por Portaberta em 05 de junho de 2008
Resumo: Em entrevista ao blog Portaberta, o coordenador do site Escola Sem Partido fala de seu trabalho.
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O site Escola Sem Partido foi criado em 2004, após a constatação de um grupo de pais que havia doutrinação ideológica de alunos por parte de professores desonestos.
Hoje, o site é referência em discussão sobre a presença de ideologia no ensino, principalmente depois que chamou a atenção dos grande veículos de imprensa com denúncias de doutrinação marxista em material didático de colégios particulares e sistemas de ensino.
Confira a entrevista em que debatemos com Miguel Nagib, coordenador do site, educação, ensino formal, seus vieses ideológicos, e o que tem sido feito pelo site para combater o crescimento de um pensamento hegemônico e a defesa de uma escola mais pluralista.
Como nasceu a idéia de uma escola sem partido? Por que o Escola Sem Partido?
A idéia de uma “escola sem partido” – o que é, na verdade, um conceito ideal – surgiu como reação ao fenômeno da instrumentalização do ensino para fins político-ideológicos e partidários.
É fato notório que, nos últimos 30 anos, um número cada vez maior de professores e autores de livros didáticos vem-se utilizando de suas aulas e de suas obras para doutrinar ideologicamente os estudantes, visando à formação e propagação de uma mentalidade social favorável a partidos e organizações de esquerda.
Sob o pretexto de transmitir aos estudantes uma “visão crítica” da realidade, esses professores e autores se prevalecem da liberdade de cátedra, da cortina de segredo das salas de aula, da imaturidade, da inexperiência e da falta de conhecimento dos alunos para impingir-lhes a sua própria visão de mundo, quase sempre identificada com a perspectiva marxista.
O www.escolasempartido.org nasceu para combater essa prática, a nosso ver, covarde e imoral.
A criação do ESP se tornou necessária em razão da indiferença ou omissão cúmplice dos responsáveis pelas instituições de ensino e das autoridades educacionais diante dos abusos praticados por professores e autores de livros didáticos.
De tanto escutar e repetir que “a educação é um ato político”, os profissionais da educação sequer reconhecem a ideologização como um mal a ser evitado. “Não existe neutralidade”, eles dizem; “todo mundo tem um lado”. Ao renegarem a noção de objetividade científica, perderam também o respeito pelos estudantes.
Para que os nossos leitores conheçam os princípios do movimento, quais são as sugestões da Escola Sem Partido para uma instituição de ensino que pretenda ser apartidária?
Sem uma profunda modificação da mentalidade hoje dominante nas universidades brasileiras – onde são formados os professores militantes –, o problema da doutrinação político-ideológica em sala de aula e nos livros didáticos não será solucionado.
Enquanto isso não acontece, porém, e diante da comprovada incapacidade ou falta de disposição dos responsáveis pelas instituições de ensino para impedir o assédio ideológico e a propaganda partidária em sala de aula, acreditamos que a única forma de enfrentar o problema é dar aos próprios estudantes os meios de que eles necessitam para se defender.
Ou seja, é preciso conscientizar os estudantes dos direitos compreendidos na sua liberdade de aprender. Explico.
Ao lado da liberdade de ensinar está a liberdade de aprender, ambas asseguradas pelo art. 206 da Constituição Federal. A doutrinação político-ideológica em sala de aula constitui claro abuso da liberdade de ensinar; abuso que implica o cerceamento da correspondente liberdade de aprender, já que, numa de suas vertentes, essa liberdade compreende o direito do estudante de não ser doutrinado.
Ora, só um estudante consciente desse direito poderá defendê-lo contra a ação abusiva de professores militantes.
Pois bem. Partindo dessa compreensão do problema, o ESP elaborou a seguinte relação de deveres do professor:
1. O professor não abusará da inexperiência, da falta de conhecimento ou da imaturidade dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para esta ou aquela corrente político-ideológica, nem adotará livros didáticos que tenham esse objetivo.
2. O professor não favorecerá nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, religiosas, ou da falta delas.
3. O professor não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas.
4. Ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a mesma profundidade e seriedade –, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito.
5. O professor não criará em sala de aula uma atmosfera de intimidação, ostensiva ou sutil, capaz de desencorajar a manifestação de pontos de vista discordantes dos seus, nem permitirá que tal atmosfera seja criada pela ação de alunos sectários ou de outros professores.
