terça-feira, 13 de maio de 2008

Leituras de férias

por Percival Puggina em 12 de maio de 2008

Resumo: Desde os anarquistas da Rússia dos tzares todos os movimentos terroristas nasceram em mentes confortavelmente estabelecidas, de modo especial entre intelectuais de classe média.

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Confesso que gosto do gênero. Livros de espionagem, intriga internacional, os chamados thrillers, enfim, constituem minha leitura predileta para as raras ocasiões em que consigo me afastar das rotinas cotidianas. Tenho pilhas desses livros em casa, comprados já no lançamento em forma de pocket book pelas editoras norte-americanas. Quem quiser me desqualificar por esse gosto, sinta-se a gosto, mas foi precisamente esse tipo de livro que escolhi para ler nestas últimas três semanas, levando na bagagem alguns robustos volumes dos meus preferidos - Robert Ludlum e Frederick Forsyth.

Nas duas últimas décadas, com o fim do conflito Leste-Oeste, que durante os anos da guerra-fria se constituiu na grande vertente dos thrillers, seus escritores foram buscar inspiração no combate ao terrorismo. Esse é, então, o tema de Avenger, livro de Forsyth que levei comigo. Dois fatos se cruzam ao longo da narrativa: uma sinuosa operação para localizar Bin Laden e uma investigação particular sobre a morte de um jovem norte-americano que prestava serviço voluntário em assistência às vítimas dos conflitos desencadeados em 1995 na antiga Iugoslávia. É um trecho dessa obra, sobre as causas do terrorismo, que proponho à reflexão dos leitores.

O autor discorre sobre movimentos e organizações desse tipo atuantes ao longo do século passado, destacando Irgun, Stern Gang, EOKA, Baader Meinhoff, Action Directe, Brigate Rosse, IRA, ETA (ao ler a lista, lembrei-me de alguns nascidos aqui na nossa volta, como o peruano Sendero Luminoso, o MIR chileno e as FARC). E afirma ser conversa fiada a tese “politicamente correta” de que o terrorismo nasce da pobreza (exatamente o que ensina o pastor Jeremiah Wright, preceptor de Barack Obama, e o que afirmou Lula em setembro de 2001).

Desde os anarquistas da Rússia dos tzares, escreve Forsyth, todos os movimentos terroristas nasceram em mentes confortavelmente estabelecidas, de modo especial entre intelectuais de classe média. Seus criadores eram pessoas dotadas de imensa vaidade pessoal e auto-indulgência. Da mesma forma, aqueles que de algum modo lhes dão suporte, na mídia e no mundo acadêmico, não têm o hábito de perder refeições. O ódio é o grande traço de união que os congrega, quer sejam magnatas financiadores ou comunicadores que tudo justificam, quer sejam professores ocidentais que racionalizam a violência ou orientadores que preparam militância nas madrassas do fundamentalismo islâmico. É sempre o ódio, a imensa capacidade de odiar. Primeiro, inclusive, sugere o autor, vem o ódio. Só depois aparece o objeto do ódio. Quanta sabedoria e justo discernimento num livrinho desprovido de pretensões analíticas!

A breve aula contida nesse capítulo de Avenger se conclui com outra observação interessante a respeito do ressentimento que os grupos políticos esquerdistas de certos países mantêm em relação às nações mais desenvolvidas. A afirmação, de fato, é magistral: “Se eles forem indulgentes com os bem sucedidos, terão que acusar a si mesmos”. De fato, tudo que ensinam leva ao insucesso.

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