sábado, 7 de junho de 2008

O XIV FORO DE SÃO PAULO RASGA A SUA CARTILHA

O XIV FORO DE SÃO PAULO RASGA A SUA CARTILHA

Alejandro Peña Esclusa

Farol da Democracia Representativa

Engenheiro mecânico graduado pela Universidade Simón Bolívar. Formado pelo Instituto de Estudos Superiores de Administração (IESA) e do Instituto de Altos Estudos da Defesa Nacional (IAEDEN). É especialista no tema da subversão na América Latina. Trabalhou como assessor do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Venezuela. Foi candidato à Presidência da República da Venezuela no ano de 1998.
É consultor do FDR



Buenos Aires, 26 de maio – Durante semanas, os organizadores do XIV Encontro do Foro de São Paulo – que encerrou-se ontem em Montevidéu – elaboraram cuidadosamente uma cartilha para “relançar” o Foro com outra imagem, mais moderada, ocultando sua histórica relação com as FARC.



Na coletiva de imprensa de abertura, Valter Pomar, Secretário Executivo do Foro de São Paulo e dirigente do Partido dos Trabalhadores do Brasil, atreveu-se a mentir descaradamente dizendo que as FARC já não pertenciam a essa organização.



Entretanto, o anúncio da morte de Manuel Marulanda, codinome “Tirofijo”, caiu como uma bomba no Encontro e alguns de seus participantes mostraram seu desagrado e desconcerto. O colombiano Carlos Gaviria Días, Presidente do Polo Democrático Alternativo, do mesmo modo que a delegação da Frente Farabundo Martí de El Salvador, não quiseram crer na notícia. “Mataram Marulanda várias vezes e depois ele reaparece”, disseram.



Porém, depois da confirmação da morte de Tirofijo, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que encerrou o XIV Foro de São Paulo, mandou às favas a cartilha escrita com tanto cuidado pelos organizadores do evento.



“Quero expressar minhas condolências e minha solidariedade para com as FARC e a família do Comandante Marulanda, um lutador extraordinário que vem batalhando desde há longos anos numa luta ininterrupta que tem sua origem, suas raízes, nas profundas desigualdades que vive o povo colombiano”, afirmou Ortega. Com essas palavras, referendadas pelos aplausos dos assistentes, Ortega reconheceu o que todos já sabiam: que as FARC são – e sempre foram – parte integral do Foro de São Paulo.



Não satisfeito com isso, Ortega teve outro gesto para reafirmar o caráter terrorista e radical do Foro de São Paulo: rendeu homenagem aos ex-guerrilheiros tupamaros do Uruguai, qualificando-os de “irmãos extraordinários, lutadores incansáveis e abnegados”. Além disso, o presidente nicaragüense outorgou a Ordem Carlos Fonseca Amador – fundador da Frente Sandinista – a José Mujica, Eleuterio Fernández Huidobro e Julio Marenales, representantes do setor mais radical do partido governante Frente Ampla.



Há quase duas décadas, Eleuterio Fernández Huidobro pertence ao Conselho Editorial da revista “América Libre”, órgão de comunicação do Foro de São Paulo. Durante todos esses anos, Manuel Marulanda também fez parte do tal Conselho Editorial.



Para que não restasse nenhuma dúvida de que a cartilha original terminou no lixo, o XIV Foro de São Paulo legitimou publicamente as “distintas vias para implementar os projetos revolucionários” segundo as características de cada país, enquanto “todos estão contribuindo para o desenvolvimento, a afirmação da soberania e o progresso de nossos povos”. Ou seja, a luta armada e o terrorismo também são válidos.



A Declaração Final do XIV Foro alinha suas baterias contra o governo de Álvaro Uribe, alegando que ele “violou a soberania do Equador”, ao dar baixa em Raúl Reyes, e conclui que “a Colômbia é o principal fator de instabilidade da região”. Porém, que mais se poderia esperar dos aliados das FARC?



Como dado curioso, os do Foro de São Paulo, acostumados a organizar contra-cúpulas, tiveram a sua própria em frente às instalações do MERCOSUL, onde ocorreu o evento. Um grupo de manifestantes pediu liberdade para o povo cubano, com palavras de ordem e cartazes.



Tradução: Graça Salgueiro

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