segunda-feira, 3 de novembro de 2008

BREVE NOTA SOBRE A ELEIÇÃO NO RIO DE JANEIRO


Heitor De Paola

Não estava nos meus planos, como já disse, escrever sobre eleições no Brasil, onde as opções partidárias se resumem a uma arrumação aleatória de letras numa sopa de letrinhas. Em São Paulo ganhou a direita, mas quem leva é a esquerda, o comunista Serra! Que consegue munição para lutar contra o comunista Lula ou seu alter ego, a Dilma.&nbspEm Porto Alegre ganhou um candidato notoriamente&nbspesquerdista com os votos da direita. Pode? No Brasil pode! Em nenhum país do mundo isto seria sequer cogitado. Imagino um eleitor conservador inglês votando num cadidato trabalhista. Ou um democrata de Massachusets votando em Giuliani ou McCain.

No Rio a situação foi interessante, tão interessante que o Prefeito eleito, Eduardo Paes, de direita, perguntado sobre por que perdera para o candidato comunista, na Zona Sul onde moram os mais ricos,&nbsprespondeu: Não entedi nada!

Não entendeu porque sua visão não vai além da política tradicional já há muito ultrapassada! Naqueles tempos a intelectualidade estava dividida em esquerda e direita, muito mais para a última. Desde a revolução gramcista (*) o mundo da política não é mais o mesmo e a intelectualidade burrificou-se e se tornou acadêmica e burocrática. Os intelectuais orgânicos tomaram a frente e praticamente eliminaram os pensadores independentes das editoras, das redações e da mídia em geral e das universidades. O discurso único de esquerda só admite discussões intra-muros: esquerda contra esquerda. Um destes é o discurso da ética, da lisura e do despreendimento político. Que foi exatamente o discurso de Gabeira, velho matreiro que milita há mais de 40 anos e aprendeu bem a lição de que revolução não se faz mais com armas (de fogo) nas mãos nem com terrorismo e seqüestros: o processo revolucionário tornou-se quase que exclusivamente cultural (**).

Quem não aprendeu nada foi o 'pessoal da Zona Sul' que simbolicamente representa o beautiful people, os bem falantes que abominam os políticos tradicionais e seus 'currais eleitorais', sem perceberem que formam um curral de vaquinhas de presépio que se encanta com os discursos vazios mas apelativos para termos como ética ou uma nova forma de fazer política.

Gabeira usou na medida correta este discurso. Seu melhor momento de hipocrisia foi quando disse ao outro cadidato: a diferença entre nós é que você faz qualquer coisa para se eleger e eu não.

Enquanto o curral dos pobres é mantido à custa de promessas de emprego, asfaltamento e água encanada, o do beautiful people o é de promessas vazias de 'ética'. E&nbspnada aprenderam com o PT e seus mensalhões e mensalinhos?

Gabeira ganhou. Paes perdeu. Não pelas razões que andam falando, mas porque Paes vai assumir e terá que mostrar a que veio Gabeira cotinuará sendo a ilusão de esperança de que fosse diferente e melhor. E a esperança é a última que morre.

(Esclarecendo: no primeiro turno, depois de anos anulando o voto, votei em Paes para evitar os piores nomes, inclisive Gabeira. No segundo, devido às alianças de Paes - principalmente com Jandira Feghali, votei em branco).

(*) Nunca é demais lembrar os livros de Sérgio Augusto de Avellar Coutinho (A Revolução Gramcista no Ocidente e Cadernos da Liberdade) e de Olavo de Carvalho A Nova Era e a Revolução Cultural. Bem como o Capítulo III do meu O Eixo do Mal Latino-Americano e a Nova Ordem Mundial, também para a Escola de Frankfurt.

(**) É claro que movimentos revolucionários tradicionais, como atualmente o MST, existem paralelamente com dois propósitos: 1 - para o assalto final ao poder quando for atingido o ponto de ruptura institucional e&nbsp2 - para enganar os idiotas úteis&nbspde que a esquerda está desunida entre uma soft (paz e amor) e outra truculenta.


http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=443

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