Domingo, Julho 13, 2008
João não é João. Mas Mané é sempre Mané!
Edição de Artigos de Domingo do Alerta Total http://www.alertatotal.blogspot.com
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Por Jorge Serrão
João não é “João”. Mas o sujeito comprovou que é um grande Mané. Quem mandou o cabra acreditar na infalibilidade na suposta segurança e privacidade de um moderno e caro aparelho celular via satélite? Dançou, seu João. Seus patrões da Oligarquia Financeira Transnacional “grampearam” sua conversa sigilosa, e deixaram vazar no Congresso. Trocar seu atual telefone por um russo de nada vai adiantar, João. Quem quiser pega suas conversas de novo.
Até quando João poderá dar uma de Mané sem ser punido? Só Deus e os controladores do Poder Real Mundial sabem. Grandes grupos econômicos pegam pesado e jogam sujo quando têm seus interesses feridos. João devia saber muito bem disto. É Mane. Mas não é João Bobo – embora se pareça com um. Balança para um lado, para o outro, mas nunca cai. Mas no mundo globalizado, nem o nosso João Bobo está seguro. O grampo nele foi uma espécie de recado divino.
O Alerta Total informou com exclusividade na edição de sábado que vazou para alguns Senadores a transcrição de uma bombástica e comprometedora conversa de telefone via satélite sobre os desdobramentos da prisão e soltura do banqueiro Daniel Dantas. A transcrição dos telefonemas foi devidamente autorizada pela Justiça espanhola e pela Justiça holandesa, a pedido de uma grande tele da Espanha. Sua reprodução entre políticos brasileiros, certamente, é que não foi permitida.
Na versão que circulou no Senado, a Vodafone Internacional comunicou ao órgão “X” (não identificado) que a transcrição das conversas está nas mãos da presidência da companhia espanhola para a América Latina. As ligações foram captadas entre os satélites 4 e 12 da Vodafone, que é uma operadora de telefonia móvel transnacional, com sedes no Reino Unido e na Alemanha. Quem pensava que era seguro falar em celular via satélite, que não seria grampeado, bancou o Mane. Foi o caso do nosso “João”. Releia: Segurança contra terrorismo internacional grampeia conversa de celular via satélite sobre o affair Daniel Dantas
Aqui no Brasil, aconteceu a mesmíssima coisa. Reportagem do Estadão de hoje revela que o banqueiro Daniel Dantas é acusado pela Polícia Federal de ter contratado coronel da reserva do exército de Israel, Avner Shemeh, para espionar juízes federais da primeira instância de São Paulo. Ex-funcionário da Kroll do Brasil, o militar foi acusado de espionar desafetos de Dantas e integrantes do governo Lula a mando do banqueiro. O esquema de espionagem foi apurado na Operação Chacal, em 2004. O coronel Avner está sendo processado na 5ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
Entre os alvos do suposto “espião” do poderoso Dantas estariam o juiz Fausto Martin De Sanctis, o mesmo que decretou por duas vezes a prisão do banqueiro e duas vezes teve a decisão derrubada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. O juiz foi alertado do monitoramento pelos policiais que preparavam a Operação Satiagraha. O grupo teria também monitorado os passos do delegado Protógenes Queiroz, que comanda as investigações.
O relatório da inteligência da PF, assinado pela delegada Karina Murakami Souza, deixa claro. ''Shemeh é contatado para implementar espionagem (que é sua especialidade) e investigação ilegal contra magistrados federais da cidade de São Paulo''. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal informam que isso ocorreu na mesma época em que o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT) entrou em contato com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, em busca de informações sigilosas sobre o caso, em 29 de maio. Carvalho se comprometeu a passar os dados mantidos em sigilo pela PF.
O jornal O Globo deste domingo detona a manchete: “País já perdeu o controle sobre grampos judiciais”. Trata-se de notícia velha. A interceptação telefônica com ordem judicial atingia, no início de maio, pelo menos 5.813 aparelhos fixos e celulares no País. Pelo menos estes foram os números oficialmente entregues pela PF à CPI do Grampo, no Congresso. O curioso é que toda vez que uma operação da PF atinge um político ou um poderoso da República, o tema da banalização das escutas telefônicas volta à discussão. O “grampo” é o principal meio de investigação nas quase 500 grandes operações desencadeadas pela Polícia Federal
Toda a confusão do caso Daniel Dantas, que levou 17 pessoas ao constrangedor entra e sai da cadeia, preocupou o chefão Lula da Silva. Mesmo em viagem à Indonésia, Lula recomendou cuidado para que pessoas inocentes não sejam expostas. “É importante que a Polícia Federal trabalhe com todo o cuidado para não criar manchetes envolvendo nomes de pessoas que depois se transformam em inocentes e ninguém pede desculpas. Nós queremos investigar. Nós não queremos nem punir antecipadamente e nem absolver antecipadamente”.