Se os responsáveis pelas instituições de ensino e as autoridades educacionais quiserem acabar com a doutrinação ideológica nas escolas – e eles têm obrigação moral e legal de fazer isto –, basta transformar essa lista de deveres num cartaz – o que o ESP chama de “cartaz antidoutrinação” – e afixar esse cartaz em cada sala de aula do país, em local onde possa ser lido pelos estudantes e pelo professor.
A exemplo do que ocorre com os consumidores em geral, os próprios alunos saberão se defender se conhecerem seus direitos. Conscientizar os alunos é libertá-los do jugo do professor militante.
Além disso, pensamos que seria indispensável a introdução, nos cursos de formação e reciclagem de professores, da disciplina de Ética Profissional.
O site é a única forma que vocês dispõem para divulgar suas idéias ou vocês têm outros meios / mídias?
Além do site, há uma comunidade no Orkut, criada por um colaborador do ESP. Ela conta, hoje, com mais de três mil membros.
Por outro lado, como o ESP é o único site em língua portuguesa que se ocupa do problema da doutrinação ideológica, frequentemente somos chamados a opinar quando alguma denúncia de assédio ideológico chama a atenção da grande imprensa, como ocorreu, recentemente, no caso do livro didático de Educação Física, da Secretaria de Educação do Paraná.
Mas estamos buscando outros meios de ação. Neste exato momento, por exemplo, estamos pedindo ao Ministério Público do Distrito Federal que adote providências contra a doutrinação ideológica nas escolas do ensino fundamental e médio e nos cursinhos pré-vestibulares. A cópia da nossa representação em breve estará no ESP para ser baixada por quem tiver interesse em apresentá-la ao órgão do Ministério Público da sua cidade.
Em sua opinião, pensar numa escola sem partido é obrigação da gestão escolar ou do professor?
De ambos, obviamente. Mas cada um tem um papel diferente. O professor deve esforçar-se para cumprir os deveres que correspondem à liberdade de aprender dos alunos.
Os responsáveis pela gestão escolar deveriam atuar no sentido de garantir um mínimo de diversidade de perspectivas ideológicas no corpo docente da escola.
Veja bem: as ideologias, sejam elas de esquerda, de direita ou de outro gênero, atrapalham a nossa compreensão da realidade. Uma só ideologia, porém, atrapalha mais do que duas ou três ou muitas. Quando o assunto é conhecimento, o pior dos mundos é o do monopólio ideológico.
Com outras palavras: todas as ideologias são insatisfatórias, mas, se você amplia o leque ideológico, do entrechoque entre as diversas perspectivas o estudante terá a oportunidade de formar uma visão mais abrangente da realidade.
Por isso, diante da dificuldade de eliminar totalmente a influência da ideologia sobre a nossa compreensão da realidade, é importantíssimo que as escolas promovam o pluralismo ideológico dos seus respectivos corpos docentes, palestrantes, etc.
Isto não significa, porém, que cada professor – de esquerda ou de direita – esteja moralmente desobrigado de fazer um esforço permanente para impedir que suas preferências políticas e ideológicas distorçam a realidade que está sendo apresentada aos alunos.
Uma escola sem partido é uma escola sem ideologia política?
Eu diria que uma escola sem partido é uma escola consciente de que as ideologias são obstáculos à compreensão da realidade. É uma escola que ama a verdade e se esforça para conhecê-la.
Uma escola que escolhe não adotar, ou defender, uma ideologia política explicitamente não esconde a sua ideologia política?
Se a escola mantém o compromisso com determinada ideologia política, deixando apenas de “explicitar” esse compromisso, é evidente que ela estará “escondendo” a sua ideologia política. Nesse caso, a resposta é “sim”.
Essa é a situação de todas as escolas brasileiras onde se pratica a doutrinação ideológica de esquerda: nenhuma delas explicita o seu compromisso com a ideologia marxista, mas todas têm esse compromisso.
Digamos, no entanto, que a escola estivesse fazendo um esforço sincero para controlar e reduzir a influência da ideologia sobre aquilo que é ensinado aos alunos. Ainda assim, os educadores de formação marxista e gramsciana afirmariam que essa escola está “escondendo” a sua ideologia. Por que? Porque, para esses educadores, o “aparelho escolar” está sempre, necessariamente, a serviço de algo ou de alguém. Ou está a serviço da classe opressora, ou a serviço da classe oprimida. Não há outra opção.Evidentemente, eles não acreditam na capacidade do ser humano de conhecer a realidade.
Nós acreditamos nessa capacidade. Sabemos que é difícil, que dá trabalho, mas acreditamos.
