por Ipojuca Pontes em 02 de junho de 2008
Resumo: As FARC contam com os generosos petrodólares do coronel Chávez, o decidido apoio dos partidos membros de Foro de São Paulo e a proteção do Itamaraty, como registrou em carta o falso padre Oliverio Medina, “embaixador” das FARC no Brasil, que disse contar com a boa solidariedade do chanceler Celso Amorim nas suas agruras revolucionárias.
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Morreu, afinal, Manuel Marulanda Velez, o “Tirofijo”, considerado “o mais velho guerrilheiro em atividade no mundo”. O Secretariado revolucionário das FARC confirmou a morte de Marulanda, de enfarte, no dia 26 de março, mas o fato é que o seu fim já tinha sido notícia pelo menos em duas outras ocasiões. A mais recente foi em 2004 quando o “El Nuevo Herald”, jornal de língua espanhola editado em Miami, deu conta de que o líder guerrilheiro teria morrido de câncer na próstata num acampamento em que vivia desde 2002. A repórter Patrícia Lara, que esteve no local da guerrilha, avaliou à época que ele não teria seis meses de vida.
O outro anúncio da morte de “Tirofijo” ocorreu no início de 1964, quando o exército colombiano, depois de bombardear o alojamento da guerrilha na “República Independente de Marquetalia”, ao sul da Colômbia, anunciou o seu primeiro falecimento.
Desta feita o líder das FARC se foi, mas não por causa de um enfarte, conforme a falsa versão da guerrilha. Sua morte teria sido ocasionada pelos intensos bombardeios detonados pelas tropas do Exército colombiano na área rural do Departamento de Meta, onde Marulanda se refugiara. [*] A falsa divulgação de que ele morreu “rodeado de familiares e membros de sua guarda pessoal” não passa de embuste e só faz sentido quando se coloca a necessidade das FARC preservar a imagem do guerrilheiro mítico – incapaz de ser batido, inapelavelmente, pelas tropas de Álvaro Uribe, o “reacionário” presidente da Colômbia.
Em fins dos anos de 1960, fiz parte da equipe de TV alemã que filmou as escaramuças das FARC-EP (“Ejército del pueblo”) numa “zona liberada” em torno do Departamento de Tolima. Foi nesta fase inicial que Manuel Marulanda, já então mancomunado com o Partido Comunista colombiano (PCC), afirmou - diante da indagação de quanto tempo duraria a guerrilha - que ela seria “secular” e que se prolongaria até a definitiva instauração da “Nueva Colombia”, começo da Pátria Grande socialista na América Latina.
Manuel Marulanda Vélez, o “Tirofijo”, como o “Che” Guevara, era um sujeito perverso. Na condição de ex-açougueiro, sua profissão de juventude, gostava de cortar a garganta dos viajantes que se insurgiam contra a cobrança de pedágios nas áreas dominadas pela guerrilha. Tipo físico do índio atarracado, de peito recurvo, voz soturna, trazia um tom de vendeta nas palavras que soltava com alguma dose de ironia. Para dizer a que veio, e intimidar a população nativa, o líder das FARC mandava fotografar as vítimas degoladas e distribuir as fotos entre os “carreteros” que trafegavam nas estradas.
O negócio deu mais que certo: em quarenta anos, cobrando pedágio, assaltando povoados, roubando gado, extorquindo proprietários, seqüestrando pessoas e, por último, explorando o narcotráfico e o contrabando de armas, “Tirofijo” transformou a aventura insurgente de familiares numa das mais poderosas organizações criminosas do mundo, que chega a integrar, na transição do século, um bem equipado exército de 17 mil guerrilheiros.
O fato concreto é que as FARC nunca estiveram sozinhas. E até hoje elas ainda se mantêm sob a guarda da “gestão revolucionária” do PC colombiano, signatário da frente ampla revolucionária comunista conduzida desde 1990 pelo Foro de São Paulo. Com efeito, a guerrilha conta com o apoio diplomático, logístico, midiático e material de dezenas de governos, partidos oficiais, entidades sindicalistas e organizações clandestinas voltados para a guerra permanente da subversão continental.
Pois, afinal de contas, ainda que por força das armas, a cantilena entoada pelas FARC é a mesma profligada pelo PT, PCdoB, Partido Comunista de Cuba, Partido Comunista da Bolívia, Movimento Bolivariano da Venezuela, União Revolucionaria da Guatemala, Partido Socialista do Uruguai e dezenas de entidades, associações e frentes marxistas: “Pelear por cambios en la tenencia de la tierra, contra el neoliberalismo y combatir siempre el Pentágono y las fuerzas del imperialismo norteamericano”.
Com a morte de Marulanda, que tem catalogado nas costas o extermínio de pelo menos 40 mil pessoas (entre elas, milhares de camponeses indefesos), o Secretariado das FARC designou o antropólogo Alfonso Cano como o seu substituto. A mídia engajada se apressou em vender o novo líder - ex-membro da Juventude Comunista e atual responsável dentro da guerrilha pela ação do Movimento Bolivariano da Nova Colômbia - como um intelectual com “inclinação para negociações de paz”. Mas o presidente Álvaro Uribe, conhecedor das trampas da organização criminosa, o tem como um “ideólogo do terrorismo”. E a Interpol, organismo internacional da polícia criminal, encetou contra ele nada menos de 47 ordens de captura, sob a acusação dos mais diversos crimes, entre eles o de terrorismo, narcotráfico, contrabando, homicídio e seqüestro.
Analistas da situação colombiana divergem quanto ao destino das FARC. Uns acham que o momento é propício à trégua e ao estabelecimento do diálogo, tendo em vista o notório enfraquecimento da guerrilha e sua incapacidade de reverter o quadro crítico. Outros, ao contrário, acreditam que a morte de Marulanda significa tão somente uma perda simbólica, que em nada vai alterar os seus objetivos de apressar a comunistização da Colômbia e de toda a América Latina.
Afinal, afirmam, as FARC contam com os generosos petrodólares do coronel Chávez, o decidido apoio dos partidos membros de Foro de São Paulo e a proteção do Itamaraty, como registrou em carta o falso padre Oliverio Medina, “embaixador” das FARC no Brasil, que disse contar com a boa solidariedade do chanceler Celso Amorim nas suas agruras revolucionárias.
De fato, denunciado pela Interpol por crimes políticos cometidos na Colômbia, Medina foi preso pela Policia Federal, em 2005, mas logo depois foi solto sob o manto protetor da nossa cúpula diplomática, que o considerou apenas “refugiado político”.
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