Mídia sem Máscara
15 novembro 2008
Editorias - Comunismo, Política
A Frente de Luta Popular, no Rio e Janeiro, começou a ser articulada por volta de junho de 2000 e teve fim em 18 de outubro de 2008.
Conforme mencionado, a organização da Frente de Luta Popular foi iniciada por volta de junho de 2000, quando foram realizadas as primeiras reuniões. Inicialmente, o objetivo era apenas o de organizar um “Movimento de Favelas contra a Violência”, iniciativa que logo foi ampliada para uma proposta de aglutinação de vários setores do chamado movimento popular urbano, considerando as lutas comuns motivadas pela conjuntura social do país e do Rio de Janeiro, em particular.
A mobilização e os confrontos que marcaram, em Porto Seguro e Eunápolis, na Bahia, as comemorações dos 500 Anos do Descobrimento, revelaram a importância – segundo os organizadores da FLP – nas lutas de classes atuais, dos movimentos sociais emergentes, quase sempre menosprezados pela esquerda tradicional: sem-terras, indígenas, movimento negro e juventude.
Também importante foi considerado o recrudescimento da violência urbana no Rio de Janeiro, tida como fruto da desagregação social, bem como a resposta que a isso vinha dando a chamada classe dominante, com suas “campanhas pela paz”, coordenadas pela ONG “Viva Rio”, depreciativamente denominada pelos grupos e entidades de esquerda de “Viva Rico”; o aumento de intensidade das manifestações espontâneas da população favelada contra a violência policial, como se tornou evidente a partir dos protestos na favela do Cantagalo, em Ipanema; a conjuntura atual, considerada de retomada de lutas e mobilizações de rua, da qual os confrontos na Bahia, em abril de 2000, precedidos por diversos atos de destruição dos relógios da Tv Globo, em várias cidades; a onda de ocupações desenvolvidas pelos sem-terra em junho do mesmo ano; e os confrontos na av Paulista, em São Paulo..
Nesse sentido, a FLP começou a aglutinar pessoas e movimentos que, embora sendo de diferentes origens e atuações, identificavam-se através de algumas práticas, avaliações ou sentimentos comuns, como, por exemplo: um trabalho voltado para os setores considerados mais explorados da classe trabalhadora, buscando sua conscientização e organização; uma crítica ou insatisfação profunda com os rumos institucionalizados, legalistas, pelegos ou traidores do movimento popular e da esquerda em geral; e uma compreensão de que a luta popular deve ter um caráter combativo, de ataque direto ao regime social de exploração e exclusão, e que a força fundamental de mudança é o povo pobre e explorado em movimento.
Considerando todas essas motivações, a FLP, desde o início, surgiu como uma perspectiva de movimento de luta, e antes mesmo de definir mais precisamente seu caráter, composição e orientação, colocou como perspectiva imediata a realização de uma grande mobilização do povo pobre e desassistido das favelas, no dia 29 de agosto de 2000, quando do 7º aniversário da chamada “Chacina de Vigário Geral”, promovendo um ato público no Largo da Candelária, centro do Rio de Janeiro.
Mais adiante, com a incorporação do Movimento dos Trabalhadores sem Teto às reuniões da FLP, foi assumida a proposta de “invasão” ou “passeio” a um shopping, inicialmente como ato preparatório para o ato de 29 de agosto, na Candelária, mas que logo ganhou importância devido à sua repercussão na mídia. Ao evidenciar, com inegável forma imaginativa e ousada, o contraste social, “invadindo” um espaço consumista considerado de classe média, o ato repercutiu, chamando a atenção para a atuação do MTST e da FLP, com desdobramentos tanto favoráveis como também desfavoráveis: maior atenção das autoridades
policiais a esse tipo de movimentos.
A FLP cometeu, todavia, vários equívocos, principalmente com relação á imprensa, que comentou os “passeios” de forma negativa e deturpada – segundo as lideranças da FLP – o que gerou uma mobilização da chamada “repressão”. Esses mesmos erros voltaram a ser cometidos quando da mobilização para o ato de 29 de agosto, na Candelária, erros que quase inviabilizaram o ato, contribuindo para que a participação das comunidades das favelas não fosse a esperada.
Um outro equívoco deu ainda mais campo para que o governo do Estado e a Polícia, agindo de forma sintonizada com a mídia, desencadeasse uma campanha de contra-informações, considerando os contatos da FLP com lideranças do movimento comunitário, cujas declarações radicais à imprensa deram margem a que elas fossem apresentadas como representativas da FLP como um todo, o que, na realidade, não era verdadeiro, se bem que a movimentação da FLP tocava em duas questões fundamentais capazes de ameaçar o “poder burguês”: a proposta de organizar, para lutar, a população pobre e favelada, e o questionamento à Polícia e à Justiça, tachadas de “partes essenciais do aparelho repressivo da classe dominante”.
Esses equívocos, que repercutiram no movimento popular, sindical e social em geral, geraram uma crise dentro da FLP, levando-a ao isolamento social.
Diante desse quadro, as lideranças da FLP passaram a avaliar que uma cultura de independência, solidariedade, ajuda mútua e luta por objetivos comuns, como a do MST, que consegue superar os medos e receios naturais diante de possíveis ameaças, é precisamente o que ainda falta às favelas e comunidades proletárias em geral, considerando que o movimento comunitário, principalmente nas favelas, tornou-se, desde algum tempo, dependente e manipulado pelo Estado, pelos currais eleitorais, pelo narcotráfico e por setores da Polícia, que atuam, muitas vezes, em total promiscuidade.
A FLP pretendia, ao buscar unificar todos esses movimentos anteriormente citados, superar as suas características corrompidas ou limitadas, e romper com:a dependência em relação ao Estado, governos, parlamentos, Polícia e ONGs, bem como a tendência de canalizar esses movimentos para os caminhos institucionais;
- a cultura de organizar movimentos em torno de personalidades e não em torno de linhas políticas e organizativas definidas com a participação coletiva de todos;
- a limitação dos movimentos a ações restritas no espaço – ações apenas locais – e no tempo – ações momentâneas, sem continuidade e planejamento;
- a aceitação que tradicionalmente se procura impor aos trabalhadores e explorados, em supostamente “excluídos” e “incluídos”, todos “vítimas do mesmo sistema capitalista de exploração e opressão, como se a luta de cada um desses setores não fosse parte de uma única e mesma luta de classes”.
Com o objetivo de aprofundar esse balanço e essas avaliações, e para permitir um melhor conhecimento mútuo entre os diversos movimentos e indivíduos que eram parte ou viessem a fazer parte da Frente de Luta Popular, bem como para traçar os princípios gerais, políticos, sociais e organizativos da FLP, é que foi realizado o seminário dias 21 e 22 de outubro de 2000, significativamente no Morro da Mineira e constituída a FLP.
A FLP nunca reuniu mais de 60 militantes e foi dissolvida por seus membros em uma reunião realizada em 18 de outubro de 2008 na Ocupação Chiquinha Gonzaga, situada atrás da Central do Brasil.
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