quinta-feira, 10 de julho de 2008

O inimigo tem um nome

por Daniel Pipes em 10 de julho de 2008

Resumo: O inimigo tem um nome preciso e conciso: islamismo, uma versão utópica e radical do Islã. Os islamistas, adeptos dessa ideologia bem financiada, disseminada e totalitária, estão tentando criar uma ordem islâmica global.

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Se você não consegue dar nome ao seu inimigo, como poderá derrotá-lo? Tanto quanto um médico identifica uma doença antes de curar um paciente, um estrategista também precisa identificar o adversário antes de vencer uma guerra. Todavia, os ocidentais têm se mostrado relutantes para identificar o oponente no conflito que o próprio governo dos Estados Unidos chama, de forma variada (e eufemisticamente), de “guerra global ao terror”, a “longa guerra”, a “longa luta contra o extremismo violento” [sic], ou ainda, a “luta global pela segurança e progresso”.

Esta timidez se traduz numa inabilidade para definir objetivos de guerra. Duas declarações de fontes de alto nível do governo americano, que datam do final do ano 2001, tipificam as declarações vagas e ineficazes emitidas pelos governos ocidentais. O então Secretário de Defesa Donald Rumsfeld definiu vitória como o estabelecimento de “um ambiente onde possamos de fato desempenhar e viver [nossas] liberdades”. Em contraste, George W. Bush anunciou um objetivo mais restrito, “a derrota da rede de terrorismo global”, o que quer que essa rede indefinida possa ser.

De fato, “derrotar o terrorismo” permaneceu como o objetivo básico da guerra. Conseqüentemente, os inimigos são os terroristas e o contraterrorismo é a resposta principal.

Contudo, especialistas vêm concluindo, cada vez mais, que o terrorismo é apenas uma tática, e não um inimigo. Bush admitiu isso, efetivamente, em meados de 2004, reconhecendo que “[N] ós realmente chamamos a guerra ao terror por um nome errado”. Corrigindo, ele chamou a guerra de “uma luta contra extremistas ideológicos que não acreditam em sociedades livres e que fazem uso do terrorismo como arma, tentando assim abalar a consciência do mundo livre”.

Um ano mais tarde, em meio às conseqüências dos atentados a bomba em Londres [o 7/7], o primeiro-ministro britânico Tony Blair levou a discussão adiante ao falar do inimigo como “uma ideologia religiosa, uma tendência distorcida dentro da religião do Islã”. Logo depois, o próprio Bush usou os termos “radicalismo islâmico”, “jihadismo militante” e “islamo-fascismo”. Mas essas palavras suscitaram muitas críticas e ele recuou.

Em meados de 2007, Bush reverteu o discurso e então falou sobre “a grande luta contra o extremismo que ora campeia por todo o Oriente Médio”. E é neste ponto que as coisas estão agora, tanto que agências do governo americano estão sendo instruídas a referirem-se ao inimigo em termos tão nebulosos quanto “culto da morte”, “semelhante a culto”, “culto sectário” e “violentos praticantes de cultos”.

Na verdade, o inimigo tem um nome preciso e conciso: islamismo, uma versão utópica e radical do Islã. Os islamistas, adeptos dessa ideologia bem financiada, disseminada e totalitária, estão tentando criar uma ordem islâmica global que aplique a lei islâmica (Shar’ia) em sua totalidade.

Deste modo definido o inimigo, a resposta necessária torna-se clara. Ela divide-se em duas partes: derrotar o islamismo e ajudar os muçulmanos a desenvolver uma forma alternativa do Islã. Não é coincidência que, anteriormente, esta abordagem tenha sido posta em prática pelas potências aliadas vis-à-vis dois outros movimentos utópicos radicais, o fascismo e o comunismo.

Primeiro vem o fardo de derrotar um inimigo ideológico. Assim como em 1945 e 1991[*], o objetivo precisa ser a marginalização e o enfraquecimento de um movimento ideológico consistente e agressivo, de modo que este não mais atraia seguidores nem ofereça uma ameaça que abale o mundo. A II Guerra Mundial, vencida com sangue, aço e bombas atômicas, oferece um modelo para a vitória. A Guerra Fria, com a dissuasão nuclear, a complexidade e o colapso quase pacífico, oferece outro, bem diferente.

Presumivelmente, a vitória sobre o islamismo tirará lições desses dois legados, misturando-os numa nova mistura de guerra convencional, contraterrorismo, contrapropaganda e muitas outras estratégias. De um lado, o esforço de guerra levou à derrubada do governo Talibã no Afeganistão; de outro, requer rechaçar os radicais islamistas que, de forma legal, trabalham no interior das arenas educacional, religiosa, midiática, jurídica e política.

O segundo objetivo envolve a ajuda a muçulmanos que se opõem aos objetivos islamistas e desejam oferecer uma alternativa à perversão do islamismo ao reconciliar o Islã com o que há de melhor nos modos modernos. Mas tais muçulmanos estão enfraquecidos, sendo não mais que indivíduos separados e que apenas começaram o duro trabalho de pesquisa, comunicação, organização, levantamento de fundos e mobilização.

Para fazer tudo isso de forma mais rápida e eficiente, esses moderados precisam de encorajamento e patrocínio não-muçulmano. Não importando o quão pouco comoventes ou apelativos os moderados possam parecer agora, somente eles, com o apoio do Ocidente, detêm o potencial de modernizar o Islã, e por meio disso, erradicar a ameaça do islamismo.

No fim das contas, o islamismo representa dois desafios principais aos ocidentais: falar francamente e almejar a vitória. Nenhuma dessas atitudes vem naturalmente à pessoa moderna, que tende a preferir o comportamento “politicamente correto”, a “resolução de conflitos”, ou até mesmo, o apaziguamento. Mas, uma vez que estes obstáculos tenham sido vencidos, a fraqueza objetiva do inimigo islamista, em termos de arsenal, economia e recursos, significa que ele pode ser prontamente vencido.

[*] Nota Editoria: O articulista Daniel Pipes faz parte de uma corrente de pensamento – majoritária no mundo, diga-se – que acredita que o fim da URSS marcou o fim do comunismo. Esta não é a visão da maioria dos articulistas do MSM, nacionais ou estrangeiros. Todavia, essa divergência não somente é salutar para o debate, como não empana, de maneira alguma, o brilho das análises do Sr. Pipes acerca do Oriente Médio e do Islã.

Publicado originalmente no Jerusalem Post em 19/06/08

Também disponível em danielpipes.org

Tradução: MSM

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