BALANÇO NÃO É NADA POSITIVO
Farol da Democracia Representativa
Um ato de contrição relevante que vale a pena refletir
Daniel Fresnot
Quarenta anos depois das revoltas de 1968 o balanço não é nada positivo. Lembro-me de que cometi em 68 o primeiro seqüestro político, de uma agente da polícia cuja alcunha era "Maçã Dourada". Ficou quatro dias detida no Grêmio da Filosofia da USP e foi trocada pelo único estudante preso em São Paulo naquele momento. Peço aqui perdão a Heloisa Helena pela violência que cometi e pelo mau exemplo que demos. Hoje, o seqüestro tornou-se "carne de vaca".
Da mesma forma as diversas contestações dos anos 60 e 70 banalizaram as drogas. Creio que hoje não há uma escola onde não se ofereçam drogas aos jovens - até os anos 60 isso era um fenômeno limitado. Minha geração abriu a caixa de Pandora. Um dos lemas da época, "sexo, drogas e rock and roll", causou e vai continuar causando um mal danado. Trabalho com acolhimento de crianças de rua e sei de meninos de 10 anos dependentes. Isso era inconcebível há 40 anos. Também a revolta contra a moral tradicional teve aspectos muito negativos. A família explodiu e a pornografia invade até a internet.
A luta armada e a agitação política em 68 foram erros trágicos que acabaram favorecendo a linha dura militar e aqueles que queriam fechar de vez o regime. Em 68 o movimento estudantil não lutou pela volta à democracia que considerávamos "burguesa". Ele lutou principalmente pelos "ismos" - socialismo, maoísmo, trotskismo, guevarismo. Nosso exemplo era Cuba. Embora também houvesse democratas sinceros, era de fato a extrema-esquerda que comandava o movimento. Subestimamos gravemente a importância da democracia e o País todo pagou um preço muito alto. Inclusive pelos jovens de muito valor, nossos companheiros torturados e assassinados, que teriam amadurecido e hoje fazem falta ao país.
A minha geração teve a sorte de viver mais de 60 anos de paz e prosperidade e, no entanto, muitos problemas se agravaram. Violência criminal, desemprego, terrorismo, poluição, drogas, imoralidade, favelas, crianças de rua e corrupção estão piores hoje do que nos anos 60. Por todos estes motivos não me gabo de minha participação em 68, hoje penso que éramos jovens inconscientes acreditando em ideais errados. Creio que não devemos dizer aos jovens e a nossos filhos: "Veja que bacana, eu lutei em 1968", mas sim reconhecer os graves erros que cometemos para que não se repitam. O balanço não é positivo.
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Daniel Fresnot, 59 anos, é industrial e escritor. Fundou a Casa Taiguara, que acolhe crianças de rua em São Paulo.
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