Nesse aspecto uma escola sem ideologia política não é uma escola pobre em oferecer visões de mundo? Não seria, nesse caso, melhor uma escola de todos os partidos, uma escola que os alunos pudessem optar para onde caminhar?
A essência de todas as ideologias – o marxismo, o positivismo, o cientificismo, etc. – consiste em espremer a realidade para dentro de uma teoria. Se os fatos desmentem a teoria, pior para os fatos.
Ou seja, a ideologia simplifica brutalmente a realidade e dá ao indivíduo a ilusão de conhecê-la e de possuir a fórmula para transformá-la. Pode reparar: dificilmente se encontra um professor militante que não tenha explicações e soluções simples, perfeitas e acabadas para os males do mundo. O problema é que as soluções nunca funcionam, pois o enfoque ideológico subestima a complexidade do mundo.
Portanto, se existisse uma escola sem ideologia, o nosso conhecimento dos problemas sociais, políticos e econômicos seria muito menos imperfeito e incompleto do que é.
Mas, como eu disse, quando o assunto é conhecimento, o pior dos mundos é o do monopólio ideológico. Por isso, infinitamente melhor do que a situação atual – em que o mercado das idéias, no âmbito escolar, é totalmente dominado pela ideologia esquerdista – seria aquela em que diversas ideologias pudessem concorrer livremente umas com as outras pela “preferência” dos estudantes.
Resumindo: se não podemos nos livrar das ideologias, que pelo menos não sejamos obrigados a viver num regime de monopólio ideológico.
Uma escola onde o professor não possa expressar suas opiniões não seria pensar numa escola com uma única visão, não seria um retrocesso na “liberdade de cátedra”? Ou, em outras palavras, os professores que defendem posições marxistas / esquerdistas, que são a maioria, como vocês expõem no site, não devem ter espaço também para que possam expor suas visões, para que os alunos possam ter acesso a elas?
Há mil maneiras de um professor expressar suas opiniões em sala de aula. Ele pode, perfeitamente, depois de expor com a mesma profundidade e seriedade, as diversas teorias explicativas a respeito de determinado fato econômico ou social, dizer o que pensa a respeito. Achamos isso legítimo. O que não está certo, na nossa maneira de ver, é o professor usar o direito de expressar suas opiniões com o objetivo de fazer a cabeça dos alunos.
Em todo caso, é preciso considerar a idade e o nível de conhecimento do público ao qual o professor se dirige. Como já foi dito, a liberdade de ensinar não é uma liberdade absoluta; ela é limitada pela liberdade de aprender do estudante. Ambas são garantidas pela Constituição Federal. Ora, quanto mais jovem e inexperiente, mais impressionável é o estudante. Portanto, mais moderação se deve exigir do professor. É uma questão de ética profissional.
A covardia da doutrinação ideológica está justamente nesse aspecto: o professor militante sabe que o adolescente é impressionável, e se aproveita dessa vulnerabilidade para fazer a cabeça do coitado. E mais: ele sabe que a reavaliação das idéias e convicções adquiridas durante a adolescência exige um investimento intelectual e emocional pesado demais para a maior parte das pessoas, de modo que a adesão a determinado credo ideológico, quando prestada durante essa fase crítica da vida, tende a prolongar-se por vários anos, até ser desmascarada pela realidade – num processo, muitas vezes, lento e doloroso – ou, simplesmente, apagada pelo esquecimento. Por isso a militância político-partidária investe tanto na doutrinação ideológica no ensino médio.
Por outro lado, não podemos nos esquecer da advertência de Max Weber: “Em uma sala de aula, a palavra é do professor, e os estudantes estão condenados ao silêncio. Impõem as circunstâncias que os alunos sejam obrigados a seguir os cursos de um professor, tendo em vista a futura carreira; e que ninguém dos presentes a uma sala de aula possa criticar o mestre. É imperdoável a um professor valer-se dessa situação para buscar incutir em seus discípulos as suas próprias concepções políticas, em vez de lhes ser útil, como é de seu dever, através da transmissão de conhecimento e de experiência cientifica.”
Pensar em professores que não exponham suas ideologias na aula de matemática ou química é mais fácil do que pensar num professor sem ideologia nas aulas de geografia, história e filosofia. Como o professor pode ensinar sobre o que aconteceu e acontece no mundo sem partir da sua própria ideologia, seja ela conservadora, liberal, anarquista, marxista, etc.?
