terça-feira, 13 de maio de 2008

A Marcha da Maconha

por Ipojuca Pontes em 12 de maio de 2008

Resumo: No Brasil, com as instituições sociais estruturalmente corrompidas, afogadas pelo lodo do aparelhamento estatal, a poeira tóxica do vício ajuda a sufocar de vez os resquícios da saúde nacional. Hoje, o país fragmenta-se moral e fisicamente.

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O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, acolhendo pedido do Ministério Público estadual, proibiu na forma da lei a realização da Marcha da Maconha, que ocorreria no dia 5 de maio na grã-fina Ipanema, o palco-mor da esquerda festiva nacional. Um dos seus promotores, o sociólogo Renato Cinco, contestou a determinação do TJR, afirmando o seguinte: “A decisão da Justiça tem dois grandes equívocos, pois vai contra dois princípios constitucionais, o da liberdade de expressão e o da liberdade de reunião”.

Mas o Deputado Federal Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), ex-secretário de Segurança do Estado, que entrou com uma ação contra a passeata que resultou na sua proibição pela Justiça, contrapôs que o ato era ilegal, pois diligenciava em favor do uso da maconha: “A marcha foi criada para promover um crime, que é o consumo de drogas. Eu não sou contra a liberdade de expressão, mas essa discussão não deveria ser feita em local público, e sim em meios acadêmicos e no Congresso. Essa é um movimento de meia dúzia de burgueses que buscam satisfação pessoal para o seu vício”.

O deputado Itagiba está coberto de razão, mas, coitado, não sabe com quem está lidando, ou sabe e não quer falar: pois é justamente no seio da “comunidade” acadêmica, no âmbito das ONGs ambientalistas e, de forma camuflada, nos bastidores dos partidos “progressistas” - e radicais - que se trama a luta pela descriminalização da droga e a sua posterior liberação. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o Vaselina, e o governador Sérgio Cabral, leitor do “Estado e a Revolução” (de Lenin), dois produtos típicos do nosso meio “politicamente correto”, são favoráveis e laboram, sempre que possível, em função da sua descriminalização. A tese é a de que com a legalização da produção, comercialização, distribuição e o controle da droga pelo Estado, a violência que a cerca acabaria como num passe de mágica.

Até meados dos anos de 1950, o consumo de droga era uma excentricidade, mesmo entre marginais. Contavam-se nos dedos os casos do “beautiful people” ou de artistas que fumavam maconha ou cheiravam cocaína. Nos anos de 1960/70, com a emergência do fenômeno da contracultura, promovido à exaustão pelos “crânios” da Escola de Frankfurt (com destaque para Herbert Marcuse), a fuzarca da droga passou a ser encarada como ato de contestação política contra a “estrutura dominante da sociedade industrial” – o capitalismo, por assim dizer.

Sim, a Cannabis sativa tomou conta das universidades, escolas, reuniões sociais, antros de bandidos e, entre artistas, alastrou-se o seu consumo sob o pretexto de que a droga agia como estimulante para a “criação de um mundo onírico e fora da realidade”. Em Berkeley, New York, Paris, Berlim, Rio e nas periferias das grandes cidades a droga veio para ficar. Modelou até um tipo social curioso: o “radical chique”.

Um dos argumentos que se usa em defesa da maconha é o de que ela não é droga pesada e, em certos casos, até alivia a dor dos pacientes terminais. Ademais – garantem - o barato da maconha é excitante, quebra a canseira, torna o usuário ativo, diminui a fome e deixa o “cara numa boa”. (De fato, a coisa não fica por aí: depois de certo tempo, o maconheiro definha, perde a vontade, torna-se preguiçoso e emocionalmente instável. No campo das artes – por exemplo, no cinema -, os maconheiros que conheci eram, em geral, tipos neuróticos, desconectados da realidade e ocasionalmente tendentes à histeria).

O fato concreto é que nos últimos 50 anos a droga massificou-se em escala universal. E, paralelamente, tornou-se um negócio (porco) dos mais lucrativos do mundo, com renda global em torno dos US$ 800 bilhões anuais. Por trás dele estão as máfias internacionais, o crime organizado, os guerrilheiros das FARC, interesses ideológicos e revolucionários de todos os matizes, para não falar da própria polícia, dos políticos e de setores do poder judiciário – justamente as instituições que deveriam combater a ferro e fogo o narcotráfico.

O interesse especial dos traficantes é a expansão da droga no seio da juventude – a chave do tesouro. Só nos Estados Unidos, cerca de 100 mil adolescentes iniciam-se anualmente no seu consumo. Desde 1969, ano do festival de rock de Woodstock, os números não param de crescer. Estima-se hoje, no universo dos seus dependentes, mais de 30 milhões de viciados, quase três vezes a população de Cuba.

Em território nacional, a coisa não fica por menos. Com o permanente abastecimento das FARC, a droga, como meio de vida e fonte de “prazer”, tornou-se o negócio oficioso das favelas e das periferias urbanas. Nelas, crianças, adolescentes, velhos, homens e mulheres vegetam em torno dos pontos de papelotes e bocas de fumo, tendo como conseqüência natural o seu envolvimento direto na violência generalizada responsável pela morte de 50 mil brasileiros por ano – índice superior aos apontados em toda a guerra do Iraque.

No âmbito dos “movimentos sociais” caboclo, defende-se a adoção do “modelo holandês” no Brasil como forma de se estabilizar o consumo da droga, regularizar o seu abastecimento e reduzir a incidência da criminalidade. Aqui, como sempre, sonega-se a verdade. Em primeiro lugar, na Holanda (um país menor do que a Paraíba), desde que a liberação da droga foi adotada, em 1976, o aumento do número de viciados cresceu em mais de 400%. Em segundo lugar, a partir da “batalha das drogas” ocorrida nas ruas da Bélgica, também permissiva, ampliou-se o controle do Estado holandês, que adotou severas medidas restritivas ao seu consumo.

No Brasil, com as instituições sociais estruturalmente corrompidas, afogadas pelo lodo do aparelhamento estatal, a poeira tóxica do vício ajuda a sufocar de vez os resquícios da saúde nacional. Hoje, o país fragmenta-se moral e fisicamente. E a própria Igreja católica, surda pelo furor da teologia da libertação, troca os princípios da evangelização pelos ecos das trombetas revolucionárias.

É o fim!

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