Lindas palavras do Grande Líder. Mas o negócio promete feder mais ainda. Com grampo ou sem grampo. O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) vão abrir um novo leque de investigações da Operação Satiagraha, focado no chamado nicho dos doleiros, freqüentes personagens nos grandes esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro. O alvo é o caminho do dinheiro que teria sido lavado no exterior pelo Opportunity Fund, do banqueiro Daniel Dantas. Para isso, os investigadores pretendem cruzar dados da Operação Satiagraha com o banco de dados do caso Banestado, investigado pelo MPF do Paraná desde 1997 e que resultou na CPI do Banestado, entre 2003 e 2004.
Pelo menos dois dos doleiros investigados na Satiagraha aparecem nos bancos do caso Banestado: Lúcio Bolonha Funaro - que também esteve envolvido no Mensalão - e Marco Ernest Matalon, conhecido como "o doleiro das estrelas", porque operaria para brasileiros famosos. Ambos teriam movimentado contas no MTB Bank de Nova York. As investigações vão contar com a ajuda de autoridades norte-americanas interessadas em saber se o dinheiro dos curruptos brasileiros ajuda a financiar atividades de terroristas, por exemplo. Pode até ser. Afinal, dinheiro sujo serve para qualquer coisa.
A Polícia Federal tem os nomes 98 investidores brasileiros em um organograma do esquema do banqueiro Daniel Dantas. A lista inclui nomes de empresários, médicos, jornalistas, executivos e comerciantes. Além da lista de 98, a PF preparou outra com mais 293 nomes, ao lado dos quais há valores de que variam de 251 milhões (não se diz se dólares ou reais) a 754.
Todos manteriam dinheiro no Opportunity Fund, nas Ilhas Virgens, notório paraíso fiscal do Caribe - sem qualquer registro no Banco Central sobre a saída do dinheiro do País. Todos eles teriam desobedecido duas normas legais em vigor no País. A primeira, contida no artigo 22 da Lei 7.492/86, trata de evasão de divisão; e a segunda envolve a Resolução 2.689 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que veda aos clientes brasileiros os fundos offshore em países estrangeiros, como Opportunity Fund. Ou seja: quem tem tem medo!
Para o esquema de lavagem/esquentamento de dinheiro funcionar, segundo a PF, foram criadas "empresas veículos". Elas formaram cadeias societárias, cujo ponto de partida eram fundos do acordo Opportunity-Citibank. Por meio dessas empresas, segundo a PF, Dantas arrematou a Brasil Telecom, a Amazônia Celular e a Telemig Celular. Eis porque tanta gente boa, ligada à privataria, anda com o dedinho na seringa.
Tá tudo dominado pelo submundo do crime. De alto a baixo. O bingo, os caça-níqueis e o tradicional jogo de bicho alimentam uma rede de pelo menos 300 "laranjas", que emprestam seus CPFs aos verdadeiros donos do negócio: a velha cúpula da contravenção. Foi o que descobriu a Operação Furacão, da Polícia Federal. Pelo menos 84 pessoas tiveram o sigilo financeiro quebrado. Os dados da conta de cada um foram cruzados com informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), da Receita Federal e do Banco Central. Foi assim que o Ministério Público Federal confirmou a existência de centenas de "laranjas". O que mais intrigou os procuradores foi descobrir que boa parte deles morava em casas humildes, em bairros menos nobres.
Foi derrubado até o mito da incorruptível Tropa de Elite, conforme foi difundido no famoso filme narrado pelo Capitão Nascimento. A Polícia Federal descobriu ainda que quatro policiais (dois cabos e dois soldados) do Batalhão de Operações Especiais (Bope), unidade de elite da Polícia Militar, são seguranças de Alcebíades Paes Garcia, o Bide, irmão e herdeiro do falecido Waldemir Paes Garcia, o Maninho, nos pontos de bicho da Tijuca e da Zona Sul do Rio. A informação consta de um documento confidencial produzido pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes, da Polícia Federal, em 14 de abril.
A detonação do novo escândalo dos bingos é mais um “aviso divino”. Interessados em se meter no complicado negócio do jogo no Brasil, o grande “João”, sua família e o médico que cuida das finanças de todos eles deveriam tomar cuidados redobrados. O bicho já está pegando – literalmente – como se diz na gíria marginal. Te cuida, Mané!
Para entender tanta sacanagem, releia a série de artigos:
O Governo Ideológico do Crime Organizado
O Governo Ideológico do Crime Organizado II
O Governo Ideológico do Crime Organizado – III
O Governo Ideológico do Crime Organizado - IV
O Governo Ideológico do Crime Organizado - V
Jorge Serrão, jornalista radialista e publicitário, é Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos. http://www.alertatotal.blogspot.com e http://podcast.br.inter.net/podcast/alertatotal
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