Sábado, Junho 07, 2008
Desordem geral
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Por Márcio Accioly
Não se entendem as razões pelas quais se faz tanto alvoroço com relação a escândalos diariamente denunciados no Brasil. Já se devia estar acostumado. Todos os dias interagimos com o bombardeio pelos meios de comunicação, apontando desmandos e falcatruas que ficam por isso mesmo. Quem tem alguma consciência, vive assustado.
O pior de tudo é saber que o problema não se resume apenas à remoção dessa ou daquela figura de alguma função pública, na busca de se elevar o nível ou o padrão de desempenho.
O que aconteceu depois do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello em 1992? Nada! Além de tudo, descobrimos em pouco espaço de tempo não existir nada de concreto nas denúncias contra o então mais alto mandatário desta nação de fancaria, visto que ele foi absolvido em todos os processos a que respondia no STF.
O Brasil é país de desordem onde as instituições não funcionam. Ele pertence a larápios mais do que identificados e conhecidos, milionários do dinheiro público que circulam impunemente exibindo butim conquistado através de apropriação indébita. E nada acontece, ficando o dito pelo não dito e o prometido como inacabado.
Bastaria fazer levantamento apurado dos bens exibidos por nossas principais “autoridades”, muitos deles oficialmente declarados. Sem contar os existentes nas mãos de laranjas e apaniguados que não dispõem de recursos financeiros para tanto.
É claro que, mais dia menos dia, esse quadro irá degringolar e será um deus-nos-acuda. Porque mesmo uma população manipulada e monitorada por novelas, jogos de futebol e pornografia impostas como lama que se infiltra por brechas e frestas de intelectos esvaziados, um dia supera seus limites de alienação e enlouquece.
O jogo está muito conhecido e manjado. No Brasil, tem sido sempre assim: uma “oposição” que a nada se opõe e um “governo” estruturado em discurso que mascara a prática de indizíveis atos de criminalidade. Gato e rato, não se sabe quem é quem.
Depende de quem está numa e noutra posição. Quando distanciado dos cofres públicos, é hora de condenar desvios, mau emprego dos recursos financeiros e atitudes condenáveis pelos mais comezinhos manuais de comportamento e civilidade. Quando no comando das ações, invertem-se os procedimentos.
Mas todos continuam agindo à sorrelfa, de maneira dissimulada e da mesma forma nefasta: entregando o país, minando a possibilidade de construção do futuro e se apossando dos bens pertencentes à coletividade.
Há muitos e muitos anos que vimos surfando na crista de assombrosas crises. Duas delas já arrombaram a porta e não se tem mais como escapar: a dos transportes e a do sistema prisional. Não há como circular livremente nas nossas cidades, seja pela ausência de planejamento no trânsito, seja pelas altas taxas de criminalidade.
Não se constroem presídios e não existe política educacional (outra gravíssima crise a estourar), pois, no primeiro caso, as “autoridades” sabem que se essa história de punir e atuar com seriedade for cumprida ao pé da letra, a maioria dos que nos governam terá inevitavelmente de ser encarcerada.
As Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas e o próprio Congresso Nacional estão cheios de contraventores mergulhados nos embates pelo domínio do dinheiro público, organizando-se em grupos e quadrilhas de alta periculosidade.
Nos Executivos e em largas parcelas do Judiciário, temos o mesmo cenário. De maneira que a banalização do mal, na abordagem da filósofa Hannah Arendt, é no Brasil a banalização do roubo e da patifaria até que aconteça a ruína total.
Márcio Accioly é Jornalista.
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