terça-feira, 10 de junho de 2008

Lula, o compadrito

por Ipojuca Pontes em 09 de junho de 2008

Resumo: Nos seus discursos descolados do senso da realidade, o nosso “compadrito” alterna esquemas binários de tagarelice: se a coisa vai mal, ele se mostra surpreso e “transfere” a responsabilidade do fracasso (ou escândalo) para bodes-expiatórios; se a coisa soa alvissareira, ele se desmancha em auto-elogios dignos de um pavão inflamado.

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O presidente-sindicalista Lula da Silva tem a psicologia do “compadrito” argentino, a versão mais acabada do antigo malandro da Lapa carioca e do “apache” do bas-fond da Pigalle da “belle-époque”, em Paris de França. Não que ele tenha a coragem do “compadrito” ou saiba dançar, com “el lengue” no pescoço e o punhal na cinta, a complicada milonga portenha. Ou que carregue o cabelo “pomadée” no melhor estilo Rodolfo Valentino. Não, de maneira alguma: está na cara que Lula é o biótipo do cabeça-chata nordestino, infenso, portanto, as minudências de praxe.

Mas, tal como a mítica figura portenha decantada em prosa e verso por Jorge Luís Borges, o ex-operário gosta de levar a vida na maciota, com boas roupas, viagens, comidas e bebidas caras, sem meter nunca a mão no próprio bolso – tanto ele como, de resto, os seus apaniguados portadores de cartões corporativos. Como já escrevi em outras ocasiões, sua lógica é a do sabido que quer levar vantagem em tudo, escorado na psicologia de quem conhece por instinto o mundo da malandragem e, mais ainda, o universo daquelas que, vivendo nele, como dizia o outro, sem pudor - “gostam de apanhar”. Afinal, para alguma coisa a escola do sindicalismo caboclo haveria de servir.

Sua arma principal enquanto vivente matraqueador, não demanda muito esforço: é a loquacidade irrefletida, o mais das vezes esquizofrênica, transbordante de ameaças e promessas vãs. Nos seus discursos descolados do senso da realidade, o nosso “compadrito”, dependendo dos ventos, alterna esquemas binários de tagarelice: se a coisa vai mal, por exemplo, ele se mostra surpreso e “transfere” a responsabilidade do fracasso (ou escândalo) para velhos bodes-expiatórios, de preferência países estrangeiros ou os recalcitrantes “companheiros de viagem”; se a coisa soa alvissareira, ainda que hipotética, ele se desmancha em auto-elogios dignos de um pavão inflamado. Nas duas vertentes, o seu menoscabo pela inteligência alheia descamba para o completo deboche.

Para se dar bem, o presidente-sindicalista ultrapassa qualquer limite da boa ética. Recentemente, em meio ao incessante bombardeio da população esclarecida contra a intenção explicita de se cumprir um terceiro mandato, o nosso “compadrito” fez imprimir no Diário Oficial da União (DOU) a seguinte medida: “O Presidente da República, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei 7.474, de 8 de maio de 1986, Decreta:

Art. 1° Findo o mandato do Presidente da República, quem o houver exercido, em caráter permanente, terá direito: I) aos serviços de quatro servidores para atividades de confiança e apoio pessoal; II) a dois veículos oficiais, com respectivos motoristas e; ao assessoramento de dois servidores ocupantes de cargo em comissão do Grupo-Direção e Assessoramentos Superiores – DAS, nível 5.

Art. 2º Os servidores e motoristas a que se refere o art. 1º serão de livre escolha do ex-presidente da República e nomeados para cargo em comissão destinado ao apoio a ex-Presidentes da República, integrante do quadro dos cargos em comissão e das funções gratificadas da Casa Civil da Presidência da República.

Art. 3º Para atendimento do disposto no Art. 1º, a Secretaria de Administração da Casa Civil da Presidência da República poderá dispor, para cada ex-Presidente, de até oito cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramentos Superiores – DAS, sendo dois DAS 102.4, dois DAS 102.2 e dois DAS 102.1
”.

O socialista Lula é hoje um homem milionário, com polpudas contas bancárias e imóveis de luxo (cobertura), sem contar com as posses de Lulinha, o filho predileto transformado, nos últimos cinco anos, em riquíssimo empresário no campo da informática. Além do mais, o ex-sindicalista é, segundo os institutos de pesquisas, um sujeito bem-amado, gozando de boa popularidade entre 60% dos eleitores pátrios. Por que diabo ainda vai exigir dos cofres da Viúva, depois de sair do governo, o pagamento de oito funcionários de “confiança” para “apoio pessoal”, incluindo aí veículos oficiais, com motorista e, na certa, combustível e manutenção?

Não resta dúvida, o decreto pode ser legal, mas é imoral, sobretudo quando se sabe que a medida é do arbítrio do próprio Executivo. Mas nas contas públicas não há milagre. Para suprir tal “necessidade”, entre tantas outras do mesmo quilate, as empresas nacionais estão pagando 74 tipos de tributos, entre contribuições (obrigatórias), adicionais, fundos, programas, impostos e taxas – sendo que o último tributo, uma taxa de fiscalização e controle da Previdência Complementar, se configura como um redundante artifício bolado para aliviar o rombo nas contas do setor, que se aproxima de R$ 1 trilhão.

Os empresários não são as únicas vítimas do feroz sistema fiscal do governo petista. Trabalhadores de salário mínimo (ou não), funcionários públicos e privados, comerciantes, aposentados, homens, mulheres e subempregados em geral, em suma, as forças produtivas da nação estão agora ameaçadas de pagar a “nova” Contribuição Social para a Saúde (CSS), revival maroto da antiga CPMF, anteriormente repudiada em gênero, número e grau pelo Senado Federal e a sociedade brasileira.

Para aprovar a famigerada “contribuição”, a ser votada na próxima terça-feira, dia 10, Lula está liberando cerca de R$ 498 milhões (dados da Siafi), entre os parlamentares aliados do governo e até da oposição, com a promessa aliciadora de liberar mais R$ 3 bilhões, quando da vigência do projeto que regulamenta a Emenda 29, que trata de recursos públicos (no fundo, privados) para a saúde.

Mas, diante desta violência, pergunta-se: e o povo brasileiro? Bem, respondo: o povo brasileiro é como a mulher do “compadrito”, ou melhor, do malandro: gosta de apanhar.

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