sexta-feira, 11 de julho de 2008

Atenção acionistas da Petrobrás: olho vivo, estão querendo meter a mão no seu bolso

por João Luiz Mauad em 11 de julho de 2008

Resumo: Quer dizer então que, enquanto estamos no risco, o dinheiro dos investidores privados é bem-vindo, mas na hora de repartir os lucros a sociedade não interessa mais?

© 2008 MidiaSemMascara.org


Já tive a oportunidade de dizer aqui neste espaço que, ainda que eu tivesse muito dinheiro sobrando – o que não é, definitivamente, o caso -, jamais colocaria minhas economias em ações da Petrobrás. Não que o petróleo seja um mau negócio, longe disso, mas acho que a Petrobrás é uma empresa ineficiente, mal administrada, tocada por funcionários improdutivos – pois não precisam mostrar resultados – e utilizada por políticos para benefício eleitoreiro.

Embora detentora de um monopólio (de fato, malgrado não de direito), já demonstramos aqui que seus lucros costumam ficar bem aquém das demais empresas internacionais do mesmo setor. Decisões políticas e um profundo corporativismo predominam em seu dia-a-dia, transformando-a em mera ferramenta nas mãos de políticos oportunistas e grupelhos sindicais, no lugar de servir aos interesses dos seus acionistas, como seria esperado.

Inúmeros são os fatos, ao longo da história, que comprovam isso que estou dizendo. Para provar o uso político, basta lembrar que vivemos em meio a um virtual “congelamento” dos preços da gasolina e do diesel no país, vigente há quase dois anos, muito embora as cotações do petróleo no mercado internacional já tenham praticamente dobrado só nos últimos seis meses. Estima-se que, só nesse período, a Petrobrás tenha deixado de lucrar algo em torno de 12 bilhões de Reais. Do lado do corporativismo, rememorem-se os inúmeros acordos espúrios firmados entre a direção da empresa e o fundo de pensão dos funcionários, acordos esses responsáveis por fabulosas despesas não operacionais que freqüentam os demonstrativos contábeis da companhia por anos a fio, sempre em detrimento dos resultados – leia-se: dos acionistas.

Não bastasse a mais absoluta falta de respeito com que são tratados os incautos que ainda insistem em investir nessa empresa - muitos deles, verdade seja dita, neófitos dos monopólios estatais e da administração pública em geral -, agora estão tramando coisa muito pior. Começam a pipocar na imprensa notícias dando conta de que o Ministro das Minas e Energia, Dr. Edison Lobão, pretende criar uma nova empresa pública, desta vez totalmente estatal, para administrar os famigerados mega-campos existentes abaixo da camada de pré-sal.

De acordo com as explicações do ministro, a idéia é que a estatal seja a gerenciadora do patrimônio petrolífero nacional. "Isso é para reter nas mãos do governo, do povo brasileiro, as reservas generosas de petróleo do pré-sal e de outras que vierem a surgir daqui para frente", disse ele em entrevista ao Portal Terra. Para o indigitado cavalheiro, se essa exploração fosse feita pela Petrobrás, os lucros ficariam nas mãos de uma empresa parcialmente privada, já que hoje ela é uma companhia de capital aberto, com 60% do capital nas mãos de investidores privados. "Essa é uma riqueza esplêndida, que não é de um mas, sim, de todos os brasileiros, portanto, deve ser preservada para os brasileiros", resumiu.

Dias antes, o próprio presidente Lula, num daqueles recorrentes rompantes de demagogia chula, havia dito que os recursos obtidos com a exploração de petróleo na camada do pré-sal devem ser aplicados em políticas sociais, para evitar que a riqueza obtida com a atividade fique concentrada nas mãos daqueles que possuem “três, quatro Rolex no bolso”.

Como se pode ver, a voracidade dos políticos e burocratas já não admite a divisão de patrimônio e, conseqüentemente, de lucros com investidores privados. Pretendem voltar a ter poder absoluto sobre a coisa toda e, mais importante, sem que seja necessário dar satisfações a quem quer que seja - afinal, devem pensar, fizeram a grande bobagem de captar recursos para a empresa até mesmo em mercados internacionais, onde as regras contra o mau uso do dinheiro dos acionistas costumam ser draconianas.

Malgrado, como disse acima, eu não tenha nenhuma simpatia pela Petrobrás, não dá para, simplesmente, deixar passar em branco esta grande sacanagem – desculpem, mas não encontrei palavra melhor - que estão tramando contra os acionistas daquela empresa. Isso é, para dizer o mínimo, um roubo! Algo que daria cadeia em qualquer país civilizado.

Quer dizer então que, depois de utilizar bilhões de reais, do capital (público e privado) pertencente aos acionistas da empresa, em pesquisa, desenvolvimento e outros investimentos, para descobrir e viabilizar a produção de petróleo no pré-sal, esses mesmos acionistas devem agora ficar chupando dedo? É assim que funciona? Enquanto estamos no risco, o dinheiro dos investidores privados é bem-vindo, mas na hora de repartir os lucros a sociedade não interessa mais? Meu avô chamava a isso de “acordo da cuíca”, em que uns entram com o ... e os outros com a ...

Sobre o tema, leia também Um bebê de trinta anos, o Papai Noel e outras bruxarias, Abaixo a privatização da Petrobras, O Petróleo é nosso. E a ilusão também

Nenhum comentário: