente e agora primeiro-ministro Vladimir Putin.

[4] NT: Anne Korin é co-diretora do Institute for the Analysis of Global Security (IAGS) e editora do Energy Security.

Nota Redação MSM: Leia também O problema do pretróleo

Nenhum comentário: