terça-feira, 20 de maio de 2008

A fome no Brasil

por Ipojuca Pontes em 19 de maio de 2008

Resumo: A fome e sérios problemas de saúde pública só tendem a aumentar no Brasil, uma vez que a quase totalidade dos recursos públicos é consumida pelo custeio da máquina pública e sua burocracia, saturada de ministérios, agências e organismos cuja função principal é a de empregar os quadros militantes do partido do governo e os da chamada “base aliada”.

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Os pobres, mais do que os remediados - todavia, os remediados também -, estão sendo triturados pela elevada aceleração dos preços dos alimentos. Nos supermercados, nas feiras livres, nos açougues e padarias recrudesce um clima de insatisfação generalizada entre os consumidores, todos indignados, mas – é bom ressaltar - impotentes.

Produtos como o tomate, a cebola, arroz, óleo de soja, feijão, carne, frutas em geral (mesmo as da estação), pão francês, leite e derivados carregam aumentos de até 100% - o que faz, por sua vez, dispararem os índices inflacionários, em ascensão contínua, desmoralizando assim as previsões estipuladas pelo aparato econômico do governo. Para 2008, o índice inflacionário acumulado nos últimos 12 meses, na ordem de 5,17%, liquidou por completo com as metas otimistas do engasgado ministro Mantega, que, no final do ano passado, as tinha fixado em modestos 4,5%. (Como as estatísticas oficiais mentem sempre, é provável que os índices da inflação sejam hoje bem maiores).

No final do ano passado, ao fazer as minhas previsões econômicas sobre o ano em curso no profético artigo “Bola de Cristal”, vislumbrei o seguinte quadro: “A instabilidade dos preços dos alimentos, que gerou nesta área em 2007 uma inflação na ordem de 10,6%, atingirá, por baixo, em 2008, o índice nada desprezível de 20,10% – em boa parte devido às consideráveis altas de produtos como carne, leite, pão, feijão, arroz, farinha, frutas, verduras e legumes”.

“Em outra escala de aferimento inflacionário” – continuava - “os consumidores comerão o pão que o diabo amassou com os substanciais aumentos nos preços dos combustíveis, transportes, aluguéis, tarifas de energia elétrica, telefone, gás, água, serviços bancários e outros que tais. Pelo que demonstra a minha luminosa Bola de Cristal, a inflação brasileira, mesmo camuflada, ultrapassará mole o índice dos 10%”.

No momento, os bem remunerados tecnocratas governamentais atribuem o aumento dos preços dos alimentos aos mais diversos motivos. Uns apontam a escalada dos preços do petróleo, que atinge a marca de US$ 120 o barril, como o seu fator principal, já que a ela estão atrelados os preços dos fertilizantes. Outros, como Jean Ziegler, relator da Comissão para Direito à Alimentação da Organização das Nações Unidas (ONU), alegam que o etanol, biocombustível de Lula, representa uma séria ameaça ao crescimento da fome no mundo, visto que fomenta a monocultura e toma grande parte das terras propícias à diversificação do plantio agrícola. Há, ainda, os que relacionam a subida de preços ao aumento do consumo dos cereais nos países em desenvolvimento, citando como exemplo notório o caso da China.

O tecnocrata Pascal Lamy, diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), embora considerando o fenômeno “multidimensional”, afirma que a questão básica encontra-se na produção: “Se tem um problema com o preço dos alimentos, o melhor é aumentar a oferta do que restringi-la. Adotar medidas restritivas limitando as exportações (de alimentos), prática de alguns países, só faz piorar o problema”.

Há vários outros motivos apontados para justificar a crise de abastecimento e o aumento crescente dos preços dos alimentos. Entre eles, no caso brasileiro, aponto dois, igualmente consideráveis: a histeria ideológica das ONGs e dos “movimentos sociais” contra o agronegócio, e a intervenção sempre nefasta das “políticas públicas” governamentais para o setor. São dois obstáculos de peso. No entanto, nada fomenta mais a escalada vertiginosa dos preços dos alimentos do que a fúria tributária exercida pelo governo em cima dos produtos alimentícios. Ela é desumana, cega, implacável e arbitrária. Para se ter uma idéia concreta da coisa, basta mencionar o seguinte: se não fossem os excessivos impostos governamentais, um litro de leite tipo Longa Vida, que está sendo vendido nos supermercados do Rio ao preço de R$ 2, 60, custaria menos de R$ 0,90 – e olhe lá.

Diante deste quadro, a pergunta que se faz é a seguinte: para onde vai todo esse dinheiro que os tecnocratas de Lula tomam do contribuinte, algo no valor aproximado de R$ 1 trilhão anual? Eles dizem que parte substancial desse ervanário vai para os programas sociais do governo e os seus decantados “planos de recuperação” nas áreas de energia, educação, saúde, estradas, segurança e, por último, na área industrial.

Todavia, examinando-se a coisa com a devida atenção, o leitor verá que a quase totalidade desses recursos fica na “atividade meio”, ou seja, é consumido pelo custeio da máquina pública e sua burocracia, saturada de ministérios, agências e organismos cuja função principal é a de empregar os quadros militantes do partido do governo e os da chamada “base aliada”. Para conferir a eficiência dos “planos de recuperação” do governo, basta o incauto entrar num hospital público, trafegar nas estradas interurbanas ou andar pelas ruas – sozinho ou acompanhado – depois do anoitecer.

A fome endêmica e epidêmica no Brasil é um fato incontestável. E não poderia ser de outro modo: temos hoje 10 milhões de desempregados, 43 milhões de trabalhadores ganhando salário-mínimo e cerca de 45 milhões de subempregados. Dados da Organização Mundial da Saúde registram a morte anual de cem mil tuberculosos, a maioria vítimas da desnutrição crônica, isto para não falar em milhares de jovens que se suicidam a cada ano por absoluta impossibilidade de sobreviver à miséria. Nas ruas, nas calçadas, nos campos e praças públicas os pedintes e esfomeados são incontáveis - todos a estampar o tom sépia da desnutrição nas suas faces descarnadas.

Mas, quem disse que a tecnocracia encastelada em Brasília sai às ruas para encarar tal realidade?

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