terça-feira, 6 de maio de 2008

Bolívia: Evo Morales, intervenção chavista e ameaça de “explosão”

por Destaque Internacional em 05 de maio de 2008

Resumo: A obstinação revolucionária do presidente Morales faz lembrar a estratégia de comunização rápida do governo do presidente chileno Salvador Allende.

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A tensão política cresce na Bolívia à medida em que se aproxima o domingo 4 de maio, data em que se realizará em Santa Cruz de la Sierra, no oriente do país, um referendum que poderá outorgar a esse estado uma maior autonomia com relação ao governo central.

A origem dessa tensão, está no projeto de “refundação constitucional” que o presidente Evo Morales impulsiona, com o objetivo de impor um rígido controle estatal de caráter socialista sobre a economia de todo o país e de dar mais poder a movimentos indigenistas de inspiração anarquista. O presidente do Senado da Bolívia, Oscar Ortiz, em declarações à agência AFP, explicou que “o projeto de Constituição de Morales, que foi aprovado ilegalmente pelos oficialistas, não tem conteúdo democrático porque segue o modelo chavista de criar fachadas democráticas, porém concentrando o poder no Presidente”. Ortiz acrescentou que, em sentido diametralmente contrário à orientação socialista de Morales, o “processo autonômico” que será votado em 4 de maio em Santa Cruz, vai assinalar a necessidade de “uma grande reforma do Estado boliviano em sua obrigação para com os governos de estado e municipais”.

Morales, que assumiu a presidência em 22 de janeiro de 2006, realizou o lamentável prodígio, em menos de dois anos e meio de governo, de contribuir com o desmembramento político, econômico e social desse país altiplânico, como talvez nenhum outro mandatário o tenha feito na história desse convulsionado país. Em 2005, antes de ser eleito presidente, Morales já havia prometido atuar para que existissem na América Latina “muitas Cubas”. E em 2006, em visita a Havana já como presidente de seu país, reiterou a promessa anterior, acrescentando que lutaria não somente para que surgissem no continente “muitas Cubas” mas também “muitos Fidéis” (cf. Nelson Rodríguez, www.Ahora.cu, 1º de dez. 2006).

Há poucos dias, Morales saudou o bispo Fernando Lugo que acaba de ser eleito presidente do Paraguai, com a desafiante exclamação: “Bem-vindo ao ‘Eixo do Mal’”! E acrescentou que até pouco tempo esse “Eixo do Mal” latino-americano estava constituído “somente pelo companheiro irmão mais velho Fidel e o companheiro Chávez”, porém que hoje já contava com outros presidentes (agências DPA e AFP, La Nación, Buenos Aires, 24 de abril de 2008).

Em meio à grave situação pela qual atravessa a Bolívia, na quarta-feira 23 de abril pp. Morales viajou a Caracas convocado pelo presidente Hugo Chávez para uma reunião de urgência para analisar a situação da Bolívia, à qual também assistiram o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega e o vice-presidente cubano, Carlos Lage. Na referida reunião presidencial, Chávez comparou a Bolívia com um paiol de pólvora “a ponto de explodir”. Na medida em que essa imagem corresponda com a realidade, o próprio Chávez é um dos maiores responsáveis por isso, por sua constante e escandalosa intervenção nos assuntos internos da Bolívia, inclusive, segundo foi denunciado, com o envio de assessores políticos e militares para respaldar Morales.

Nesse sentido, o senador Ortiz, na entrevista acima citada, comentou que “as ameaças que Chávez fez são terríveis, na medida em que pressagiam uma explosão de violência, que o único que pode provocá-la é o governo, porque a população vai votar pacificamente”, e concluiu: “Que Chávez deixe de intervir na Bolívia”. (agência AFP, El Nuevo Herald, Miami, 26 de abril de 2008). O governo de Morales, respaldado por Hugo Chávez, seria o maior interessado em uma explosão de violência para responsabilizar a oposição anti-socialista e desprestigiar os próximos referenduns em Santa Cruz e em outros estados bolivianos.

A obstinação revolucionária do presidente Morales e a velocidade que impôs a seu projeto socialista-indigenista faz lembrar, com as devidas diferenças, a estratégia de comunização rápida do governo do presidente chileno Salvador Allende e da chamada Unidad Popular, entre 1970 e 1973. O fantasma da “allendização” da Bolívia é indubitavelmente mais um fator de preocupação. A própria Organização dos Estados Americanos (OEA) acaba de advertir que poderia haver violência e derramamento de sangue nesse país nos próximos dias. E, como já foi dito, tudo indica que o governo de Morales tentará responsabilizar a oposição.

Além do referendum do próximo domingo 4 de maio em Santa Curz, referenduns similares estão marcados para 1º de junho nos estados de Tarija, Beni e Pando, que com Santa Cruz formam a “meia lua” oriental do país, onde se concentram importantes recursos gasíferos, agrícolas e industriais da Bolívia. Em sua estratégia publicitária, na Bolívia e no exterior, o presidente Morales apresenta os referenduns depreciativamente, como meras “tentativas separatistas de pequenos setores que resistem a perder seus privilégios”, sendo que em sua origem trata-se de reações anti-socialistas de setores majoritários da população desses estados, que merecem toda a atenção dos defensores da liberdade na América Latina e no mundo.

Destaque Internacional – Informes de Conjuntura – Ano XI – Nº 243 – São José da Costa Rica – 28 de abril de 2008 – Responsável: Javier González.

Tradução: Graça Salgueiro

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