07/06 - A vítima é o Exército Brasileiro
A verdade sufocada
Por Reinaldo Azevedo
Por que o politicamente correto é uma manifestação semelhante à propaganda fascista? A exemplo daquela, esta também fala em nome de supostas vítimas ou de supostos perseguidos. É uma forma de legitimar a violência. Pior: usa verdades para propagar mentiras.Vamos lá.
Adiante. Laci de Araújo e Fernando Figueiredo são sargentos do Exército e parceiros estáveis. Moram juntos num apartamento funcional da Força. Não sabíamos, até outro dia, de sua existência. Mas vejam só: eles não querem ser “homossexuais”. Eles não querem exercer o seu amor e seu sexo no resguardo do seu lar, como faz a larga maioria dos heterossexuais: chegam em casa, fecham a porta, e ninguém tem nada a ver com o que se passa lá dentro. Eles querem visibilidade. Eles querem ser “gays”. Mas eles querem ser gays NO e DO Exército.
Por isso, vestindo camisetas que os identificam com a Força, posaram para a capa da revista Época, na qual se lê: “Eles são do Exército, eles são gays, eles são parceiros”. Pararam por aí? Não! A causa precisa de visibilidade. Sempre com as camisetas próprias dos militares, foram dar uma entrevista ao programa Superpop, da Rede TV.
O que torna esses dois tão especiais? Por que capa de revista e programa de TV? Ah, porque eles são do Exército. O que se pretende, na aparência, é atacar um suposto preconceito social. A fórmula é esta: num ambiente viril, em que a coragem e a disciplina são valores máximos, também há gays. Sim, claro, por que não haveria? Essa é só a boa intenção aparente, que esconde um outro preconceito, aí contra os militares: “Olhem so! Os caras ficam posando de machões, mas vai saber o que se passa lá dentro”. Uniformes, diga-se, integram o cardápio das fantasias homoeróticas. Deve ser mais freqüente do que o delírio de pacientes heterossexuais com as enfermeiras...
Adiante. Acontece que o tal Laci, que também é cover de Cássia Eller, enquanto vivia os seus 15 minutos de fama, também estava na condição de desertor. E a Justiça Militar expediu uma ordem de prisão contra ele — e a deserção nada tem a ver com o lugar onde ele põe o seu desejo. Fosse heterossexual e tivesse cometido as mesmas falhas, estaria sujeito à mesma pena. Um desertor dando entrevista? A Polícia do Exército, seguindo ordem da Justiça, cercou o prédio da emissora para prendê-lo.
E pronto! O Exército foi parar na primeira página dos jornais como perseguidor do pobre soldado gay — que, noticia-se com alarde, está muito, muito doente, com um verdadeiro coquetel de doenças psicológicas — o que, suponho, desfez a fantasia de muita gente: macho de uniforme não pode ter fraquezas... Apto ele estava para, com roupa do Exército, posar para capa de revista e dar entrevista em programa de TV. A vítima, claro, é o Exército; o agressor é o casal. Mas a propaganda politicamente correta, a exemplo da propaganda fascista, consegue inverter o ônus da culpa.
O Exército errou feio? Ah, errou, sim. Não ao cumprir a determinação da Justiça — obrigação de todos, mormente de uma Força Armada. Mas ao fazê-lo com mais visibilidade do que era necessário. Bastavam dois soldados discretamente colocados nas saídas da emissora. Ou então que se seguisse o tal Laci até sua casa ou sei lá onde, dando-lhe voz de prisão, ao abrigo do espalhafato midiático. Da forma como fez, estava buscando sarna para se coçar. Especialmente porque sabia que estava mexendo não com “homossexuais”, mas com “gays”, que formam uma categoria militante.
Laura Capriglione, na Folha, com um estilo já notório por selecionar meticulosamente frases infelizes daqueles a quem ela quer demonizar ou ridicularizar, fez a festa. O título na primeira página do jornal não deixa dúvida: “Exército prende sargento que assumiu ser gay”. Não há nenhuma mentira ai: o Exercito prendeu? Prendeu. Ele assumiu ser gay? Assumiu. Como sabemos — um ensinamento lá da propaganda nazista —, é possível mentir dizendo só a verdade. Houve um jornal, certa feita, que usou esse mote em sua campanha publicitária.
É possível ser homossexual no Exército? É. É possível ser militante gay no Exército? Não! É possível ser homossexual na Igreja? É. É possível ser militante gay na Igreja? Não! É possíel ser homossexual na medicina? E? É possível haver uma ética de gays na medicina? Não. Até porque o Exército, a Igreja ou a medicina não aceitariam soldados, padres ou médicos que fossem militantes antigays. Fui claro ou preciso desenhar? É o ofício dos soldados, dos padres ou dos médicos que os iguala. É aí que está a democracia.
Agora, os dois se dizem discriminados. É mesmo? Por quê? Eles tinham, entre seus pares, algum comportamento que os identificava como “gays”? A verdadeira liberdade não consiste em poder ser o que se é sem a obrigação de expressar a identidade particular? Não é mais “libertária” uma Força Armada que abriga as diferenças sem querer arbitrar ou legislar sobre elas, desde que os subordinados cumpram as regras?
Ademais, pensemos um pouco: será que a tolerância com “a” diferença, entre os soldados, será maior depois desse episódio? Intuo que não. Creio mesmo que se dará o contrário. Os dois ocupam um apartamento funcional do Exército. Duvido que seus superiores ignorassem a relação amorosa. Nem por isso foram molestados. Mas eles quiseram ir além: pretenderam levar a “causa gay” para o seio da tropa — uma tropa que não pode ter causa nenhuma que não seja a obediência a seu código disciplinar. E ajudaram a transformar em vilãs pessoas que só cumprem as suas obrigações. O sensacionalismo midiático, daqui a pouco, estará ocupado com outras personagens, com outras causas, com outras "vítimas". Gays ou não, eles não conseguiram ser é bons soldados.
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