É simples: basta estudar mais antes de ensinar. Em vez de se limitar aos autores da corrente ideológica da sua preferência, o professor deveria consultar autores de outras correntes.
Assim, por exemplo, antes de falar aos alunos sobre a relação entre pobreza e criminalidade ou sobre a Ditadura Militar, o professor deveria consultar autores marxistas, liberais e conservadores, não lhe parece?
Ou seja, é bastante simples, mas dá trabalho. O enfoque ideológico é muito mais cômodo, tanto para o professor, como para o aluno, pois elimina as complexidades, as zonas cinzentas, a necessidade de aprofundamento, de reflexão, etc.
Além disso, diria um professor cínico: “as crianças gostam”. E gostam mesmo, porque, sendo uma perspectiva simplificadora da realidade, ela dá a esses jovens imaturos e inexperientes a ilusão de conhecer o mundo e de ter as respostas para os seus problemas. Isso talvez explique a popularidade dos professores ativistas entre os alunos. Não por acaso, as mensagens mais agressivas que nós recebemos no ESP são enviadas por professores militantes e estudantes na faixa dos 15 anos.
As escolas confessionais durante muito tempo tiveram no quadro de professores somente profissionais que pensavam de acordo com as doutrinas religiosas da própria escola. Com o passar do tempo, muitas delas começaram a contratar profissionais de ideologias e até de religiões distintas da religião que professavam. Uma escola com professores com pensamentos políticos diferentes entre si não poderia se basear nesse exemplo de diversidade religiosa de algumas escolas confessionais?
Perfeito. Como eu disse, os responsáveis pela gestão escolar deveriam atuar no sentido de ampliar a diversidade de perspectivas ideológicas do corpo docente de suas escolas.
A maior parte das escolas, hoje, está muito mais preocupada com o desempenho de seus alunos em vestibulares do que com o que ele pensa ou deixa de pensar. Sabe-se, no entanto, que os vestibulares geralmente são elaborados por pessoas da Academia que têm orientação predominantemente esquerdista / marxista. Como lidar com o problema? Como mudar os vestibulares? Como nossos filhos podem estudar para os vestibulares e ao mesmo tempo não serem doutrinados?
A contaminação político-ideológica do ambiente acadêmico afeta gravemente os exames vestibulares, já que o professor ativista é também, eventualmente, examinador ativista.
Além de transformarem o exame vestibular num filtro ideológico de acesso ao ensino superior – o que é um crime –, esses examinadores sinalizam para o ensino médio e para os cursinhos pré-vestibulares qual a linha a ser seguida pelas escolas que almejarem bons índices de aprovação no vestibular. Com isso, os colégios e cursinhos acabam carregando ainda mais no “enfoque crítico”.
Fecha-se, então, o círculo da realidade paralela criada pela doutrinação político-ideológica, uma vez que, no país dos vestibulares e concursos, a “verdade” para o candidato é o que coincide com o gabarito.
Não preciso dizer que o viés ideológico adotado nos vestibulares (e, mais recentemente, também nos concursos públicos) é sempre, invariavelmente, esquerdista.
Para os canditados a situação é muito difícil. Se o aluno estiver realmente preparado, ele corre o risco de ser reprovado.
Como mudar os vestibulares? Repito o que disse anteriormente: Sem uma profunda transformação da mentalidade hoje dominante nas universidades brasileiras, esse problema não terá solução. Enquanto isso não acontece, é preciso denunciar.
Por que no site há muito mais denúncias de uma doutrinação da chamada esquerda política do que da direita?
Por uma razão muito simples: no Brasil, quem promove a doutrinação político-ideológica em sala de aula de forma sistemática e organizada é a esquerda. Há, certamente, professores não identificados com a ideologia esquerdista que usam suas aulas para transmitir aos alunos uma visão ideologicamente contaminada – e, portanto, falsa – da realidade. Mas são franco-atiradores, não pertencem a nenhum grupo organizado.
A idéia da instrumentalização do conhecimento para fins político-ideológicos foi desenvolvida por pensadores de esquerda como Antonio Gramsci e, entre nós, Paulo Freire.
A esquerda faz isso por três motivos: (1) porque acha que é necessário para “construir um mundo melhor”; (2) porque está convencida de que só ela é capaz de construir esse mundo; e (3) porque não acredita em neutralidade científica.
Mas, afinal, existe neutralidade científica?
Veja bem: a neutralidade ou objetividade científica é um ideal a ser buscado continuamente. Sabemos que não é fácil, mas, por isso mesmo, o professor e o estudante devem se esforçar para alcançá-la.
