sexta-feira, 20 de junho de 2008

Obama e McCain: o que eles dizem sobre o Oriente Médio

por Daniel Pipes em 19 de junho de 2008

Resumo: O que pensam os candidatos Republicano e Democrata sobre o papel de Israel no Oriente Médio?

© 2008 MidiaSemMascara.org


Com o término das eleições primárias do Partido Democrata, os eleitores americanos podem se concentrar em questões de substância política. Por exemplo: qual é a diferença de abordagem dos dois principais[*] candidatos no que diz respeito a Israel e a tópicos relacionados? Entrevistas paralelas conduzidas pelo jornalista Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic, que conversou com o democrata Barack Obama no início de maio e com o republicano John McCain no final do mesmo mês, oferecem insights importantes.

Recebendo basicamente o mesmo conjunto de perguntas, os dois saíram em direções opostas. Obama usou a entrevista para convencer os leitores de sua boa-fé. Por três vezes ele reiterou seu apoio a Israel: “[A] idéia de um estado judeu seguro é, fundamentalmente, uma idéia justa e necessária. [...] A necessidade de preservar um estado judeu que seja seguro é... uma idéia justa que deveria ser apoiada aqui nos Estados Unidos e ao redor do mundo. [...] Sob a minha presidência, vocês não verão qualquer relaxamento no compromisso com a segurança de Israel”.

Obama então detalhou seu apoio dentro de quatro contextos especificamente judaicos.

- Evolução pessoal: “[Q]uando eu penso a respeito da idéia sionista, penso sobre como meus sentimentos quanto a Israel foram moldados em minha juventude – na verdade, já na minha infância. Na sexta-série, eu tive um monitor de acampamento judeu-americano que tinha passado um tempo em Israel”.

- Carreira política: “[Q]uando eu comecei a organizar atividades políticas em Chicago, meus dois companheiros nessa tarefa eram judeus e eu fui atacado por associar-me a eles. Assim, fiquei na trincheira com meus amigos judeus”.

- Idéias: “[E]u sempre brinco dizendo que a minha formação intelectual se deu através de estudiosos e escritores judeus, ainda que eu não soubesse disso na época. [Eu não sei] se foram os teólogos ou Philip Roth que ajudaram a dar forma à minha sensibilidade, ou ainda, se foram escritores mais populares, a exemplo de um Leon Uris”.

- Filosofia: “[M]inha equipe às vezes me provoca porque me angustio com questões morais. Creio que, em parte, aprendi isso do pensamento judaico, do fato de que suas ações têm conseqüências, que elas importam e que há imperativos morais”.

Em contraste, McCain não viu necessidade de provar o seu sionismo nem suas credenciais pró-judaicas. Considerando-as como dadas, McCain usou a entrevista para levantar questões políticas, particularmente a ameaça vinda do Irã. Por exemplo, quando perguntado sobre a razoabilidade e justiça do sionismo, ele replicou: “[É] notável que o sionismo tenha existido em meio a guerras e grandes provações e que tenha se mantido fiel aos ideais de democracia, de justiça social e de diretos humanos”. E continuou: “Eu penso que o Estado de Israel permanece sob ameaça significativa de organizações terroristas, assim como da continuada campanha dos iranianos para varrer Israel do mapa”. Referindo-se ao Irã novamente, McCain comprometeu-se “a nunca permitir outro Holocausto”. Ele referiu-se à ameaça de destruição de Israel como algo que tem “profundas conseqüências à segurança nacional dos Estados Unidos” e enfatizou o fato de que Teerã patrocina organizações terroristas cujo intento é a destruição dos Estados Unidos da América.

Uma segunda diferença diz respeito à importância do conflito árabe-israelense. Obama o descreveu como um “ferimento aberto”, uma “chaga aberta” que infecta “toda a nossa política externa”. Mais especificamente, Obama disse que a falta de uma solução para esse conflito “fornece um pretexto para que militantes jihadistas antiamericanos se engajem em ações indesculpáveis”. Indagado sobre a declaração de Obama, McCain criticou severamente a idéia de que o radicalismo islâmico resulta da confrontação árabe-israelense: “[E]u não considero o conflito uma ferida. Eu penso que é um desafio à segurança nacional [americana]”. McCain continuou, pondo em evidência que: “[S]e o conflito árabe-israelense fosse resolvido amanhã, nós ainda nos veríamos face à enorme ameaça do extremismo radical islâmico.”

Finalmente, os dois discordam quanto à significância da permanência de israelenses a viver na Margem Ocidental. Obama deu grande ênfase ao tópico ao comentar que se o número deles continuar a crescer ”[N]ós ficaremos paralisados e presos ao mesmo status quo ao qual estivemos presos há décadas”. McCain reconheceu que esse é um assunto muito importante, mas rapidamente mudou o foco do tópico, centrando-o na campanha de bombardeio do Hamas à localidade de Sderot, a assediada cidadezinha israelense onde ele esteve pessoalmente em março deste ano, cujos terríveis apuros ele explicitamente comparou aos Estados Unidos continentais sendo atacados a partir de uma de suas fronteiras.

A dupla entrevista de Goldberg salienta dois fatos. Primeiramente, os candidatos dos partidos principais à presidência ainda precisam, de qualquer maneira, mostrar deferência e consideração para manter estreitos os laços americanos com Israel, ainda que no caso de Obama, essa deferência possa contradizer suas posições anteriores. Em segundo lugar, enquanto McCain está seguro quanto ao assunto, Obama preocupa-se em conquistar o voto pró-Israel.

[*] NT: Nas eleições americanas há um grande número de candidatos não filiados nem ao Partido Republicano (GOP), nem ao Partido Democrata. Em eleições anteriores, Ralph Nader e Ross Perot foram os nomes mais conhecidos entre os chamados independentes. Em 1992, Perot, um empresário texano, recebeu 18.9% do voto popular - aproximadamente 19.741.065 votos - (mas nenhum voto no Colégio Eleitoral ).

Publicado originalmente no Jerusalem Post, em 05/06/2008.

Também disponível em danielpipes.org

Tradução: MSM

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