Segunda-feira, Junho 02, 2008
Delegado afirma que corrupção no RJ atingiu nível governamental, e Garotinho adverte: “Se cair, leva Cabral”
Edição de Segunda-feira do Alerta Total http://www.alertatotal.blogspot.com
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Por Jorge Serrão
O ex-governador do Rio de Janeiro promete chumbo grosso contra o atual. Anthony Garotinho, manda avisar, nos bastidores da política fluminense: “Se cair, leva Sérgio Cabral antes”. Garotinho não fala publicamente, mas tem certeza de que "existe o dedo" do Palácio do Planalto e de Cabral nesta ação contra ele. Réu no processo instaurado com base na Operação Segurança Pública S/A, da Polícia Federal, que investiga o uso da máquina policial para corromper e obter vantagens ilícitas, Garotinho ficou irritado ontem à noite com a entrevista ao "Fantástico", da Rede Globo, do delegado Alexandre Neto.
Lotado na Divisão Anti-Seqüestro, o policial afirmou que, no estado do Rio, a corrupção chegou "a nível governamental". Segundo o delegado Alexandre Neto, o ex-governador Anthony Garotinho deve ser responsabilizado pelos casos de corrupção ocorridos no período em que Álvaro Lins ocupou a chefia da Polícia Civil: “O chefe de polícia faz aquilo que o governador quer. Se o governador não quiser, não acontece”. Neto, que sofreu um atentado em Copacabana em setembro do ano passado, considera que o crime organizado da favela é "fácil de ser revelado", só irradiando na sociedade após chegar ao Estado.
A Procuradoria Regional da República também acusa a ex-governadora do Rio, Rosinha Matheus, e o deputado estadual e ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins (PMDB), entre outros políticos, de terem recebido doações ilegais de quadrilhas de caça-níqueis e do jogo do bicho. Rosinha é mulher do ex-governador Anthony Garotinho, denunciado no caso. As doações teriam ocorrido entre 2001 e 2002, ano em que Rosinha foi eleita. A afirmação consta da denúncia, que levou à decretação da prisão de dez pessoas na semana passada. Rosinha aparece como beneficiária de R$ 1,6 milhão, recebido na casa do "principal contador da máfia dos caça-níqueis e do jogo do bicho", segundo o Ministério Público. Já Lins teria recebido R$ 35 mil.
Garotinho se recusa a falar com a imprensa. Só se defende usando seu blog, sua emissora de rádio “O Diário”, em Campos, ou o programa (Fala Garotinho) na Rádio Manchete – apresentado pela filha Clarissa. Para hoje, às 10 horas, seu blog anuncia que Garotinho vai “conceder uma entrevista, para esclarecer alguns fatos que estão por trás de toda essa covardia, que praticaram contra mim e a minha família”. No blog, Garotinho faz uma observação: “Ao contrário do que alguns jornais publicaram, eu não deixei de apresentar o meu programa por causa dos acontecimentos da semana passada. Quem acompanha o FALA GAROTINHO sabe que já algum tempo, Clarissa vem me substituindo”.
Ainda no blog, Garotinho se defende: “Aumenta o número de telefonemas de solidariedade por conta da covardia sofrida por mim e por minha família. É gente, importante ou anônima, de todo o Brasil unida pela indignação contra os abusos praticados. A maioria se revela perplexa diante da declaração do procurador do Ministério Público Federal de que não há qualquer prova contra mim. Outros vêem na operação objetivos políticos. Seja qual for a razão que motivou essa violência, é lamentável que tenha ocorrido, pois revela, tão-só, perseguição, perseguição, perseguição e perseguição”.
Novo ataque
O delegado Maurício Demétrio disse promete processar o ex-governador Anthony Garotinho por calúnia qualificada, injúria, difamação.
Também ameaça ajuizar ação por danos morais, depois de ser acusado pelo ex-governador de tentar supostamente extorquir, em 2003, empresários da Tribel, do grupo Bayer, em Belford Roxo, durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça estadual.
Segundo o delegado, que na época era lotado na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), ele não respondeu e nem foi denunciado à Corregedoria por qualquer acusação de corrupção:
“Ser acusado por Garotinho, réu no processo instaurado com base na Operação Segurança Pública S/A da Polícia Federal, é uma honra. Eu ficaria muito preocupado, na atual situação, se o ex-governador estivesse me elogiando”.
O alvo indireto
O advogado Ubiratan Guedes, que representa Alvaro Lins, informa que o deputado está sob cuidados médicos e sem condições de dar alguma declaração.
Mas o presidente do Conselho de Ética da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), deputado Paulo Mello (PMDB), um parlamentar sempre “unha e carne” de quem estiver sentado na cadeira de titular do Palácio Guanabara, afirma que instaurará processo contra o deputado (seu colega no PMDB), se qualquer deputado entrar com uma representação contra ele no Conselho de Ética.
Paulo Mello adverte também que, apesar de parecer, "a sociedade não pode interpretar a decisão da Assembléia, pela liberdade de Álvaro Lins, como um salvo-conduto para o ex-chefe da Polícia".
Sem corporativismo solidário?
Mello garante que a decisão foi baseada num aspecto técnico, que visa a preservar a imunidade parlamentar.
O deputado garante que a decisão da maioria dos deputados, que votou pela libertação de Álvaro, está baseada na Constituição federal que dá ao poder legislativo a prerrogativa de decidir pela manutenção de prisão de um parlamentar.
O problema é que 33 dos 70 deputados fluminenses respondem a algum processo cabeludo na Justiça – o que poderia dar a entender que a decisão em favor de Lins foi um ato de “solidariedade”.
Mais chumbo grosso
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigam deputados estaduais e federais do Rio suspeitos de participarem de um esquema de corrupção para alimentar um caixa dois de campanha eleitoral.
Os indícios foram encontrados em documentos apreendidos durante a Operação Telhado de Vidro, em março passado, em Campos.
Segundo a PF, nomes desses investigados também apareceram durante a Operação Segurança S/A.
Deu mole
De acordo com as investigações da Operação Segurança Pública S.A, em cinco anos, entre 2001 e 2006, Álvaro Lins gastou pouco mais de R$ 1,5 milhão para comprar quatro apartamentos - três em Copacabana e um no Grajaú - e dois carros blindados.
Todos os imóveis foram pagos à vista, e o patrimônio, incompatível com os rendimentos do parlamentar, de acordo com a Polícia Federal, foi colocado em nome de "laranjas".
Foi comprovado, segundo a PF, que os "laranjas" não tinham rendimento suficiente para adquirir os bens imóveis.
Para comprovar a evolução patrimonial do deputado, os policiais utilizaram documentos dos cartórios do Rio, além de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e do Ministério da Fazenda sobre o parlamentar e sua família
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