As críticas sobre os livros e material didático publicados no site, tais como as críticas sobre o livro “Nova História Crítica”, de Mário Schmidt e ao material didático do sistema COC, não poderiam ser interpretadas também como uma propaganda ideológica e/ou doutrinação?
Como propaganda ou doutrinação ideológica, não. É possível, no entanto, que parte das críticas tenha sido ditada pelas preferências ideológicas de quem as fez. Mas isso não as desqualifica. A crítica tem direito de ser ideológica, o livro didático, não.
O que o professor pode fazer quando se depara com uma orientação ideológica em uma apostila com a qual é obrigado a trabalhar, o que acontece mais nas escolas particulares?
Ele pode e deve compensar o viés ideológico da apostila, mostrando aos estudantes que existem outras explicações razoáveis para os fatos e fenômenos estudados. Deve fazer com que os alunos percebam a insuficiência da abordagem ideológica veiculada na apostila. Deve dizer o que a apostila omite; situar historicamente fatos apresentados fora de contexto; apresentar a versão do “outro lado”, etc.
Vocês acham que a orientação predominantemente esquerdista / marxista dessas apostilas / sistemas de ensino são um fator mercadológico favorável, que ajuda a vender esse material, como material “crítico”, e por isso, bom (do ponto de vista esquerdista)?
Certamente. Quem produz essas apostilas não é bobo. Os sistemas de ensino sabem perfeitamente que a “onda” do momento é essa balela de “pensamento crítico” (coloco a expressão entre aspas, porque não me refiro, evidentemente, ao verdadeiro pensamento crítico, sem o qual não existiria conhecimento).
Você disse muito bem: o material, para ser visto como bom, precisa ser “crítico”, isto é, escancaradamente anticapitalista, genericamente antiocidental, especificamente antiamericano, levemente anti-semita, essencialmente anti-religioso, particularmente anti-cristão e francamente anticlerical. Apostila que não demoniza o mercado não vai para o mercado; apostila que não ridiculariza ou difama a burguesia não será oferecida aos filhos da burguesia.
Numa apostila do Sistema COC, por exemplo, está (ou estava) escrito que “na sociedade capitalista quase todos trabalham para gerar riquezas, mas apenas uma minoria burguesa se apropria dela” (sic). É isso o que eles chamam de “visão crítica”.
Existem cursos ou palestras do movimento Escola Sem Partido para escolas, alunos, pais, professores, e público em geral?
Por enquanto, não. Mas estamos organizando isso.
Os pais que fundaram o movimento e os que se incorporaram depois os que fazem parte do Escola Sem Partido conseguiram encontrar escolas para os seus filhos que se aproximam ou atendem aos requisitos de não-doutrinação defendidos no site?
É possível, mas não sei dizer.
O que sei é que, de um modo geral, as escolas não estão nem aí para o problema da doutrinação ideológica. Elas fingem que não sabem e, quando se deparam com alguma denúncia e não conseguem abafar – como aconteceu no caso COC, por exemplo, que, aliás, continua nos processando –, vêm com aquela conversa de que é preciso despertar a “consciência crítica” do aluno.
Por isso pensamos que, nas atuais circunstâncias, a única forma de combater eficazmente a doutrinação ideológica é conscientizar os estudantes dos direitos compreendidos na sua liberdade de aprender para que eles mesmos se defendam.
Se quiser falar sobre alguma coisa que não perguntamos, por favor, sinta-se à vontade para fazê-lo.
A militância esquerdista – professores e estudantes – tenta desqualificar o EscolasemPartido.org acusando-o de ser um site de direita. Isto é uma tremenda bobagem, mas, dentro da lógica esquerdista de que o “aparelho escolar” sempre está a serviço de alguém, faz todo sentido. Isto é: na cabeça deles, se nós somos contra aquilo que a esquerda está fazendo, só podemos estar a serviço da direita.
Creio que a relação de deveres do professor contida no “cartaz antidoutrinação” não deixa dúvida sobre a nossa imparcialidade. O ESP não é de direita. Não defendemos nenhum tópico da agenda conservadora, tradicionalista ou liberal. O site se dedica a um único assunto: doutrinação político-ideológica nas escolas. Nossa bandeira é uma só: a descontaminação e a desmonopolização ideológica das escolas.
Muito obrigado pela entrevista.
Eu é que agradeço a oportunidade.
Publicado pelo Blog Portaberta
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