domingo, 11 de maio de 2008

A CORROSÃO MORAL

A CORROSÃO MORAL

Farol da Democracia Representativa

Ubiratan Iorio
Doutor em Economia (EPGE/Fundação Getulio Vargas, 1984), Economista (UFRJ, 1969), Presidente-Executivo do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Fundador do FDR


Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ (2000/2003), Vice-Diretor da FCE/UERJ (1996/1999), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, Professor do Mestrado da Faculdade de Economia e Finanças do IBMEC, Professor dos Cursos Especiais (MBA) da Fundação Getulio Vargas e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Coordenador da Faculdade de Economia e Finanças do IBMEC (1995/1998), Pesquisador do IBMEC (1982/1994), Economista do IBRE/FGV (1973/1982), funcionário do Banco Central do Brasil (1966/1973).

Aqui, é um defensor da legalização das drogas acusando quem é contra de "moralista" e "obscurantista", como se a retidão de conduta – e não o consumo de entorpecentes – é que conduzisse às trevas; ali, jogadores de futebol que, ao cometerem faltas violentas, levantam os braços bradando que nada fizeram ou que, ao receberem uma entrada mais dura, mal caem no gramado, dirigem gestos acintosos ao complacente árbitro, exigindo que mostre um cartão ao adversário; lá, políticos que pensam apenas em alianças e medidas populistas que lhes angariem votos, pouco se importando com o bem comum; acolá, infindáveis matérias na mídia divulgando e incentivando subliminarmente comportamentos agressivos aos valores morais consagrados, rotulados rutilantemente de "conservadorismo"; adiante, estímulos à ambição desmedida, ao "subir na vida a qualquer preço", até mesmo pisando, se for preciso, na própria mãe; além, telenovelas que, a pretexto de retratarem a "realidade", agridem a família e espargem tudo o que existe de errado como se desacertado não fosse; mais além, empresários que só visam lucrar, sem darem qualquer valor à dimensão humana de seus funcionários; algures, na estúpida burocracia, o mercado da venda de facilidades para burlar dificuldades; alhures, em muitos órgãos de imprensa, o sensacionalismo puro, a busca desenfreada por maior audiência, como no caso das inúmeras reportagens sobre o monstruoso assassinato da inocente menina de São Paulo.

Precisamos entender que esses e tantos outros fatos semelhantes estão correlacionados, porque expressam, explícita e gritantemente, a corrosão moral e ética, sob a complacência de uma cultura já inteiramente envenenada pela praga do relativismo moral, em que o certo deixou de ser certo e o errado de ser errado, pois "certo" e "errado" teriam passado a depender, de acordo com os relativistas, das circunstâncias particulares de cada momento e de cada lugar. Não importam os meios, se são bons ou maus; só valem os fins, sejam quais forem...

O que preocupa é que dezenas de milhões de pessoas, esquecendo-se que a passividade e a omissão irracionais de seu comportamento colidem com o próprio dever de assumir sua dignidade humana, deixam-se levar, como boiadas ao som do berrante do tocador, por esse massacre contra verdades morais e éticas que sempre foram básicas nas relações sociais e na própria civilização, renegando, por indesculpável vergonha ou por uma pretensa "modernidade", valores insubstituíveis que lhes foram transmitidos em sucessivas gerações.

Não é à toa nem por acaso que em recente consulta promovida na internet maioria expressiva dos usuários revelou estar torcendo para que o vilão da principal novela global se dê bem no final da trama. A que ponto se chegou! Torcer pelo bandido... Aliás, será mesmo um bandido? Não duvido até que os relativistas me acusem de "preconceituoso", já que não me dei ao trabalho de argüir que motivos o levaram a agir como um canalha. Talvez, quem sabe, tenha sido um "excluído" e, logo, seja vítima... Pois não há organizações que se dedicam a defender "direitos humanos" de criminosos, sem dizerem uma só palavra em favor dos que prejudicaram?

Quando o sistema moral apodrece, putrefaz-se inescapavelmente a sociedade, espraiando corrupção pela política, pela economia, pelas leis, pelos hábitos e formas de conduta, pelas instituições, enfim. O fenômeno não é brasileiro, é mundial. E não é novo, porque os seres humanos sempre foram imperfeitos, como qualquer consulta - mesmo superficial - à História revela com clareza. Mas ocorre que em outros tempos, de um lado, a velocidade de propagação das informações era infinitamente menor do que hoje e, de outro, não existia uma rede mundial, integrada por Ongs, "entidades", "movimentos", empresas de comunicação, organismos internacionais, partidos políticos, intelectuais e governos, com o intuito de desestabilizar moralmente a sociedade, tornando-a manipulável a seus interesses econômicos e de poder.

Os exemplos citados no primeiro parágrafo não são obras do acaso. Guardam ligação entre si, por serem meros reflexos, subliminarmente produzidos por essa rede. Talvez como em nenhum outro período da história da civilização torna-se imperioso separar o certo do errado, tarefa que cabe às pessoas conscientes e às famílias, com base na tradição ocidental.


Publicado no Jornal do Brasil em 12/05/08

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