12/05 - Quartel do Exército abriga ato contra reserva Raposa
A verdade sufocada
Comandante de batalhão apóia protesto de arrozeiros, políticos e comerciantes, que criticaram presidente, ministro e PF.
Por Evandro Éboli - O Globo- 10/05/2008
BOA VISTA. Uma manifestação realizada ontem por arrozeiros, políticos e comerciantes de Roraima contrários à demarcação de Raposa Serra do Sol terminou num ato dentro de uma unidade do Exército, em Boa Vista, e com o apoio do general Eliezer Monteiro, comandante do 7º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS). Monteiro é a principal autoridade militar de Roraima, e está subordinado diretamente ao comandante Militar da Amazônia, general Augusto Heleno, que criou polêmica ao condenar a política indigenista brasileira.
No início da noite, no auditório do 7º BIS, o general recebeu um grupo de 30 manifestantes e ouviu o deputado Márcio Junqueira (DEM-RR) ler um texto com ataques à Polícia Federal, ao presidente Lula e ao ministro da Justiça, Tarso Genro. No documento, a PF é acusada de ser arbitrária e proteger o Conselho Indígena de Roraima (CIR). Diz ainda que a polícia só atua contra adversários de Lula.
Perguntado se concordava com a posição do general Heleno, que criticou a demarcação em Raposa, o general disse:
- O general Heleno falou o que precisava ser falado.
Ao discursar, disse que a demarcação na fronteira traz riscos à soberania nacional, e recomendou aos presentes que defendam seus direitos na Justiça. Monteiro considerou "bastante apropriado" o fato de o governo do estado ter contestado no Supremo Tribunal Federal a demarcação e a operação da PF.
- Que usem as forças da lei para terem seus direitos garantidos - disse.
Quando defendeu as terras dos arrozeiros, o general foi aplaudido. O militar disse que eles não devem aceitar que os índios ligados ao CIR proíbam circulação de alimentos e combustíveis no interior da área, o que passou a ocorrer depois que agentes da PF e da Força Nacional de Segurança chegaram na reserva, há um mês:
- Cobrem respeito à propriedade de vocês e exijam que possa passar comida, combustível. A terra que está lá, ainda que dentro da Raposa, ainda está sob o nome de suas famílias. São dos senhores.
Numa crítica aos indígenas do CIR, o general afirmou que esses índios se "arvoram como donos das terras" e fazem o controle de quem deve ou não passar naquelas terras.
'Estamos numa democracia, como disse o presidente'
General defende o direito a manifestação, mas nega ato político
BOA VISTA. Ao fim do ato no 7º Batalhão de Infantaria de Selva, o general Eliezer Monteiro negou que a manifestação dos arrozeiros no quartel tenha sido um ato político:
- Estamos numa democracia, como o próprio presidente disse um dia desses. Se as pessoas quiserem fazer política, espero que não façam aqui. Só pedimos que não seja num palco, numa tribuna. Estou dentro de uma sala, no meu quartel, recebendo eles.
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